segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Os Jornais piauienses já descobriram o que é a internet?



Por: @juniorpi  


Parece que não!
Creio que as maiores surpresas da ultima década surgiram no ano de 2011, com uma série de revoltas em países do Oriente Médio, iniciadas principalmente nas redes sociais, que conseguiram mobilizar e agregar multidões em vias públicas, para pedir a saída de governantes – na maioria dos casos eram verdadeiros sanguinários – que jamais se imaginara fora do poder. Era assim na Tunísia, no Egito, no Iemên, no Emirado do Qatar e na Líbia do ditador assassinado Kadafi. Na prática, o que aconteceu nessas revoltas foi a mobilização, pela primeira vez, de milhares de pessoas pela Internet, deixando claro a possibilidade de organização e do chamado ciberativismo. Entende-se por ciberativismo a utilização da Internet com o objetivo de “divulgar causas, fazer reivindicações e organizar mobilizações”. A nova geração que era tida como despolitizadas, alienadas, drogadas, paralisadas, nerds, hiperindividualistas, etc, surpreende completamente nesse início de século. 
Dentro deste contexto das revoltas árabes, descontentamentos globais, ciberativismo, redes sociais, surge também no Piauí, ocasionados por uma enorme onda de insatisfação do cenário atual de injustiças e desigualdades sociais, alguns movimentos que conseguiram tirar as manifestações da realidade virtual e transportá-las para as ruas, através de grandes mobilizações; causando grande desconforto nos setores mais conservadores da sociedade. Os maiores exemplos são: #SOSUESPI #ASSINAELMANO e #CONTRAOAUMENTO.  A comunicação, mobilização e organização, foram feitas predominantemente pela internet através do twitter e facebook. Gerando um movimento acentrado, plural e desconcertante, no qual os manifestantes, informavam se tratar de uma ação horizontal, isto é, distante de hierarquias rígidas e dos salvadores partidários. “Nunca antes” na história de Teresina, protestos tinham tomado tais proporções.
Das três manifestações, o caso mais emblemático, polêmico e paradoxal, sem dúvida, foi o do  movimento #contraoaumento, um protesto de jovem, predominantemente estudantil, que foi às ruas em reação aos aumentos das passagens de ônibus. Reunindo milhares de ativistas que pararam o trânsito de uma das principais avenidas da cidade. Teresina ficou completamente desvairada. A inovação desses acontecimentos está na forma de movimentação política e social, ou seja, um “ativismo” iniciado principalmente nos meios eletrônicos por um contingente enorme de pessoas que jamais teve voz, exceto pelo procedimento tradicional do voto.
Diante do verdadeiro alvoroço causado pela Internet, a imprensa local, de forma amadora e provinciana, preferiu destilar todo seu conservadorismo contra qualquer ameaça ao seu Statu quo - vale lembrar que melhorias para uma maioria podem colocar em risco os interesses de uma minoria - É fato que a imprensa se sentiu intimidada, porque a sociedade se organizou para cobrar mais responsabilidade de seus veículos que agem como se fosse imparcial, mas que possuem uma clara preferência partidária.  Enquanto os manifestantes reivindicam: manutenção no preço da passagem, uma integração de verdade, licitações nas linhas de ônibus, entre outras questões; A imprensa convencional local, junta com os governantes, preferiu usar a tática do terror e agir de forma esquizofrênica para confundir a opinião publica com questões, sempre as mesmas, secundárias, do tipo: divulgar exaustivamente que as manifestações têm motivações partidárias e eleitoreiras, matérias que induzem a criminalização dos atos e que os “baderneiros” estão cerceando o direito de ir e vir da maioria da população, etc. Ou seja, em momento algum buscaram evidenciar se as reivindicações são justas ou não. Geralmente publicam comentários e matérias sem ouvir os manifestantes. No caso, percebe-se uma cobertura em que a informação nem sempre é averiguada da melhor maneira, de acordo com os princípios básicos de um jornalismo ético.
O posicionamento da mídia local convencional gerou uma tensão: quanto mais a imprensa tradicional tentava deturpar os acontecimentos, mais os manifestantes mostravam outra versão através das redes sociais. O papel da mídia tradicional regional foi questionado. Será que jornais e jornalistas podem se aventurar a distorcer e a mentir da forma como se fazia num passado não tão longínquo? Emissoras de TV podem maquiar os fatos, prejulgar população e construir matérias atreladas à visão de seus “patrocinadores”, mesmo quando a população sabe quem é e como pensam estes “donos”?  Como legados dessa imprensa tradicional, conservadora, ranzinza e rancorosa temos: jornais de baixa qualidade, emissoras de Rádio voltadas a difusão de ideologias político-religiosas, emissoras de TV que confundem opinião publica com a pessoal do dono, jornalistas mal remunerados,  redações castradas e pouco afeitas à pluralidade de idéias, etc. tudo isso sob o controle de políticos e empresários, sedentos por transformarem telespectadores em eleitores.
“Atentei bem”, a grande imprensa precisar acordar para o fato que é impossível fazer jornalismo na atualidade sem levar em conta a colaboração do publico e o que anda rolando nas redes sociais. É deste conjunto que virão pautas, diálogos e quem sabe a própria manutenção do oficio de jornalista. Desta forma, a imprensa que insistir em subestimar o poder da Internet, que é um meio facilitador no processo de produção e difusão de conteúdo, contribuindo, cada vez mais, para a pluralidade de vozes no ambiente virtual, está fadado ao fracasso. Os meios de informação que não se renovarem, isto é, os meios que abdicarem da busca constante por novas perspectivas dos acontecimentos, insistindo em rejeitar um diálogo sincero e coerente com as novas tecnologias de informação, pode acordar um dia e ter a surpresa de sentir-se obsoleto, desnecessário e ridículo. Este dia pode está mais próximo que se imagina; talvez ontem, hoje ou amanhã. Até porque, as redes sociais virtuais vêm crescendo como uma eficiente ferramenta de mobilização e como uma nova alternativa de comunicação; por possuir maior agilidade na disseminação da informação, capilaridade e a possibilidade de cada indivíduo expressar e disseminar os acontecimentos.  Como pregam alguns ativistas: “Odeia a Mídia? Torne-se Mídia”. O pólo de emissão foi liberado. Agora, todos podem (com mínimos recursos) produzir e circular informação sem pedir autorização ou o aval a quem quer que seja. Vivemos tempos de uma geração que de forma lúdica não mascara nenhum tipo de “conteúdo político oculto e perigoso”. "Tudo é permitido!".
É inegável que vivemos um fenômeno que alterou as regras do jogo entre os veículos tradicionais e os alternativos de comunicação. No Brasil, as potencialidades são enormes e cada vez maioires. Hoje somos o 5º país com o maior número de conexões à Internet. Segundo o F/Nazca, somos 81,3 milhões de internautas tupiniquins (a partir de 12 anos), o país terminou o ano de 2011 com 38 milhões de acessos à internet móvel. Muitas pessoas se utilizam das diversas mídias sociais (twitter, facebook, orkut) para obter informações. Sem perceber, “os brasileiros estão aprendendo o be-a-bá do ciberativismo nas suas práticas cotidianas na rede”. Basta um empurrãozinho para o estopim de movimentos. Antes, votava-se e só quatro anos depois o político se sentiria ameaçado, agora as regras do jogo podem sofrer mudanças durante a partida. Pense nisso, caro governantes, antes de tomar qualquer decisão importante, não custa nada consultar as redes sociais. Porque depois, as conseqüências podem ser irreversíveis. Não dá mais para desprezar a presença crescente das pessoas nas novas mídias. E isso terá um impacto cada vez maior.


