quinta-feira, 6 de maio de 2010

Em Tempos de eleição...

Amigos, segue o vídeo ideal para qlqr um v antes de votar.




Isso ajuda ou atrapalha? Desde de cedo aprendi, sempre q me deparo com alguns acontecimentos, a fazer as seguintes perguntas: Qm ganha com isso? Isso interessa a qm? Princípios interessantes que incorporei do direito...

Salipi

Você é realmente você mesmo?





Você é realmente você mesmo?



OSHO - The Hidden Splendor - Cap. 15
Tradução: Sw. Bodhi Champak





Querido Osho,
Quando estou só e leio seus livros ou ouço suas fitas, eu me sinto imensamente feliz, choro e danço sozinho. Mas eu não consigo expressar meus sentimentos na presença dos outros, embora eu queira muito fazer isso. Por favor, diga-me o que fazer.
"Kishor Bharti, este é um dos problemas humanos básicos, porque toda a nossa educação cria uma divisão na nossa própria mente. Você tem que mostrar uma face para a sociedade, para a multidão, para o mundo – ela não precisa ser a sua face verdadeira; na verdade ela não deve ser a sua face verdadeira. Você tem que mostrar a face que as pessoas gostam, que as pessoas apreciam, que seja aceitável para elas – para suas ideologias e suas tradições – e a sua face original, você tem que guardá-la para si mesmo.
Essa divisão o torna muito desconectado porque a maior parte do tempo você está na multidão, encontrando pessoas, se relacionando com pessoas – muito raramente você está só. Naturalmente, as máscaras se tornam muito mais parte de você do que a sua própria natureza.
E a sociedade cria um medo em todo mundo: o medo da rejeição, o medo de que alguém possa rir de você, o medo de perder a respeitabilidade, o medo do que as pessoas dirão. Você tem que se ajustar a todo tipo de pessoas cegas e inconscientes. Até agora, esta tem sido a nossa tradição básica em todo o mundo: não se permite a ninguém ser ele próprio. E é por causa disso que o problema surge – este é um problema de todo mundo.
Você está perguntando, 'Quando estou só e leio seus livros ou ouço suas fitas, eu me sinto imensamente feliz, choro e danço sozinho. Mas eu não consigo expressar meus sentimentos na presença dos outros, embora eu queira muito fazer isso. Por favor, diga-me o que fazer'
No momento em que o outro está na sua frente, você está pouco preocupado consigo mesmo; você está mais preocupado é com a opinião que ele terá a seu respeito. Quando você está só no seu banheiro, você se torna quase igual a uma criança – algumas vezes você faz caretas diante do espelho. Mas se você de repente percebe que está sendo observado pelo buraco da fechadura, até mesmo por uma criancinha, imediatamente você muda: você volta novamente ao seu velho e comum ego – sério, sóbrio, como as pessoas esperam que você seja.
E a coisa mais incrível é que você tem medo daquelas pessoas e elas têm medo de você – todo mundo tem medo de todo mundo. Não se permite a ninguém seus sentimentos, sua realidade, sua autenticidade – mas todo mundo quer isso, porque é um ato muito suicida continuar reprimindo a sua face original.
Você não está vivendo; ao contrário, você está simplesmente representando. E porque todo mundo está observando, os seus prolongados séculos de inconsciência o puxam para trás: não se expresse, não saia das máscaras de sua personalidade. Todo mundo está se escondendo atrás de alguma coisa falsa – isso machuca.
Ser desonesto e hipócrita consigo mesmo é a pior punição que você pode se dar.
E você não vai fazer algo prejudicial a quem quer que seja – você simplesmente quer chorar e suas lágrimas serão de alegria; você quer dançar e isto não é pecado, nem é crime. Você simplesmente quer compartilhar a sua felicidade – você está sendo generoso. Apesar disso, o medo é de que as pessoas possam não aceitar a sua felicidade. Alguém pode dizer que ela é falsa, que você está apenas representando, podem dizer que você está hipnotizado.
Uma coisa estranha é que se você está miserável, ninguém lhe diz coisa alguma, você está perfeitamente encaixado. Mas onde todo mundo é miserável, você fica fora de sintonia com a multidão se, de repente, começar a dançar.
Você quer expressar a sua alegria, mas não é corajoso o suficiente para estar só... Mas, na verdade, quem vai se importar? No máximo, talvez as pessoas pensem que você está um pouco maluco, e uma vez que elas aceitem que você está um pouco maluco, então não há do que ter medo.
O que há de errado em ser chamado de maluco? O mundo tem conhecido tantas pessoas malucas bonitas... Na verdade, todas as grandes pessoas no mundo têm sido um pouco malucas – malucas aos olhos da multidão.
Elas expressaram suas maluquices porque elas não eram miseráveis, eles não estavam na ansiedade, não tinham medo da morte, não se preocupavam com trivialidades. Elas estavam vivendo cada momento com totalidade e intensidade, e por causa dessa totalidade e intensidade, suas vidas se tornaram lindas flores – cheias de fragrância, amor, vida e riso.
Mas isto certamente machuca milhões de pessoas que estão ao seu redor. Elas não podem aceitar a idéia de que você alcançou alguma coisa que elas perderam. Elas tentarão de toda maneira tornar você miserável, para destruir a sua dança, para tirar a sua alegria – de modo que você possa voltar novamente ao rebanho.
É preciso reunir coragem. E se as pessoas disserem que você está maluco, curta a idéia. Diga a elas, 'Vocês estão certos; neste mundo somente as pessoas malucas podem ser felizes e alegres. Eu escolhi a loucura com alegria, com felicidade, com dança; vocês têm escolhido a sanidade com miséria, angústia e inferno – nossas escolhas são diferentes. Seja são e permaneça miserável; mas deixe-me só na minha loucura. Não se sintam ofendidos; eu não estou me sentindo ofendido por vocês – tantas pessoas sãs no mundo e eu não estou me sentindo ofendido.'
Isto é apenas uma questão de pouco tempo. Uma vez que eles o aceitem como sendo maluco, logo deixarão de se preocupar com você; então você poderá entrar na luz completa com seu ser original – você pode abandonar todas as suas falsidades.
Eu era um estudante da universidade... Eu não escolhi a universidade por ela em si, mas por causa de um professor que era muito vivo, muito cheio de amor e sem medo do mundo. Eu escolhi o professor e ele estava naquela universidade. Ele convidou-me a entrar na universidade em que ele lecionava... E ele disse que facilitaria tudo que fosse possível para mim.
Ele me amava imensamente porque todos os anos eu costumava ir àquela universidade para uma competição de debates entre universidades; por quatro anos consecutivos eu fui o vencedor. No primeiro ano ele era um dos juízes. Ele chamou-me de lado e disse, 'Eu não posso dizer isto para as outras pessoas, mas eu também não consigo guardar só para mim. Eu só posso dizer isto para você: eu lhe dei a pontuação de noventa e nove por cento no debate, e eu sinto muito porque eu queria ter-lhe dado cem por cento. Mas, eu não tive coragem, porque as pessoas poderiam pensar que eu estava comprometido, que eu estava favorecendo. Eu fiquei com medo. Mas, perdoe-me por ter tirado um por cento da pontuação que era sua.'
Todo ano ele era um dos juízes e no quarto ano, quando eu me graduei, ele me convidou para entrar na universidade para minha pós-graduação. Eu lhe disse. ' Eu estou vindo aqui apenas por sua causa.'
No primeiro dia ele levou-me ao vice-reitor e no caminho me disse, 'Não entre em qualquer discussão – porque este homem, o velho vice-reitor, é muito teimoso e é preciso ser muito diplomático com ele.'
Eu disse, 'Você pode ser diplomático com ele, eu simplesmente vou ser eu mesmo.'
Ele disse, 'O que você quer dizer?'
Eu disse, 'Ser diplomático significa ser uma outra pessoa, diplomacia é um outro nome para hipocrisia. Seja você diplomático – eu simplesmente serei eu mesmo. E o pior que pode acontecer será, no máximo, ele não me garantir o dinheiro para os dois anos de estudo, e também pode não me garantir outras facilidades - mas só por tais facilidades, eu não posso ser desonesto comigo mesmo.'
Ele disse, 'Pelo menos você pode permanecer em silêncio? Não dizer coisa alguma? Eu conversarei com ele no seu lugar.'
Eu disse, 'Eu não posso prometer, pois se ele disser alguma coisa estúpida, eu não vou resistir à tentação de lhe dizer que ele é estúpido.'
Ele disse, 'Eu nunca tinha notado que você é uma pessoa tão difícil.'
Eu disse, 'É bom saber desde o início. Este é o primeiro dia; ainda há tempo: você pode simplesmente me dizer e eu vou embora.'
'Não,' ele disse, 'vamos tentar.' Ele levou-me ao vice-reitor.
Eu sempre vivi do meu próprio jeito, e o vice-reitor tinha sido professor em Oxford, viveu quase toda a sua vida na Inglaterra e quase se tornou um verdadeiro inglês. Ele disse algo a respeito da minha barba, que eu estava deixando crescer. 'Por que você não faz a sua barba?' Meu professor ficou com medo de que este fosse o começo do fim.
Eu disse, 'Você está formulando uma pergunta errada; na verdade eu deveria lhe perguntar porque você faz a sua barba – porque eu não estou fazendo a minha crescer; ela cresce por si mesma. A sua pergunta é sem sentido – Você poderia me perguntar porque eu não cortei os meus dedos, ou perguntar alguma outra coisa. É natural que um homem deva ter a sua barba, você está sendo antinatural. Você tem que me responder – por que você faz a sua barba?'
Meu pobre professor, que estava sentado ao meu lado, começou a me cutucar com o cotovelo. Eu tive que lhe dizer, 'Pare de me cutucar. Não me interessam todas as facilidades para as quais você me trouxe aqui diante do vice-reitor neste momento. Minha única preocupação é que ele deve aceitar que formulou uma pergunta errada.'
Por um momento, fez-se um grande silêncio e o velho homem disse, 'Na verdade, você está logicamente correto. E neste momento eu não tenho resposta alguma, porque ninguém jamais questionou isso em minha vida. – eu nunca pensei a respeito.'
Eu lhe disse, 'Esta é a sua barba e você a tem cortado e se barbeado talvez por cinqüenta anos, sem mesmo pensar sobre o que estava fazendo.' Então eu disse, 'OK, você pode ter o seu tempo. Eu virei aqui todos os dias, às onze horas, quando a secretaria abre; você poderá me encontrar em frente à secretaria. Você tem que encontrar uma resposta.'
