sábado, 26 de janeiro de 2008

Acepção filosófica do amor

Para a filosofia, amar esta para além das questões de aparência. O amar para a filosofia é a busca pelo que nos falta. Seria uma tentativa de acabar com a carência da alma. É algo que vai muito além da simplória visão romântica que conhecemos que é a idéia de posse, e sim, uma necessidade da presença do outro, como uma forma de complementação, porém sozinho, o mundo fica sem sentido.

Citando Platão (427-347 a.c ) em o Banquete, o filosofo diz que o amor é uma busca pelo conhecimento de uma maneira sensata sem cair no desequilíbrio. Pitágoras afirmava que o perigo estava justamente na desmedida e no desequilíbrio. Essa desarmonia se processa quanto a pessoa gosta muito mais do objeto de desejo do que do próprio desejar. Quando nos dedicamos a um relacionamento com a idéia de posse, ele esta fadado à falência. Dessa forma, o individuo não ama amar o outro, ela ama "coisa outro". Se caracterizando ausência de amor, pois amor não é posse.

Para a filosofia seria uma busca pelo que nos falta, emocionalmente amar é buscar no outro, um alguém que supra nossas carências afetivas e espirituais. "Para Eriximaco (personagem do livro o Banquete) ama quem tenta equilibrar-se no outro, não importando o sexo". Tudo seria legítimo, pois o escopo seria encontrar a cara metade independente do sexo. Mais não podemos esquecer que na mitologia grega não existia homem ou mulher, e sim, o andrógino que era um ser humano completo. "O andrógino assim como o homem contemporâneo também tinha a vontade de se Deus, e esse fator irritou os deuses, que resolveu separar o andrógino em homem e mulher, seres que pelo intermédio do amor poderia ser unidos novamente".

Também pode ser entendido na filosofia como uma mistura de perfeição e imperfeição. Quem ama buscar o outro para tornar-se perfeito, mesmo sabendo que nunca será perfeito. O dia que for perfeito cai na tolice, na posse, e dessa forma, não é mais o amor, e sim a paixão. Assim compreende-se que o verdadeiro amor não é o carnal, mais sim a interminável busca pela cara metade ou se preferir, uma busca pela perfeição.

Farei algumas considerações a cerca da maneira erronia em que o Amor Platônico é difundido atualmente. Para muitos, o amor platônico é aquela amor não alcançado, que fica apenas na vontade, longe do objeto de desejo, uma verdadeira quimera. Mas na verdade, na visão de Platão, o verdadeiro é o amor da alma pelo conhecimento e pelo lado espiritual da vida relacionado a uma lembrança. Segundo o pensador, o verdadeiro amor é um impulso de vida pela sabedoria e não necessariamente por uma pessoa. Até mesmo quando falamos em carência, somos mal compreendidos porque vem logo a mente a idéia de: alguém chorando desesperado, mais na verdade é apenas um impulso de alguém que busca. Então, "o amor platônico é aquele não se fixa no transitório, no corpo, na matéria. Mais sim, o que supera tudo isso". Assim que se fixa no corpo, confundimos o amor com paixão. Só que o amor é está na eternidade enquanto a paixão é totalmente passageira. A idéia de que o amor platônico é totalmente irrealizável, está equivocada; ele apenas pensa em algo que possa superar o mundo terreno e atingir o plano das idéias.

Outro erro difundido é encarar o amor como um sentimento que fragiliza apenas porque a pessoa que ama fica "boba", e sofre por alguém. Na realidade o verdadeiro amor é desenvolvido para que as pessoas vivam de uma maneira melhor com justiça e amizade verdadeira. É um sentimento possível somente para os fortes. Somente indivíduos com caráter formado, equilibrado serão os que realmente amam no sentido filosófico.

Na filosofia o amor é a busca e somente ama quem carece. Para mim, o amor é um sentimento em relação à vida, de enxergar valores nas coisas além da aparência. Até por que, a beleza é uma só e vale para todas as coisas. A grande questão é que vivemos em um mundo que criam varias necessidades artificiais, as quais nos perturbam diariamente, por isso que os relacionamentos de hoje em dia são tão difíceis; as pessoas não compartilham ideais, sonhos, pensamentos. É algo preso somente ao carnal. E não a alma que é uma esfera muito importante na constituição do nosso ser. Contudo, podemos concluir que amar não é inato. Ninguém nasce com a capacidade intensa e total de amar. Amar é um processo gradativo. Se em cada momento da vida desejo coisas diferentes, com intensidades diferentes, então o amor passar a ser um processo gradual, pois ninguém nasce acabado e pronto para amar. É uma busca pelo que falta e que podem ser preenchidas pelas mais diferentes formas.

Estamos impregnados pela idéia de amor como posse, quantas pessoa vemos dizer que não quer mais amar, pelos mais diversos motivos, e isso têm causado uma grande confusão na cabeça das pessoas. Aleister Crowley profeticamente citava o seguinte "O Homem tem o direito de amar como ele quiser: tomai vossa fartura e vontade de amor como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes AL I, 51". Evidenciando a liberdade. Fala-se muito sobre o amor, só que de fato, pouco se faz. Em nome do amor, se fazem crimes passionais, barbárie, disputas. Mas não se faz o principal que é amar. Falam muito em traição, como se amar estive intimamente ligado a "segredos de estado". Esquecem que a dita confiança que tanto exigem, é algo que se conquista, não algo que se exige e imponha. Amar é uma condição humana inerente. Mas tolher o amor é algo tão grave como um crime passional. Amar alguém não está necessariamente ligado à sexualidade ou ao desejo, e mesmo assim, você pode amar seu parceiro, e amar outra pessoa. Desde que isso não cause sofrimento a ninguém.

O que não podemos nunca esquecer, é que fizemos uma escolha pelo parceiro definitivo. Mas definitivo não quer dizer necessariamente o último nem o único. Essa é a grande confusão que existe hoje. Uma questão delicadíssima. Há liberdade e amor. Porque quem ama, sabe que nunca perderá. Pense quantos sofrem por não entender algo tão simples. Quantos confundem amor com posse, e acabam recusando esse amor por não saber dividi-lo, ou melhor, multiplicá-lo. Não podemos esquecer que devemos estar mais prontos a amar que a odiar. As pessoas precisam descobrir a liberdade. Precisam saber que amam, mas que não são donos.

Um abraço,

Jr

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