sábado, 9 de abril de 2011

A vida tem inicio?


Não matarás
Adoro debates! Mas debates esclarecedores. Está em pauta atualmente o debate sobre o aborto. Não sei nem se posso chamar de debate, pois geralmente é de um sectarismo empobrecedor. Muitas vezes um pouco de conhecimento histórico serve como luzes.
 Historicamente essa questão da vida sofreu grandes transformações. Por volta de 1500 e 1600, ainda sob forte influencia cristã e desconhecimento da embriologia, a vida começava no parto. O início e o termino da vida se dava da seguinte maneira: quando o individuo nascia e dava a primeira respirada, a alma entrava e iniciava-se a vida. Consequentemente no último respiro a alma deixava o corpo e dava-se a morte. Observe que nesse período não tínhamos auxilio da embriologia.
Com o avanço da ciência, essa questão mudou para a seguinte maneira: a vida passou a ter início quando o espermatozoide fecunda o óvulo, ou seja, o inicio da vida mudou da respiração pra fecundação. E a igreja foi convencida pelos cientistas de tal ideia. Em seguida ocorre outra mudança; com a ajuda dos estudos de William Harvey sobre a circulação, a respiração cede lugar para o batimento cardíaco como indicativo de termino de vida(confesso que não muda muita coisa). Com o advento dos transplantes, mais recentemente, o coração cede lugar para morte cerebral como indicativo de fim da vida. Tudo parecia está definido, mas surge o movimento pró-aborto. Com o movimento pró-aborto, surge junto o seguinte dilema: a vida começa um pouco depois da fecundação. A vida inicia só quando temos formação cerebral. Já que esse critério é utilizado como término da vida. Observe que no primeiro momento, o aborto poderia ser cometido numa boa, pois só no parto iniciava-se a vida. A ciência convence a igreja para dizer que é na fecundação. Agora ela quer convencer novamente a igreja de que é posterior a fecundação. 
Perceba a grande mudança que ocorrer ao longo da história. Daí a questão hoje para igreja, é a seguinte: na hora que a célula se constitui já existe vida em potencial e não pode ser descartada. Só que para o fim da vida, esse critério não é levado em conta. O critério é a morte cerebral. Até porque nós sabemos que mesmo depois que o coração e o cérebro deixam de funcionar, algumas células continuam vivas por uns dias, por exemplo: unhas e cabelos. Continuam crescendo por volta de 4 a 5 dias após depois da “morte”. O problema, observe, tá na definição. No fundo o não matarás é a grande questão. Agora restar saber o que o verbo matar significa. E você, o que acha?
Conhecimento
Inicio da vida
Fim da vida
Igreja 1500-1600
Primeira respiração
Ultimo respiração
Com a embriologia
Fecundação
Respiração
Sistema circulatório
Fecundação
Coração pára de bater
Transplante de órgãos
Fecundação
Morte cerebral
Movimento pró aborto
Quando cérebro começa a se formar
...
hoje
?
?