Mas meu professor disse, 'Nós não viemos aqui para discutir sobre barba! A questão aqui é o seu estudo complementar, a sua pós-graduação e ele é o homem que pode decidir'.
Eu disse, 'Eu não estou preocupado com isso. Neste presente momento, a minha única preocupação é fazê-lo perceber que ele viveu uma vida inconsciente.'
O velho homem disse, 'Da barba você chegou a 'uma vida inconsciente'? Ele perguntou ao meu professor, 'Quais são as exigências? Eu vou lhe garantir uma escolaridade por dois anos.' Hospedagem gratuita, alimentação gratuita, ele assinou tudo e disse, 'Só não fique parado diante da minha porta todos os dias! Se você precisar de alguma coisa simplesmente venha e me diga, eu prometo que não vou lhe perguntar nada – foi uma falha minha.'
Então eu disse, 'Está decidido? Uma vez que você me formulou uma pergunta, aquilo se tornou a minha prioridade para aquele momento, qualquer coisa que eu tiver que sacrificar, eu sacrificarei.'
Ele disse, 'Eu prometo e o seu professor é testemunha.' Mas era difícil para ele – e seria difícil para qualquer um, porque eu costumava usar um robe sem botão algum, de modo que meu peito ficava exposto... E na vez seguinte, eu fui até ele porque eu queria permissão para levar tantos livros quanto eu quisesse da biblioteca para a minha sala, e a regra que era apenas um livro de cada vez não deveria ser aplicada a mim.
Ele disse, 'Nós podemos conversar a respeito disso, mas onde estão os seus botões?'
Eu disse, 'Você está procurando problemas; você se esqueceu de sua promessa. Na verdade, eu deveria perguntar novamente, por que num país quente como a Índia - e nós estamos no verão - você está transpirando e ainda está usando essa gola fechada e esse sobretudo? Eu não uso botões porque quero que meu peito receba a brisa fresca. Isto é algo errado?'
Ele disse, 'Isto não é errado.'
Eu disse, 'Algo imoral? Algo contra as regras da universidade?Por que você deveria se preocupar com isso? O peito é meu e eu quero que ele receba brisa, o tanto que for possível.
Ele disse, 'Eu esqueci minha promessa. Você tem a permissão para levar quantos livros queira. Eu nem mesmo vou perguntar porque você quer tantos livros, pois eu não quero entrar em nenhuma discussão. Uma coisa está decidida: é melhor não discutir com você.'
A primeira reunião em que eu compareci, na qual ele iria falar, era no aniversário de Goutama Buda. Ele era um grande orador e também um bom ator. Quando ele estava falando sobre Goutama Buda, as lágrimas rolaram de seus olhos e ele disse, 'Eu sempre senti que se eu vivesse no tempo de Goutama Buda, eu teria ido sentar-me aos seus pés para aprender a arte de alcançar mais consciência, de se tornar iluminado.'
Eu estava sentado no meio e me levantei. Quando me viu de pé, ele disse, 'Eu disse algo errado?'
Eu disse, 'Você não apenas disse algo errado, você está se comportando muito falsamente. Pelo menos diante de seus alunos você não deveria faltar com a sinceridade. O que você disse não tem significado para você, as suas lágrimas são falsas.'
Todos os professores da universidade estavam presentes assim como toda a comunidade de alunos. Todos ficaram chocados por eu ter dito ao vice-reitor, 'Você faltou com a sinceridade.'
Eu disse, 'Você já ouviu o nome Ramana Maharshi?'
Ele disse, 'Sim, eu já ouvi.'
'Você foi alguma vez sentar-se aos seus pés? – porque ele é do mesmo calibre e da mesma consciência que Goutama Buda. E eu posso dizer com autoridade que mesmo no tempo de Goutama Buda você não iria até ele. Este século também tem pessoas iluminadas. Você tem que retirar suas palavras.'
As pessoas costumavam achar que ele era uma pessoa muito teimosa... Mas talvez ele nunca tenha encontrado alguém tão autenticamente sincero que pudesse trazer ao público a sua face original. Ele chorou, suas lágrimas rolaram, e disse, 'Talvez você esteja certo – eu não teria ido. Isto foi apenas uma retórica e nada mais; foram palavras sem significado. Em toda esta reunião talvez você seja a única pessoa que está ouvindo – não apenas as palavras, mas também o significado por trás delas.
'Eu gostaria que você jantasse comigo hoje à noite, porque eu gostaria de discutir um pouco mais. Eu nunca encontrei alguém em toda a minha vida que trouxesse a minha face original diante da multidão. E algo é muito estranho – eu não fiquei bravo com você, eu simplesmente sinto uma tristeza profunda por mim mesmo. Por que eu não consigo ser verdadeiro? Jamais alguém mostrou isso a mim.'
Todas as pessoas no mundo querem ser verdadeiras, pois só por serem verdadeiras, isso já lhes traz muita alegria e uma abundância de felicidade. Por que alguém deveria ser falso?
Você precisa ter coragem para chegar a um insight um pouco mais profundo: Por que você tem medo? O que o mundo pode fazer com você? As pessoas podem rir de você; isso fará bem para elas – rir é sempre medicinal, é saudável. As pessoas podem pensar que você é louco... Você não vai ficar louco só porque elas pensam que você está louco.
E se você é autêntico quanto à sua alegria, suas lágrimas, sua dança – mais cedo ou mais tarde aparecerão pessoas que compreenderão você, que poderão começar a se juntar à sua caravana. Eu mesmo comecei sozinho no caminho, e depois as pessoas foram chegando e isso se tornou uma caravana do tamanho do mundo. E eu não convidei ninguém; eu apenas fazia aquilo que sentia que estava vindo de meu coração.
A minha responsabilidade é com o meu coração, não com as outras pessoas no mundo. Assim, a sua responsabilidade é apenas com o seu próprio ser. Não vá contra ele, porque ir contra ele é cometer suicídio, é destruir a si próprio. E qual é o ganho? Mesmo se as pessoas lhe derem respeito e acharem que você é sóbrio, respeitável, honorável, essas coisas não irão nutrir o seu ser. Elas não irão lhe dar qualquer insight a mais sobre a vida e sua imensa beleza.
E, além disso, todo mundo está tão preocupado com seus próprios problemas, quem irá se preocupar se você está rindo e dançando? Quem tem tempo para isto? É apenas a sua mente que está pensando que todo o mundo está pensando a seu respeito. A minha própria experiência é: todo mundo está muito cheio, muito preocupado com a correria de pensamentos sobre si mesmo, sua vida, seus problemas. Você acha que alguém tem tempo até mesmo para olhar para você ou pensar a seu respeito?
Um médico judeu para outro colega: 'Ao longo de todo o dia, eu escuto histórias de dor e sofrimento: 'Doutor, minhas costas... Doutor, meu estômago...Doutor, minha esposa.' Eu lhe digo que isso é terrível. Diga-me, Sam, como você consegue aparentar serenidade depois de um dia escutando os problemas do mundo?'
O segundo médico: 'Quem escuta?'
Você não deve se preocupar, de jeito algum. Todos estão preocupados com seu próprio mundo, eles não têm tempo nem energia para se preocupar com você. E mesmo se eles tiverem alguma opinião, isso é problema deles. Você está sozinho no mundo: sozinho você veio ao mundo, sozinho está aqui e sozinho deixará este mundo. Todas as opiniões deles ficarão para trás; somente os seus sentimentos originais, as suas experiências autênticas irão com você, mesmo depois da morte.
Nem mesmo a morte poderá lhe tirar a dança, as suas lágrimas de alegria, a sua pureza na solitude, o seu silêncio, a sua serenidade, o seu êxtase. Aquilo que a morte não pode tirar de você é o único tesouro verdadeiro; e aquilo que pode ser tirado pelas outras pessoas não é um tesouro, é apenas tolice.
Quantos milhões de pessoas viveram antes de você neste planeta? Você nem mesmo sabe o nome delas; se elas viveram ou não, não faz qualquer diferença. Existiram santos e pecadores, existiram pessoas muito respeitáveis e todo tipo de excêntricos e malucos, mas todos eles desapareceram – nem mesmo um rastro permaneceu sobre a terra.
A sua única preocupação deve ser em cuidar e proteger aquelas qualidades que você pode levar consigo quando a morte destruir o seu corpo e a sua mente, porque essas qualidades serão as suas únicas companhias. Elas são os únicos valores verdadeiros e as pessoas que as alcança – somente elas - vivem; as outras fingem que vivem.
Numa noite escura, a KGB bateu na porta do Yussel Finkelstein. Yussel abriu a porta. O homem da KGB bradou, 'O Yussel Finkelstein vive aqui?'
'Não,' respondeu Yussel, de pé com seu pijama esfarrapado.
'Não? Então qual é o seu nome?'
'Yussel Finkelstein.' O homem da KGB jogou-o ao chão e disse, 'Você não disse que não vivia aqui?'
Yussel responde, 'E você chama isso vida?'
Só viver nem sempre é viver. Olhe para a sua vida. Você pode dizer que ela é uma benção? Você pode dizer que ela é um presente da existência? Você gostaria que essa vida lhe fosse dada repetidas vezes? Ela está tão vazia. Por causa de seu vazio, as suas preces são vazias. Você não consegue preencher suas preces com gratidão. Gratidão, por que? Você nada mais está fazendo senão representando papéis em uma novela, você não está sendo você mesmo.
Eu me lembro... Uma mulher jovem e muito bonita foi ver o grande pintor Picasso. E lá ela viu uma fotografia de Picasso pendurada na parede. Ela lhe perguntou, 'É sua a fotografia? Aquele é você?'
Picasso disse, 'Não.'
A mulher disse, 'Estranho. Parece exatamente como você. Você tem um irmão gêmeo? Ele é totalmente igual.'
Picasso disse, 'Ele pode ser como eu, mas ele não está vivo. E se ele fosse eu, já teria saltado da moldura para lhe dar um beijo. Certamente não sou eu.'
Você é realmente você mesmo? Ou está apenas fingindo ser alguém que a multidão ao seu redor queria que você fosse?
Para mim, um buscador da verdade deveria começar por abandonar tudo o que é falso nele, porque o falso não pode buscar a verdade. O falso é a barreira entre você e a verdade. Se tudo o que é falso for abandonado, você não precisa buscar pela verdade – a verdade virá até você. Na verdade, quando eu digo, 'A verdade virá até você', isto são apenas palavras. Quando tudo o que é falso é abandonado, você é a verdade.
Nada vem e nada vai.
Não existe jornada.

Fofocas Marxistas....


Fofoca existem em todo meio...


“Exame da conduta de Marx, à luz de dados biográficos reais e longe da imagem mítica partidariamente cultivada, na maneira como se comportava com amigos e familiares e, em especial, nos métodos que empregava no confronto com adversários para impor a doutrina comunista e sua ética de resultados.
A primeira coisa a ressaltar em Marx diz respeito ao caráter impositivo. Marx não pedia, mandava. Não se desculpava, justificava-se. Não dialogava, impunha ou aliciava. Um dos poucos homens com quem conviveu sem brigar, o poeta Heinrich Heine, escreveu que “Marx se julga um Deus Ateu autonomeado”. Quando, por qualquer razão, se impacientava com um circundante – como no caso em que humilhou publicamente o operário Weitling –, partia para explosão verbal. Um observador, Pavel Annenkov, traçou-lhe o perfil: “Falava sempre com palavras imperiosas, que não admitiam contradição, e que se tornavam ainda mais incisivas pela sensação quase dolorosa do tom que perpassava tudo o que dizia. O tom expressava a firme convicção de sua missão de dominar a mente dos homens e de lhes ditar suas leis. Diante de mim erguia-se a encarnação de um ditador democrático.”
Boa demonstração do seu caráter revela-se na polêmica que travou com P. J. Proudhon (1809/65), o socialista francês que o acolheu no exílio, antes de Marx ser expulso de Paris, em 1844. Proudhon tinha se tornado o mestre do socialismo europeu com a publicação de O Que é a Propriedade?, ao ponto de Marx reverenciá-lo, em A Sagrada Família, como criador de “obra que revoluciona a economia política, tornando possível, pela primeira vez, uma verdadeira ciência da economia política”.
Mas Proudhon, desconfiando do caráter de Marx, impregnado de virulência, recusou o convite deste (feito por carta) para ingressar no Comitê Comunista de Correspondência, sediado em Bruxelas. Ponderou, profético, Proudhon:
“Faço profissão pública de um antidogmatismo econômico absoluto. Se o sr. quiser, investiguemos juntos as leis da sociedade, o modo como essas leis se realizam, o processo segundo o qual chegaremos a descobri-la – mas, por Deus, depois de demolir todos os dogmatismos a priori, não pensemos em doutrinar o povo, não caiamos na contradição do v. compatriota Lutero, que, depois de haver derrubado a teologia católica, colocou-se logo, através de anátemas e excomunhões, a criar uma teologia protestante… Façamos uma boa e leal polêmica; demos ao mundo o exemplo de tolerância sábia e previdente, mas não nos tornemos os chefes de uma nova intolerância, não nos coloquemos como apóstolos de uma nova religião, mesmo que essa religião seja da lógica, da razão… Com essa condição entrarei na v. associação – senão, não!
“Devo ainda fazer algumas observações à expressão “momento de ação” (revolucionária) de v. carta. Eu creio que não temos necessidade disso para vencer, e que, conseqüentemente, não devemos colocar a ação revolucionária como meio de reforma social, porque esse meio seria simplesmente um apelo à força, ao arbítrio; em suma, uma contradição.”
A resposta de Marx veio em 1847, com Miséria da Filosofia, depois que Proudhon lançou Sistema das Contradições Econômicas, uma construção antitética que propõe o entendimento da propriedade – a lado de ser uma apropriação indébita – como uma forma de liberdade. No opúsculo, Marx, irado com a recusa e os comentários de Proudhon, reduz a quem antes considerava “o mais notável socialista francês” à mera condição de “socialista utópico”, um “pequeno burguês oscilante entre o capital e o trabalho”.
Sabe-se hoje que o “socialismo científico” de Marx revelou-se tão utópico quanto o do “pequeno burguês” Proudhon, que, a rigor, jamais encarou o socialismo como uma ciência e repudiou sempre qualquer forma de ditadura, em especial a do proletariado. Depois de ler o arrazoado marxista, o francês resumiu-se a anotar num canto de página: “Um tecido de grosserias, calúnias, falsificações e plágios. Marx é a tênia do socialismo.”
De fato, para anular os adversários o pensador alemão tratava a moral comum aos pontapés. O exemplo dos métodos que empregava para neutralizá-los pode ser avaliado no seu desforço contra Bakunin, por quem, segundo o minucioso historiador inglês Robert Payne (Marx, Londres, 1968), nutria inveja acalentada pelo ódio. O anarquista russo (que, no dizer de Bernard Shaw, inspirou Wagner a compor o Siegfried), dono de personalidade incandescente e oratória libertária, desestabilizou, enquanto pôde, o controle que Marx detinha sobre o operariado europeu e, mais tarde, sobre a Associação Internacional de Trabalhadores. Em desacordo com a política ditatorial levada adiante por Marx, Bakunin articulou a formação de uma federação de associações de trabalhadores que logo ganhou adeptos na França, Itália, Espanha, Suíça e outros países europeus.
Sem condições de destruir o prestígio de Bakunin e temendo o seu poder de liderança, Marx, com o objetivo de desmoralizá-lo, publica na Nova Gazeta Renana informação de que o líder russo era um agente secreto da polícia czarista, dando como fonte suposta documentação em mãos da escritora Georg Sand. Ao tomar conhecimento da calunia, Sand, indignada, exigiu imediata retratação. Marx justificou-se afirmando que assim procedia “para defender o movimento socialista dos governos capitalistas”.
Mas não ficou por aí. Durante o congresso da Internacional em Haia, em 1872, ressabiado pela avassaladora atuação de Bakunin e suas idéias desestatizantes, denuncia-o por atos irresponsáveis de fato cometidos pelo terrorista Netchaiev (uma carta de ameaça ao editor de O Capital), sem que Bakunin tivesse participação direta no episódio – o que determina sua exclusão da Internacional.
Reconhecendo, no entanto, a força de Bakunin e certo de que na Europa, cedo ou tarde, a Internacional cairia em mãos deste, Marx, então conhecido como o “Doutor do Terror Vermelho”, numa manobra maquiavélica transfere a sede do seu Conselho Geral para Nova York – o que, em termos práticos, significou o fim da Internacional.
Outro traço do caráter de Marx é o que aponta para a completa falta de escrúpulos quando se tratava de alterar dados e informações que, de algum modo, servissem a causa do “socialismo científico”. No discurso inaugural da Internacional, em 1864, Marx, como registra o historiador Leslie Page (K. Marx and Critical Examination of his Works, Londres, 1987), para impressionar os trabalhadores adultera deliberadamente mensagem orçamentária de Gladstone (várias vezes primeiro ministro inglês), de 1863. Na oração, escreveu Gladstone sobre o crescimento da riqueza nacional: “Veria quase com apreensão e dor este inebriante crescimento da riqueza e poderio se acreditasse que está circunscrito a classe conservadora. A condição média do trabalhador inglês, é uma felicidade sabê-lo, melhorou nos últimos 20 anos, a um grau que sabemos extraordinário e que podemos qualificar como sem paralelo na história de qualquer país e de qualquer época.” Marx, mutilando e invertendo tudo, fez Gladstone dizer: “Este crescimento inebriante de riqueza e poderio está totalmente circunscrito a classe dos proprietários.”
Na manipulação de dados estatísticos contidos nos Livros Azuis de Biblioteca do British Museum, publicados pelo governo e fonte para a elaboração dos capítulos XIII e XV de O Capital, a conduta do pai do “socialismo científico” chega a ser, segundo analistas da Universidade de Cambridge (apud Paul Johnson, em Intellectuals, W&N, 1988) de “assombrosa temeridade”, concluindo que “há um desapreço quase criminoso no uso das fontes”, o que coloca “qualquer parte da obra de Marx sob suspeita”. Para comprovar sua verdade, Marx, que durante toda vida jamais entrou numa fábrica, usa material sabidamente desatualizado e elege como exemplo indústrias pré-capitalistas, com mais de 40 anos de atraso, que não tinham condições para incorporar novas maquinarias.
No capítulo de apropriação intelectual Marx ultrapassa os limites da pura desonestidade. Para compor seus escritos eivados de metáforas apocalípticas, toma como seu aquilo que foi criado por outros, sem apontar autoria. De Marat, se apropria da frase “o proletariado não tem nada a perder, exceto os grilhões”. De Heine, “a religião é ópio do povo”; e, de Louis Blanc, via Enfantin, sacou a formula “de cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades”. De Shapper, tirou a convocação “trabalhadores de todo o mundo, uni-vos”, e, de Blanqui, a expressão “ditadura do proletariado”. Até mesmo sua obra mais bem acabada e de efeito vertiginoso, O Manifesto Comunista (1848, em parceria com Engels), tem-se, entre os anarquistas, como plágio vergonhoso do Manifesto da Democracia, de Victor Considérant, escrito cinco anos antes.
Marx considerava que as leis morais não haviam sido criadas para ele – é o que indica o seu modo de agir em vida. Para além das idéias, os métodos por ele empregados influenciaram de modo catalisador a prática comunista, no século 20: sem eles, dificilmente Lênin, Trotski, Stalin, Mao, Fidel, Pol Pot e congêneres encontrariam respaldo moral para justificar seus crimes contra a humanidade. Depois da derrocada da União Soviética, levantada a cortina do terror, viu-se que mais de 100 milhões de pessoas tinham sido destroçadas em nome de uma absurda “moral proletária”, que, estranhamente, parece ainda pontificar como se nada tivesse ocorrido.
O fim da existência de Marx foi patético. Morreu praticamente só, aos 65 anos, depois de percorrer estações balneárias para mitigar o sofrimento físico, lastimando-se de dores generalizadas na laringe, brônquios, tumores, insônia e suores noturnos. Ao médico que dele cuidava, deixou bilhete, no qual dizia “só encontrar certo alívio numa terrível dor de cabeça – pois a dor física é a único ‘estupefaciente’ da dor psíquica”.
Sua família foi a grande vítima. Dos seis filhos que teve com a mulher, Jenny, uma aristocrata, três morreram na primeira infância, em decorrência do estado de penúria a que foram submetidos, e os outros – as filhas Jenny, Laura e Leonor – terminaram a vida cometendo suicídio. O único sobrevivente, Freddy, filho de Marx com a empregada, Helene, nunca reconhecido pelo pai, foi adotado por Engels para “salvar as aparências”. Jenny, a mulher, prematuramente envelhecida pelo sofrimento, morreu aparentemente sem perdoar o marido por ter engravidado a empregada.
Com os pais, Marx não se comportou de modo menos egoísta. Por ocasião da morte do pai, Heinrich, vítima de câncer no fígado, não compareceu ao enterro porque, segundo ele próprio, “não tinha tempo a perder”. Por conta disso, a mãe, Henriette, saturada de pagar suas dívidas, com ele cortou relações, não antes de adverti-lo: “Você devia juntar algum capital em vez de só escrever sobre ele.”
Mas foi ao cometer grosseria com a amigo e provedor de todas as horas, Engels (1820/95), que Marx concedeu a chave para explicação de sua moralidade. Após a morte da companheira amada Mary Burns, Engels escreve ao amigo dizendo-se arrasado pelo fato (Karl Marx, Francis Wheen, Record, 2001). Marx, por carta, responde que a notícia o surpreendeu, mas logo passa a tecer considerações sobre as próprias necessidades pessoais. Engels, magoado com a frieza do outro, suspende dádivas e correspondência. O que leva Marx, apressado, não propriamente a pedir desculpas pela conduta mesquinha, mas a admitir, com franqueza brutal, que “em geral, nessas situações, meu único recurso é o cinismo”.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ê Brasil! - O Som que sai do Piauí...




Balanço do grande Festival de Violão do Piauí.


Por Ricardo Sahão - Médico em Londrina (PR) e sempre atento às manifestações sócio-culturais.

Estive no Piauí para participar do 6º Festival Nacional de Violão do Piauí. Moro em Londrina e viajei 8 horas de avião para chegar a Teresina onde acontece um dos melhores festivais de violões do mundo e o sul maravilha ainda não sabe disso ou por estar dormindo sobre seu próprio umbigo ou por falta de cultura musical. Este festival começou e se mantém em constante aprimoramento técnico e musical graças ao empenho do prof. Cineas Santos e do violonista Erisvaldo Borges. A primeira edição do FENAVIPI ocorreu em dezembro de 2004.

Além dos shows específicos, recitais e ‘masterclass’, patrocina concurso nacional de interpretação violonística, do qual participam candidatos de todo o Brasil e até do exterior.

A realização do 6º Festival Nacional de Violão do Piauí de 25 a 28 de fevereiro de 2010 consagra este desejo de transformar o Piauí em um celeiro de instrumentistas fato que observamos graças a qualidade dos candidatos a instrumentistas e a alta performance dos convidados.

Este festival celebra Teresina como capital brasileira e mundial da musica instrumental para violão.

Os participantes Xuefei Yang ( China), Tommy Emmanuel (Austrália), Paul Galbraight ( Escócia), Nonato Luiz (Ceará) , Fabio Zanon (São Paulo), Carlos Barbosa Lima (Brasil), Nicolas de Souza Barros (Rio de Janeiro), Roberto Corrêa (Minas Gerais) , Franciel Monteiros (São Paulo) e Henrique Annes (Pernambuco) encantaram a platéia com suas apresentações.

Aconselho a vocês procurarem na internet textos e vídeos destes artistas para sentirem a grandeza deste festival.

Na noite de abertura, o violonista e percussionista australiano Tommy Emmanuel arrebatou o público com seu modo único de tocar violão com blues, jazz, spiritual, folk, rock, jazz com agilidade e precisão na execução de músicas que ganham uma nova dimensão em suas mãos através de seu estilo “free style”. O violão dedilhado com arte inigualável, e o mesmo violão fazendo as vezes de tamborim, zabumba e percussão. Tommy Emmanuel tem uma carreira de 40 anos consagrada como um virtuoso do violão popular e se apresentou pela primeira fez no Brasil em Teresina para um público que ficou encantado com sua performance.

Tommy ensinou na aula de Masterclass como ele toca o violão, como dedilha, como usa a palheta, como constrói os sons harmônicos, como compõe, como vive. Esbanjou simpatia deu uma aula de filosofia de vida distribuiu centenas de autógrafos, assinou CD, DVD autografou violões (inclusive o meu) conversou com todo mundo e tirou fotos.

Quem viu não esquece.

A chinesa Xuefei Yang demonstrou técnica impecável e controle total do instrumento interpretando musicas clássicas e musica popular brasileira. Carlos Barbosa Lima interpretou musicas próprias e brasileiras que compõem seu repertório eclético e universal. É um dos expoentes da boa música instrumental brasileira divulgando o Brasil no exterior.

Renato Correa que é compositor, instrumentista e pesquisador da viola no Brasil nos brindou com belas musicas do nosso cancioneiro popular. Cada instrumentista deu o melhor de si enriquecendo o festival com suas apresentações e aos ouvintes com seus estilos e sons diferentes e mágicos. A gente fica encantado de ver e ouvir esta ótima música feita longe dos grandes centros de produção em massa que só atendem aos interesses das grandes gravadoras.

O Piauí tem hoje uma platéia educada e sensível para ver e ouvir artistas que se apresentam tocando violão em pequenas salas de concerto devido ao aprimoramento musical desenvolvido nos últimos anos.As apresentações feitas em pequenos teatros com calorosa interação entre público e artista resgata o que de melhor tem nas artes, o momento mágico entre o músico e a platéia. Ver, ouvir e conversar com estes músicos é tão gostoso como comer pão caseiro feito na hora pela mamãe.

Realmente o FENAVIPI oferece uma qualidade de músicos e de platéia como as melhores capitais do mundo.

O Piauí existe, é lindo


Tem um povo acolhedor


Uma comida saborosa


Uma música contagiante

E o ano que vem tem o 7º Festival Nacional de Violão do Piauí.

Conheça Teresina, a bonita e verde capital do Piauí:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=730970

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Nota do JN (êpa!) - JenipapoNews:
Informações trazidas pelo som desses virtuosos do violão internacional dão conta de que no início do mês de junho deste 2010 acontecerá em Teresina o 8º Salão do Livro do Piauí. Participações já confirmadas de Cristóvão Tezza, Milton Atoum, Pedro Bandeira, Dráuzio Varela (confirmar), Mia Couto (Moçambique), Ond Jaki (Angola)... Peraí, quebraram o "eixo"?

Fonte: http://jenipaponews.blogspot.com/2010/03/e-brasil-o-som-que-sai-do-piaui.html

sábado, 27 de março de 2010

Estresse- 6 dicas que você precisa conhecer

Estresse- 6 dicas que você precisa conhecer

Considerado por muitos como sendo a doença da modernidade, o estresse causa sérios danos a nossa saúde física e mental. Mas ele pode ser combatido - e vencido - com o emprego de algumas regras básicas


Respire fundo, soltando o ar lentamente. Você sabia que neste momento sua frequência cardíaca diminui? Mas não se preocupe, ela aumentará de novo quando voltar a inspirar. Esse tipo de movimento é sinal de uma interação saudável entre o coração e a cabeça. Toda vez que exalamos o ar, nosso cérebro envia um sinal ao nervo vago para que, então, se reduza a velocidade que opera o músculo cardíaco. Com a inspiração, esse sinal fica fraco e o coração volta a bater mais rápido. Essas alterações na frequência cardíaca fazem com que seu coração dure mais tempo. Agora sabemos por que os exercícios de respiração são tão bons.

1 LEMBRE-SE DE RESPIRAR

A evolução nos deu uma variedade de mecanismos para lidar com os altos e baixos da vida, desde elementos químicos que dissolvem os hormônios do estresse até sistemas complexos de nervos cujo trabalho é nos acalmar. Nos dias atuais, o grande problema é que poucos fazem pausas frequentes na rotina - e não estamos falando daquelas pequenas viagens de fim de semana.

Podemos até ignorar a necessidade biológica de descansar, mas há muitas evidências de que uma hora ou outra o estresse nos obrigará a fazer uma pausa. Tanto que as categorias de seguro que mais crescem nos Estados Unidos são as de estresse, depressão e exaustão. E, para agravar a situação, R os norte-americanos tendem a se estressar dos mais diversos jeitos.

O grupo de advocacia Mental Health America realizou um estudo, em novembro, em que constatou que acentuamos o estresse crônico assistindo à televisão, deixando de fazer exercício físico e consumindo junk foods. Esses são fatores que acabam nos afastando de atividades que reduzem o hormônio do estresse, como encontros com amigos e familiares.

Celulares, internet e demais meios de acesso ao trabalho dificultam ainda mais o relaxamento. Em alguns casos, trabalhar em casa pode chegar a ser ainda mais estressante, uma vez que "apaga" a linha que separa o trabalho do lazer.

Hoje, temos concepções erradas de quem se estressa e o porquê. Há 20 anos, os psicólogos estavam certos de que o estresse de trabalho tinha relação direta com a carga horária e a falta de controle.

De acordo com Christina Maslach, cientista pioneira na pesquisa da síndrome de Burnout (doença de caráter psicológico na qual a pessoa fica esgotada emocionalmente), da Universidade da Califórnia, em Bekerley (EUA), estudos recentes apontam que casamento, negócios malsucedidos e falsidade aumentam o nível de estresse.

"Uma das maiores evidências desse mal é a informação vaga. Por exemplo, a pessoa que permanece calada quando precisa explicar por que tomou uma decisão desse ou daquele jeito", explica a pesquisadora. Outra maneira é ir contra os nossos princípios, como mentir para conseguir indenização do seguro ou vender produtos de que as pessoas não necessitam.

2 O ESTRESSE ALTERA A QUÍMICA DO SANGUE

Há anos psicólogos estudam os sintomas da síndrome de Burnout: perda de energia, de entusiasmo e de autoestima. Atualmente, com novos aparelhos que fotografam o cérebro e sofisticados testes sanguíneos, os cientistas podem medir alguns dos efeitos do estresse no corpo.

Você deve estar familiarizado com as ondas de adrenalina (elas causam arrepio e aumento de pulso), que nos ajudam a lutar ou espantar predadores e outros perigos imediatos. E é de conhecimento geral que o cortisol, outro hormônio que indica estresse, é produzido mais lentamente que a adrenalina e fica na corrente sanguínea por mais tempo.

Mas o que bem poucos sabem é que apresentar tanto uma pequena como uma grande quantidade de cortisol no sangue é prejudicial. Está emergindo uma imagem complexa da resposta que o corpo dá ao estresse que envolve caminhos interligados.

Por ser fácil de medir, há muitos estudos sobre o cortisol. No entanto, somente porque você se depara com um desequilíbrio em uma área, não significa diagnosticar o que ocorre.

"Aprendemos que o estresse póstraumático, a sindrome de Burnout, a fadiga crônica e a fibromialgia estão relacionados", explica Bruce Mac- Ewen, neurologista da Universidade Rockefeller (EUA), especialista em biologia do estresse.


3 NÃO HÁ COMO SE PREVENIR DO ESTRESSE

Algumas horas antes de você despertar, o hipotálamo (uma pequenina região da base cerebral) envia um sinal que alerta as glândulas suprarrenais, localizadas perto dos rins. Elas então liberam o cortisol, que age como um despertador.

O nível de cortisol continua subindo depois que você fica consciente, o que pode fazer você ficar mal-humorado e xingar por ter de acordar cedo. Esse elevado nível de cortisol é ainda o responsável pela maioria dos ataques cardíacos e dos derrames ocorridos entre 6 e 8 horas da manhã.

Como o cortisol é um hormônio de efeito prolongado, temos preguiça e ficamos debaixo das cobertas por "mais uns cinco minutinhos". No entanto, o nosso cérebro tem mecanismos que nos impedem de ficar com esse mau humor o dia todo.

Quando o nível de cortisol aumenta, outras par tes do cérebro são acionadas para que as glândulas suprarrenais diminuam a produção de cortisol. O cérebro tem seu próprio jeito de desligar a produção de resposta ao estresse.

Em geral, o nível de cortisol, medido por meio de um teste de saliva, atinge seu pico algumas horas depois de a pessoa acordar. A quantidade, então, diminui durante o dia, sobrando alguns resquícios aqui e ali. Esse padrão, porém, muda em pessoas deprimidas. O nível de cortisol sobe pela manhã e permanece alto durante o dia, como se o hipotálamo delas tivesse esquecido de desligar o alarme.

Curiosamente, pessoas que dormem pouco também têm um nível alto do hormônio. E o mesmo ocorre com vítimas da síndrome de Burnout, cujos níveis de cortisol também se mantêm constantemente elevados.

Em suas pesquisas, os cientistas descobriram ainda que o aumento de nível superficial de cortisol pela manhã seguido de uma queda e um nível baixo do hormônio durante o dia também causam o estresse. Esse nível baixo de cortisol, por sinal, é bastante comum entre sobreviventes do holocausto, vítimas de estupro e soldados com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

"Costumávamos culpar os altos níveis de cortisol", afirma Rachel Yehuda, neuroquímica e especialista em TEPT da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York (EUA). "Agora também podemos culpar os níveis baixos de cortisol."

4 ESTRESSE ANTECIPA O ENVELHECIMENTO

Os cientistas sempre suspeitaram que o estresse prolongado prejudicava o sistema imunológico, mas não tinham certeza de como isso ocorria. Então, dois anos atrás, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA), examinaram glóbulos brancos de um grupo de mães cujos filhos sofreram de desordens como autismo e paralisia cerebral. Os cientistas constataram o envelhecimento acelerado daquelas crianças com a deficiência.

Existem diferenças em jovens com mães estressadas. As mudanças foram detectadas em estruturas microscópicas chamadas telômeros, que são frequentemente comparadas ao pedaço de plástico que se encontra no final do cadarço e que protege os cromossomos de serem triturados. Geralmente, as células mais jovens ficam com os telômeros mais compridos. No estudo, porém, os pesquisadores comprovaram que os telômeros das crianças com mães estressadas eram muito menores que os das demais. Com isso, elas ficavam, do ponto de vista genético, de 9 a 17 anos mais velhas que sua idade cronológica.

5 ESTRESSE NÃO PROPORCIONA AS MESMAS OPORTUNIDADES DE EMPREGO

Em 1995, em um experimento clássico, cientistas da Universidade de Trier (Alemanha) submeteram 20 voluntários homens a situações que elevassem o seu nível de estresse - eles tinham, por exemplo, de participar de uma entrevista de trabalho simulada e resolver problemas de aritmética na presença de estranhos, que os corrigiam sempre que cometiam erros.

Como esperado, os níveis de cortisol aumentaram, a princípio. Mas, a partir do segundo dia, a maioria dos níveis do hormônio do estresse dos homens não teve um aumento significativo. A experiência os ensinou que a situação não era de todo ruim. Jens Pruessner, da Universidade McGill, em Montreal (Canadá), acredita que o hipocampo, uma estrutura do tamanho de um dedo localizada no DEEP (fundo/ córtex/centro) do cérebro, é parcialmente responsável por isso.

O fato leva a crer que o hipocampo, que ajuda a formar novas memórias e salvar as antigas, é sensível à quantidade de cortisol existente no cérebro. Então, quando o nível começa a subir, o hipocampo envia sinais que ajudam a desligar a produção de cortisol.

Utilizando dispositivos diferentes de captar imagens do cérebro, Pruessner mostrou que as pessoas que têm pouca autoestima tendem a ter um hipocampo menor que a média. As diferenças tornam-se claras só quando se comparam grupos de pessoas.

O professor explicou que não se consegue fazer imagens do cérebro de uma pessoa e determinar se ela possui muita ou pouca autoestima. Mas, comparando aos demais resultados, eles encontram um hipocampo menor e mais simples, que tem dificuldade em fazer o resto do cérebro parar de emitir sinais em resposta ao estresse.

Ainda é um mistério como o corpo controla a liberação de cortisol para uma resposta típica ao estresse ou para casos específicos, como os de pessoas que sofrem de Burnout.

"Estamos estudando isso", afirma Samuel Melamed, da Universidade de Tel- Aviv, em Israel. "Mas, se não há relaxamento e o nível de cortisol permanece alto durante muito tempo, o corpo tem como reajustar."


6 HÁ MAIS DE UM JEITO DE DESESTRESSAR

Quando o estresse sobrecarrega o sistema, nossas escolhas parecem mais limitadas do que realmente são. Os cientistas que fazem estudos sobre comportamento deram um nome para esse tipo de fenômeno: impotência aprendida. Eles estudam em ratos de laboratório, pois o sistema nervoso desses animais tem o mesmo comportamento que o nosso.

Quando o estresse sobrecarrega o sistema, nossas escolhas parecem mais limitadas do que realmente são.
Os cientistas que fazem estudos sobre comportamento deram um nome para esse tipo de fenômeno: impotência aprendida

O experimento foi o seguinte: o camundongo era colocado em um ambiente com uma rota de escape e um dispositivo que dava choque elétrico após o soar de uma campainha. Os animais logo aprendem como fugir pela rota de escape e a não tomar o choque. Porém, quando essa rota é bloqueada e os animais não conseguem fugir ao ouvir a campainha, eles passam a desistir de tentar escapar.

Após um tempo, mesmo que a rota de fuga esteja desbloqueada, os ratos passam a ficar parados e a tremer sempre que ouvem a campainha. Obviamente, os humanos têm capacidade intelectual maior que a dos ratos, mas os princípios são os mesmos.

Quando muitas das regras mudam, quando nosso antigo trabalho não funciona mais, nossa habilidade racional fica reduzida. Sabendo as tendências do modo de agir e reagir do cérebro em casos de impotência aprendida, os especialistas podem receitar hábitos saudáveis que prejudiquem menos a pessoa.

E se existe algo que você jamais deve fazer é ignorar os riscos. Uma pesquisa com animais mostrou que a passagem para se reverter os efeitos psicológicos do estresse crônico é estreita. Já existem estudos que analisam pessoas e até agora foi constatado que, uma vez alto, o nível de cortisol parece continuar nesse estado por anos.

Resta a nós não permitir que essa situação aconteça.

REVISTA PLANETA: http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/437/artigo126059-1.htm

Livros digitais da Unesp

Livros digitais da Unesp

11/3/2010 - Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A Universidade Estadual Paulista (Unesp) encontrou uma solução inovadora para oferecer acesso universal ao conhecimento produzido em sua pós-graduação: o Programa de Publicações Digitais, que lança nesta quinta-feira (11/3) sua primeira coleção, com 44 títulos inéditos.
O programa, decorrente de uma parceria entre a Fundação Editora Unesp (FEU) e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PROPG) da universidade, publica em formato digital livros exclusivamente produzidos para esse fim, com foco nas áreas de ciências humanas, ciências sociais e aplicadas e linguística, letras e artes.
De acordo com o assessor da PROPG, Cláudio José de França e Silva, os títulos iniciais foram selecionados pelos Conselhos de Programas de Pós-Graduação da universidade.
“No mesmo momento em que estamos lançando esses títulos, publicamos a chamada para a edição 2010 do programa, que editará mais 58 livros. O objetivo do programa, lançado em 2009, é editar 600 livros digitais em dez anos”, disse França e Silva à Agência FAPESP.
Segundo ele, cada programa de pós-graduação da Unesp pode indicar até dois livros para publicação no âmbito do Programa de Publicações Digitais. “É uma maneira inovadora para dar vazão à grande produção acadêmica da Unesp nessas áreas do conhecimento. Todos os livros editados são derivados de pesquisas realizadas em nossos programas de pós-graduação, incluindo muitas teses e dissertações, além de trabalhos de docentes e egressos da universidade na última década”, explicou.
O objetivo principal é universalizar o conhecimento produzido pelos pesquisadores da Unesp em grande escala. “Boa parte da pesquisa fica restrita ao público acadêmico. Por outro lado, a publicação em papel de um volume tão grande de obras levaria anos e teria grandes custos. Com o programa, encontramos uma maneira viável para que esse conhecimento possa atingir um público amplo”, disse.
Como as obras passaram pelo crivo dos conselhos, o conjunto de 44 títulos é um reflexo dos próprios programas de pós-graduação da Unesp. “A seleção das obras leva de três a quatro meses para ser feita. No total, contando com todo o processo de edição e revisão, levamos cerca de um ano entre o início da seleção e a publicação dos livros”, disse França e Silva.
Segundo o assessor, existem outras iniciativas, em outras instituições, de disponibilização de conteúdos de livros na internet. Mas, pela primeira vez, uma universidade realiza um programa que publica obras projetadas, em sua origem, para o lançamento em formato digital.
“Esse é o caráter pioneiro do programa. A proposta é que esses livros permaneçam disponíveis em formato exclusivamente digital, sem qualquer custo para o leitor, democratizando a produção acadêmica da universidade”, afirmou.
As diretrizes do programa vetam a produção de obras derivadas a partir dos livros digitais lançados, a fim de garantir a integridade das obras. Também não é permitida a comercialização.
“Os livros têm um conceito muito bem claro, com um padrão de capas e de editoração definidos. Com isso, bastaria imprimi-los, da maneira que estão apresentados na internet, para termos essas obras em papel. Mas a ideia é que sejam mantidos como livros digitais apenas”, afirmou.
Para baixar os livros, segundo França e Silva, o leitor deve apenas preencher um cadastro sumário no site da Editora da Unesp e gerar uma senha que dá acesso às obras.
“O projeto é de grande importância para os autores. Suas obras, com a chancela da Unesp, serão acessadas por um público universal, que nunca seria atingido se a publicação fosse em papel. Iremos, ainda, ter o controle da quantidade e localidade dos downloads, o que nos permitirá aperfeiçoar as estratégias de publicação no futuro”, afirmou.
Para França e Silva, o público não deverá oferecer resistência ao novo formato. “Quando se começou a digitalizar os periódicos houve uma resistência inicial, mas hoje a maior parte das publicações é feita nesse formato. No entanto, não acreditamos que o livro de papel esteja desaparecendo. Trata-se apenas de uma nova forma de divulgar a ciência”, disse.
Segundo ele, os livros digitais serão cada vez mais importantes, em particular para as áreas de humanidades e artes – por isso o programa tem foco nessas áreas.
“Em geral, os pesquisadores das áreas de exatas e biológicas querem encaminhar suas pesquisas para periódicos o mais rápido possível. Mas nas áreas de humanas o livro tem um peso todo especial”, disse.
Mais informações: www.culturaacademica.com.br

O poder da BURRICE

O poder da BURRICE

"Duas coisas são infinitas: o universo e a burrice humana. Mas a respeito do universo ainda tenho dúvidas", disse Albert Einstein.
Componente inalienável da natureza humana, a burrice é, provavelmente, a força mais perigosa do cosmos


O que significa burrice? O conceito não tem uma definição teórica indiscutível. Não é o oposto de inteligência: há pessoas inteligentes que, vez por outra, fazem o papel de burras.
Uma definição convincente foi dada pelo historiador e economista italiano Carlo Cipolla: “Uma pessoa burra é aquela que causa algum dano a outra pessoa ou a um grupo de pessoas sem obter nenhuma vantagem para si mesmo – ou até mesmo se prejudicando.”
A burrice tem a peculiar vocação de se traduzir em ações, e por isso mesmo se torna perigosa. Segundo Cipolla, que identificou cinco “leis fundamentais da burrice” (veja quadro à pág. ??), até mesmo os mais inteligentes tendem a desvalorizar os riscos inerentes à burrice. E ela é mais perigosa que a crueldade: esta, tendo uma lógica compreensível, pode pelo menos ser prevista e enfrentada. Para começar, pensemos naqueles que, em tempos de Aids, mantêm relações sexuais sem proteção ou nos que não usam um antivírus no próprio computador, expondo a si mesmos e aos outros ao contágio de vírus reais ou virtuais.
A burrice sempre ofereceu cenas e personagens cômicos, como no conto de Andersen A roupa nova do imperador, no qual dois alfaiates mal-intencionados convencem o rei a vestir uma roupa maravilhosa, invisível para as pessoas burras. Era uma armadilha: ninguém queria admitir a própria burrice nem contradizer o soberano afirmando não ver a roupa (que de fato não existia). Só um menino teve a coragem de dizer que o rei estava nu, revelando a trapaça. Mas, atenção: rir da burrice pode deixá-la “simpática” e, portanto, desvalorizada. Se na ficção o estúpido é facilmente reconhecido, na vida real as coisas são diferentes.

A burrice tem três características fundamentais:
1) Ela é inconsciente e recidiva: o burro não sabe que é burro e tende a repetir várias vezes o mesmo erro. Tais características contribuem para dar mais força e eficácia à ação devastadora da burrice. A pessoa estúpida não reconhece os próprios limites, fica fossilizada em suas convicções particulares e não sabe mudar. Por isso, como diz o psicólogo italiano Luigi Anolli, “no âmbito clínico, a burrice é a pior doença, por ser incurável”. O estúpido é levado a repetir os mesmos comportamentos porque não é capaz de entender o estrago que faz e, portanto, não consegue se corrigir.
2) A burrice é contagiosa. As multidões são muito mais estúpidas que as pessoas que as compõem. Isso explica por que populações inteiras (como aconteceu na Alemanha nazista ou na Itália fascista) podem ser facilmente condicionadas a perseguir objetivos insanos, um fenômeno bastante conhecido na psicologia. “O contágio emotivo próprio do grupo diminui a capacidade crítica”, explica Anolli. “Percebe-se a polarização da tomada de decisão: escolhe-se a solução mais simples, que na maioria das vezes é a menos inteligente.”
3) Além da coletividade, há um outro fator que amplifica a burrice: estar numa posição de comando. “O poder emburrece”, afirmava o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Por quê? Quando estão no poder, as pessoas muitas vezes são induzidas a pensar que, justamente por ocuparem aquele posto, são melhores, mais capazes, mais inteligentes e mais sábias que o resto da humanidade. Além disso, estão cercadas de aduladores, seguidores e aproveitadores que reforçam o tempo todo essa ilusão. Dessa forma, quem está no governo chega a cometer as mais graves faltas com a aprovação geral.
Todos temos um fator de burrice maior do que imaginamos. Ele leva cientistas a só considerar um estudo sério quando coincide com seu ponto de vista. Mas o otimismo, mesmo sem base sólida, prolonga a vida, como demonstraram freiras norte-americanas.


Campeões da confusão

O cinema está repleto de heróis estúpidos que armam confusões sem fim, para si e para os outros, resultando em divertidas comédias. Veja, a seguir, algumas das mais famosas.
• Laurel e Hardy em Mestres do Baile (1943)
• Peter Sellers em A Pantera Cor-de-Rosa (1963) e Um Convidado bem Trapalhão (1968)
• Steve Martin em O Panaca (1978)
• Jim Carrey em Debi e Lóide (1995)
• Tom Arnold em Os Babacas (1996)
• Mike Myers em Austin Powers (2002)
• Steve Carell em Agente 86 (2008)

O PODER – SEJA ELE político, econômico ou burocrático – aumenta o potencial nocivo de uma pessoa burra. Um exemplo extremo é dado no filme Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick. Nele, um grupo de estúpidos de grau máximo pensa em detonar uma carga explosiva nuclear que levará ao fim do mundo, por uma simples frivolidade.
Por seu lado, o rei Luís 16, no dia 14 de julho de 1789 (a data da Queda da Bastilha, evento que deu início à Revolução Francesa), escreveu em seu diário: “Hoje, nada de novo.” O mesmo obtuso e burro senso de invencibilidade fez o general George Custer supervalorizar suas forças e atacar os índios em Montana (EUA), em 1876. Resultado: centenas de soldados do Exército norte-americano foram massacrados pelos índios sioux e cheyennes no riacho Little Big Horn. Ou, ainda, levou Napoleão a atacar a Rússia em pleno inverno de 1812: o Exército francês foi dizimado pelo frio e pela exaustão. Sem contar as previsíveis tragédias das guerras do Vietnã e do Iraque de hoje.
Em cada um de nós há um fator de burrice que é sempre maior do que imaginamos. Isso não é, necessariamente, um problema. Ao contrário, a estupidez tem uma função evolutiva: serve para nos fazer agir precipitadamente, sem pensar muito, o que em certos casos se revela mais útil do que não fazer nada. A burrice nos permite errar, e na experiência do erro há sempre um progresso do conhecimento. Assim, o ponto-chave para anular a burrice está em reconhecer os próprios erros e se corrigir. Como dizia o escritor francês Paul Valéry: “Há um estúpido dentro de mim. Devo tirar partido de seus erros.”
Como? Um estudo da Universidade de Exeter (Grã-Bretanha), publicado no Journal of Cognitive Neuroscience, identificou uma área do cérebro – no córtex temporal – que é ativada quando está para se repetir um erro já cometido: um sinal de alarme nos impede de recair na mesma situação. Se na base da burrice existisse uma anomalia localizada, talvez um dia pudéssemos corrigi-la com uma cirurgia. Desde que não caíssemos nas mãos de um cirurgião idiota.

TODOS NÓS ESTAMOS prontos a admitir que somos um pouco loucos, mas burros, jamais. Fuçando na literatura científica, é possível descobrir que somos um pouco burros, cada qual de um jeito diferente; mas o cérebro funciona de forma a nos esconder essa realidade. E mais: podemos descobrir que, apesar de tudo, é melhor assim.
As estatísticas indicam que 50% dos motoristas não sabem dirigir: um tem dificuldade para estacionar, outro circula a 20 km/h, um terceiro ocupa duas faixas como se a rua fosse dele. Mas quem não sabe dirigir não tem consciência disso, ou desistiria, preferindo o transporte público e aumentando, assim, as próprias (e as alheias) possibilidades de sobrevivência. O mesmo exemplo pode ser aplicado às pistas de esqui, ao universo de trabalho, ao campo de futebol e assim por diante.
Quem é suficientemente inteligente para reconhecer que não sabe guiar direito? Se formos a um hospital e entrevistarmos os recémretirados das ferragens de um carro, descobremos que ninguém admite integrar a categoria dos incapazes. Pesquisas mostram que 80% das pessoas internadas por acidente de carro acreditam pertencer à elite dos motoristas com habilidades superiores à média. E a responsabilidade do acidente? A maioria atribui seus erros à falta de sorte ou a algum idiota que cruzou seu caminho.
Ações suicidas
Em 1876, o general George Custer, no comando da 7ª Cavalaria americana, decidiu atacar – apesar do pequeno contingente disponível – um grande acampamento sioux em Little Big Horn. Os soldados foram todos massacrados. Um exemplo da burrice no poder.


E TEM MAIS. Imaginese agora como um verdadeiro fracassado em um determinado setor – por exemplo, na pintura, na natação, em estatística. E tente imaginar ser suficientemente inteligente para admiti- lo. Não se iluda: também aqui seu lado burro será revelado. “Seu cérebro encontrará um obstáculo, atenuando a importância daquele setor”, explica Cordelia Fine, pesquisadora no Centro de Filosofia Aplicada e Ética Pública da Universidade de Melbourne (Austrália).
“Aquela carência não o incomodará mais”, prossegue ela, “pois seu cérebro tenderá a considerar o desenho, a natação e a estatística como atividades supérfluas”. Assim, é melhor nos contentarmos em admitir que nossas fraquezas são comuns o bastante para fazer parte da falibilidade humana, enquanto nossos pontos fortes são raros e especiais.
Há uma explicação para esse comportamento? “A falência é a principal inimiga do nosso ego e da nossa auto-estima. É por isso que o cérebro, um grande vaidoso, faz o máximo para bloquear o caminho a essa hóspede indesejada”, acrescenta a pesquisadora.
Isso não é uma grande novidade, visto que no frontão do templo de Delfos, na Grécia, estava escrito: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.” Mas o autoconhecimento não é tão fácil: a idéia de quem somos varia de acordo com as necessidades. Em 1989, Rasyid Sanitioso e Ziva Kunda, na época psicólogos na Universidade de Princeton (EUA), mostraram a alguns jovens pesquisadores falsos estudos que documentavam um maior sucesso das pessoas extrovertidas. A outros deram pesquisas que premiavam os introvertidos. Pois bem: os estudantes se identificavam com qualquer dos traços de personalidade apresentados como passaporte para o sucesso...
VÁRIAS ESCOLHAS absurdas são feitas de maneira burra, sem uma avaliação dos prós e contras, dados e estatísticas reais. Casar-se, por exemplo, é uma decisão que implica um vínculo para toda a vida. Quem, cruzando as portas da igreja ou do cartório, tem a perfeita consciência de que, segundo as estatísticas, o casamento tem 50% de chance de dar errado? No momento do “sim”, só sabem disso os pais dos noivos, os avós, os amigos, parentes e até mesmo o padre e o juiz. Os interessados diretos demonstram uma obstinação cega, perfeitamente convencidos de que sua união será uma exceção a todas as regras. Até porque, se não estivessem seguros, a continuidade da raça humana dependeria da péssima eficácia dos contraceptivos e o Homo sapiens poderia já estar extinto.
E a capacidade de admitir nossos erros de avaliação? Quase inexistente: estamos atados a nossas convicções como se elas fossem coletes salva-vidas. O que pedimos ao mundo não são novos desafios a nossas ideologias políticas e sociais. Preferimos amigos, livros e jornais que compartilham e confirmam nossos iluminados valores. Mas, cercando-nos de pessoas oportunistas, reduzimos a chance de que nossas opiniões sejam questionadas.
Também nos vários setores da pesquisa, a burrice se apresenta pontualmente: os envolvidos tendem a considerar um estudo sério e convincente quando os resultados coincidem com seu ponto de vista; ou julgamno ultrapassado e cheio de defeitos quando vão de encontro a suas expectativas. Esse fator explica por que muitas vezes é inútil tentar demover um obstinado de manter idéias claramente erradas.
Todas as vezes que nosso cérebro pensa no futuro, tende a produzir previsões otimistas. Por exemplo: estamos sempre certos de que nosso time do coração vai ganhar o jogo, embora haja outra possibilidade. As previsões “autocelebrativas” também acontecem nas bancas de apostas, nos cassinos e nas loterias, nas quais as pessoas desperdiçam dinheiro porque a capacidade de julgamento fica dominada pelo desejo de vencer. Qual é a razão desse estúpido otimismo do cérebro? Ele nos protege contra as verdades desconfortáveis.

HÁ PESSOAS QUE chegam incrivelmente perto da verdade sobre si mesmas e a respeito do mundo. Elas têm uma percepção equilibrada, são imparciais quando se trata de atribuir responsabilidades de sucessos e fracassos e fazem previsões realistas para o futuro. Testemunhas vivas do quanto é arriscado conhecer a si mesmas, elas são, para muitos psicólogos, pessoas clinicamente depressivas. Martin Seligman, docente de psicologia na Universidade da Pensilvânia (EUA), demonstrou que o chamado “estilo explicativo” pessimista é comum entre os deprimidos: quando fracassam, assumem toda a culpa, consideram-se burros, péssimos em tudo e se convencem de que essa situação vai durar para sempre.
E quais são os resultados de tanta (às vezes excessiva) honestidade intelectual? Deborah Danner, pesquisadora da Universidade de Kentucky (EUA), examinou os efeitos da longevidade em 180 noviças norte-americanas, otimistas e pessimistas. Quanto mais otimistas se mostravam as religiosas, mais tempo viviam. As mais joviais viveram em média uma década além das pessimistas. É claro que ser realistas e ao mesmo tempo serenos e otimistas seria o ideal; mas não há dúvida de que às vezes um pouco de burrice faz bem.

Equipe Planeta

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Caixa Quadrada




Nas noites de verão, ou todas as noites, depois do jantar, o pai abandona a mesa. Ainda com a xícara de café na mão, ele se dirige à caixa quadrada. A deusa dos raios azulados espera o toque. Para emitir som e luz, imagem e movimento. Todos se ajeitam. O lugar principal é para o pai. Ninguém conversa. Não há o que falar. O pai não traz nada da rua, do dia-a-dia, do escritório. Os filhos não perguntam, estão proibidos de interromper. A mulher mergulha na telenovela, no filme. Todos sabem que não virá visita. E se vier alguma, vai chegar antes da telenovela. Conversas esparsas durante os comerciais. A sensação é que basta estar junto. Nada mais. Silenciosa, a família contempla a caixa azulada. Os olhos excitados, cabeças inflamadas. Recebendo, recebendo. Enquanto o corpo suportar, estarão ali. Depois, tocarão o botão e a deusa descansará. Então, as pessoas vão para as camas, deitam e sonham. Com as coisas vistas. Sempre vistas através da caixa. Nunca sentidas ou vividas. Imunizadas que estão contra a própria vida.

Ignácio de Loyola Brandão

Fonte: http://republicadefiume.blogspot.com/

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O pensamento interdisciplinar


Foto: Daniel Lins e Marcia Tiburi



O pensamento interdisciplinar

Alheio aos jargões da história da filosofia, Daniel Lins fez da interdisciplinaridade o cerne de sua obra 06/07/2009
Marcia Tiburi

Daniel Lins é professor da Universidade Federal do Ceará e ativo em diversos setores da sociedade cearense. É também pesquisador da subjetividade e da vida contemporânea. Estudou profundamente a história da filosofia no Brasil e na França - onde fez a maior parte de sua formação acadêmica. Formou opiniões próprias, sem aderir ao jargão da história da filosofia. Investiu no rigor da experiência do pensar que não teme a escolha de objetos da vida comum.
As manifestações contemporâneas das teorias que enveredam pela sociologia e pela psicanálise forjam em seus diversos livros um diálogo em que a interdisciplinaridade e a pluralidade são básicas. Pensador para além das fronteiras, manifesta uma coragem da teoria que lança um novo programa para o contexto do debate brasileiro. Um debate em que estão em cena a coragem, a ousadia e a defesa de um ideal de resistência em que o desejo dê asas à escrita, ao diálogo e à reflexão sobre a realidade social e política.
CULT - Muito já se falou sobre a moda da filosofia no Brasil e na França. Existe alguma diferença entre o que acontece lá e o que acontece aqui?
Daniel Lins - Mais que um "efeito" ou uma moda, o boom da filosofia na França ou no Brasil é um fato indiscutível. Há um imenso sucesso editorial: a filosofia se vende bem. Fazer filosofia pode ser um bom negócio. Até aí, nada contra. Os problemas surgem quando os efeitos perversos de tamanho sucesso achatam os conceitos, banalizam as ideias, sacralizam o caráter leigo do pensamento reduzindo-o à mera autoajuda, à reflexão, à discussão ou, pior ainda, à comunicação, isto é, à palavra de ordem.
A filosofia nem reflete nem discute: ela pensa e cria conceitos. Ora, criar conceitos não é da ordem da reflexão, menos ainda da comunicação, pois só se pensa por necessidade.
Discussão, reflexão, comunicação, eis o tripé aniquilador de pensamento-tesão, pensamento amoroso, sempre à margem, que faz mal, dói, transforma um mundo, um país, uma pessoa, ideologias e credos. Pensamento, pois, como blocos de sensações, o oposto da representação, legitimadora maior do capitalismo primário, entre outros.
Eis, pois, a imensa diferença entre o boom da filosofia no Brasil e na França. O sucesso da filosofia, ao emergir na França com a força de um dragão, encontrou um terreno preparado, toda uma experimentação desejante, rebelde; uma tradição filosófica nutrida por uma plêiade de pensadores, múltiplas correntes e escolas. E, finalmente, os séculos 19 e 20 com Nietzsche, Deleuze, Heidegger, Derrida, Foucault, Lévi-Strauss, Pierre Bourdieu, Levinas, e a lista não para.
Não esquecer também que a filosofia faz parte do currículo de todo jovem francês.
A grande diferença entre o boom da filosofia na França e no Brasil pode ser assim resumida: a França é uma república leiga, um país praticamente agnóstico, amante inflamado das revoluções e das artes, da liberdade e do prazer de ler. Nesse contexto, dificilmente o boom filosófico se tornaria uma teologia chique para os pobres. Esse efeito perverso, que começa a ser observado em algumas publicações de certa "pop filosofia" no Brasil, denota a não autonomia de um pensamento implicado em uma história - que é a nossa - marcada pela discussão, pelos arranjos e pela "compreensão", sobremodo, vinculados ao mundo dos negócios, da lógica mercantil e do mito do enriquecimento rápido cujos símbolos proeminentes são a loteria e o futebol: dormir "pobre" e acordar milionário! Nascer na favela e tornar-se bilionário! Na falta de uma tradição filosófica rigorosa, uma nova filosofia babilônica emerge no Brasil: a filosofia lotérica.
CULT - No Brasil, Deleuze tornou-se um discurso pronto que se usa em diversos campos das ciências humanas, uma repetição em que se perdeu de vista o diálogo. Até que ponto o fascínio com uma teoria pode inviabilizar a liberdade de pensar o que essa mesma teoria propunha?
Lins - Eis uma excelente questão. A academia brasileira dificilmente estaria preparada para se deixar, de fato, contagiar ou ser afetada pela "cultura no plural", pela interdisciplinaridade. Todavia, a academia cria também suas linhas de fuga para não sufocar à repetição do mesmo, à redundância careta que tem afastado milhares de jovens de nossas faculdades públicas. Existem, em todo o Brasil, blocos de singularidades no âmbito da academia e, diria mesmo, apesar da academia.
O que domina, contudo, é ainda uma burocracia morna e lutas imaginárias - na sua maioria - ou reais de poder. A academia é muitas vezes uma arena, com combates resultantes de ressentimentos acumulados ao longo dos anos, em que, evidentemente, reinam a atmosfera edipiana, as guerras fratricidas, o desafeto sem limite que se instaura e paralisa a própria instituição.
A transformação é, porém, possível e acontece. Os atores dessa mudança são em sua maioria anônimos, mas há um trabalho de formiga, às vezes contra todos e contra tudo.
CULT - Como você vê a questão da interdisciplinaridade no Brasil de hoje? Você acredita que nossa academia está preparada para o livre pensar e para novas conexões teóricas e práticas?
Lins - A interdisciplinaridade obedece às exigências do Programa Nacional de Educação de terceiro grau, mas de modo ainda simbólico. Ela é inimiga do improviso, da ausência de rigor etc. É algo muito sofisticado, exige uma formação inserida no mundo contemporâneo, no aprendizado das línguas, na relação mínima com as ciências e, sobremodo, na eliminação da ignorância: a transformação dos preconceitos que fundamentaram e ainda fundamentam a academia brasileira, em muitas de suas vertentes.
Eis o maior problema da interdisciplinaridade. Não a arte dos medíocres; ao contrário, é papo sério, supõe muita pesquisa, 99% de trabalho e 1% de talento. Teríamos, então, de revisitar, desconstruir e repensar a universidade.
CULT - Como você, que conviveu com Deleuze e é estudioso de sua obra, sustenta sua relação com a psicanálise?
Lins - Ao encontrar (que encontro!) Gilles Deleuze, em 1971, encontrei o desencontro, a singularidade, e não a certeza que deixa as pessoas burras, sem poesia nem vontade de viver, e fabrica microfascismos cotidianos. Minha vida tomou outro rumo. Continuei, contudo, minha formação até o final. O adeus à psicanálise aconteceu em 1979. Sem dramas, pois não acreditava mais nas teorias lacanianas. Palavra de ordem? Juiz ou legislador?
A longa formação em psicanálise, filosofia, sociologia e antropologia, com Lévi-Strauss, funcionou, todavia, como excelente intercessora da minha chegada à esquizoanálise, pensada e experimentada por Félix Guattari. A leitura de O anti-Édipo, de Deleuze e Guattari, mudou não apenas minha relação com o discurso psicanalítico, mas mudou de uma vez por todas a própria psicanálise.
Entendo que alguns "leitores" de Deleuze tentem aproximar sua filosofia da psicanálise lacaniana. Tempo perdido: é querer tirar leite de pedra. São dois mundos inconciliáveis. Forçar a barra a esse ponto é quase uma prática sadomasoquista. Deleuze desmontou, recusou, negou o evangelho lacaniano até seus últimos dias. Em O abecedário, considerado seu testamento, ele retoma a questão e enterra de uma vez por todas a psicanálise. Como fugia das críticas e discussões estéreis, ele conversa com a psicanálise elaborando, sob a força de conceitos, a crítica como clínica, como saúde. Nunca se tratou de ressentimento em relação a Lacan, que Deleuze admirava, mas à doutrina lacaniana.
Não foi difícil perceber o universo que separava Deleuze e seu pensamento das certezas de Jacques Lacan. A filosofia deleuziana, ou nietzschiana, não trabalha com pensamentos concluídos, ou saberes dados por antecipação. É uma filosofia do desejo - a que nada falta - e do devir, daquilo que está por vir. Pensar para Deleuze é um esporte, é movimento, é pura invenção.
CULT - Você escreveu filosoficamente sobre Lampião e sobre Sila, tomou temas não comuns como objeto de análise. Você acredita que foi compreendido no contexto brasileiro?
Lins - Eu sou um filósofo, não apenas um professor de filosofia. Aprendi filosofia estudando os gregos, algo deles motivou minha relação com a filosofia. Platão era um pensador próximo da vida, da literatura, da cidade, da política do dia a dia. Nietzsche nunca se enclausurou na abstração filósofa, mas estava presente na história e em movimentos de seu tempo e do tempo por vir. Deleuze é o pensador da multiplicidade, da imagem, da arte, da literatura, do devir, da diferença e da mais fina e difícil filosofia engendrada no século 20.
O que leva esses grandes filósofos a pensar os movimentos de um país, de uma época, as coisas simples da vida, a juventude, o rock, o surfe, os catadores de papel, a bela relação de Deleuze com jovens surfistas, rápida e intensa, no final de sua vida? São pensadores, criadores de conceitos e que não fazem nenhuma diferença entre vida e pensamento. Como imaginar Platão sem o conceito de ideia, ou fora da caverna? Não são burocratas ou pensadores de escritório.
Ao escrever sobre Ayrton Senna, Artaud, Lampião, a ex-cangaceira Sila, metodologicamente fui motivado pela minha formação em filosofia escolástica, mas também pelo desejo de responder ao silêncio do historiador, no caso do cangaço, por meio de um texto inserido na filosofia e na antropologia, sem negligenciar a história e a sociologia. Quanto a ser compreendido, essa questão não me preocupa. É preciso fazer o elogio da ignorância (o mestre ignorante de Jacques Rancière) e da fragilidade da escrita que não aspira à Escritura, à verdade, ao dogma, à camisa de força ou à canonização dos filósofos do Estado, solitários e reconhecidos por aqueles que sabem ler.
CULT - Você acredita que sua produção intelectual consegue dialogar com a geração contemporânea, que não tem a ditadura ou a repressão sexual para combater?
Lins - A ditadura terminou. Não diria, porém, que a repressão sexual não existe no Brasil. Mulheres continuam sendo assassinadas, a maior parte em crimes passionais; o Brasil é um dos campeões de crimes contra travestis; ser homossexual não é uma glamourização para a maioria dos homoafetivos. A última Parada Gay em São Paulo mostrou que o desejo homossexual continua sendo um problema no Brasil.
O que nos resta? Tudo. Temos uma educação agonizante, com exércitos de crianças alfabetizadas, mas iletradas; uma política salarial sem comum medida com as exigências profissionais de um educador; a violência desmesurada; o entretenimento que ocupa de modo quase ditatorial o lugar das culturas; um pensamento único que torna idiota o mais "sabido" dos brasileiros; a violência inserida nas práticas pedófilas; a corrupção como prática política (triste Senado!), a lista é infinita.
O modo de resistir mudou, mas agir continua de uma atualidade extraordinária. Ainda bem que o Brasil não para de resistir: o país reivindica, entra em greve, de norte a sul, leste a oeste, há um desejo de mudança tanto social quanto cultural. Há uma reação viva em todo o país contra a besteira, contra a morte anunciada das culturas, mas tudo se passa em movimentos inseridos em ações micropolíticas não barulhentas, não mediatizadas, mas reais.
CULT - O que você pensa da aproximação entre os intelectuais e a mídia? Você acha que esse diálogo é possível no Brasil?
Lins - Não acredito numa filosofia separada da vida. Todavia, não atribuo importância a um jornalismo da banalidade e do elogio do discurso "fácil". Aqui há, de fato, um problema. A acusação de que pesquisadores e intelectuais não se adaptam ao modelo dos meios de comunicação pode ser vista no mínimo de três maneiras: de onde vem esse poder da mídia de decidir o que o público pode e deve ouvir, ver ou ler? Não há o perigo de cristalizar, de menosprezar o público exilando-o ou confinando-o em sua própria "ignorância"? Sair da linguagem erudita do acadêmico e cair no simplismo midiático não é ainda uma imposição de uma verdade, embora ela esteja atrelada à venda do material produzido?
Acredito no diálogo, mas não sei se os intelectuais, consagrados ou não, estão muito preocupados com a exigência da mídia a seu respeito. Frequento uma "elite intelectual" bastante ampliada, nunca ouvi nenhum desejo de mídia. Diálogo sim, pretensão e imposição nunca! Sinceramente, esse problema diz respeito muito mais à mídia que aos intelectuais. Eu dialogo bem com a mídia, gosto desse ambiente, sinto-me gratificado e, raramente, "censurado".
CULT - Você acredita que a filosofia pode "mudar o mundo"?
Lins - Não tenho nenhuma dúvida. O que deixou o mundo mais feliz não foi apenas a eleição de Obama, mas o fato de que sua filosofia esteja voltada para a paz, para uma multiplicidade mínima, para um humanismo à americana. Limitado, mas com linhas de fuga e resistência inseridas numa micropolítica apoiada indiretamente por uma filosofia vitalista, em que o desejo e a diferença não são blasfêmias, mas possíveis, espaços de respiração. Nunca se trata de "mudar o mundo"; em filosofia o messianismo não tem vez. Trata-se, antes, de dar uma chance mínima à filosofia e aos desejos para que a barbárie não derrube o que nos resta de alegria e vontade positiva de potência.