quarta-feira, 30 de março de 2011

É tão tranqüilo ser menor


Adoro o Twitter. Nele somos todos humanos, demasiados humanos. Não há lugar melhor para desabafos. É um verdadeiro confessionário! Outro dia uma prestimosa amiga tascou em tom de questionamento que estava “Triste como alguns "militantes" de partidos políticos se aproveitam de mobilização estudantil” em referencia as manifestações na UESPI. Respondo, por que isso ocorre, de forma direta e simples: é pelo mesmo motivo que as pessoas assistem o BBB. Calma! Explico melhor.

Segundo o Francês Jean Braudrilhar, as pessoas assistem o BBB, além da espetacularização, pelos seguintes motivos: porque são idiotas, porque nada têm para fazer, porque adoram espiar os outros pelo buraco da fechadura e porque se identificam. As respostas obedecem à mesma complexidade do programa. Por espetáculo como esse, podemos ser transformados em idiotas sem culpa e com direito a aparição na mídia. Percebeu a semelhança com os tais militantes de partidos políticos?

Você pode alegar que recorri a um filosofo pós-moderno, e que quase todos são relativistas, niilistas, indiferentes... Então me apoiarei em Kant, que é tido como um dos mais radicais pensadores da modernidade. Para alguns, a modernidade tal como pensamos hoje, não seria possível sem o seu pensamento. É um dos pilares da modernidade! Como seu pensamento é bem amplo, me atenho especificamente aos conceitos de maioridade e minoridade. Através deles é possível explicar porque “militantes de partidos políticos se aproveitam de mobilização de toda natureza, não só a estudantil.

Para Kant, alcançar a autonomia implica em abandonar a minoridade em direção à maioridade. Mas isso só é possível quando o individuo decide se servir do próprio entendimento sem está submetido a o entendimento de outro. A idéia é simples: a maiorias imensas das pessoas repetem o que os outros vivem. Vivem em função de conselhos alheios à sua experiência. Isso é viver na minoridade.

Agora viver na maioridade, pressupõe a coragem para pensar e deliberar sobre a vida a partir do próprio entendimento. É claro que por conta do nosso medo e de nossa covardia, tiranos se apresentem como tutores da nossa vida. Até porque, “é tão tranqüilo ser menor” diria Kant. Afirmo sem rodeios que o homem passa por um processo idiotização progressiva. Antes éramos mais obrigados a pensar. É só ir numa banca de revista e seus problemas acabaram. Basta observar a infestação de livros que começa com o a palavra “como”: Como ficar rico, como ter saúde, como fazer amigos, como ser feliz...

É uma proliferação de formulas tirânicas: na política, na religião, no comportamento, etc. Você não precisa pensar, lutar, protestar... tem um cara que me diz: o que vestir, comer, andar e até como fazer sexo... Isso evita que você pense e decida sobre sua vida. O Statu quo é “Para que eu irei me matar de pensar se tem alguém que pode fazer isso pra mim?” Perceba que ser menor é bem mais cômodo.

É difícil decidir sobre a própria vida.

Nessa questão, é impressionante a atualidade do pensamento Kantiano.

Perceba que os militantes que a incomoda, é apena mais um tirano, dentre vários...

Para quem não quer pensar, está tudo pronto e acabado!

Mas a pergunta é: o que se ganha em ser maioridade?!?!

Agora se resolver ser autônomo, com certeza irá incomodar muitos tiranos.

terça-feira, 29 de março de 2011

UESPI transviada

UESPI transviada

O interesse move as pessoas. Assim como Sartre pregava que a existência precede a essência, o interesse precede o ato. Não vejo problema algum em agir de acordo com interesses. Contanto que o coletivo nunca seja colocado de lado.

Historicamente no Brasil a educação nunca foi prioridade. Isso é fato. No Piauí, não é diferente. Até acho que a educação tende a melhorar, pois comungo do mesmo pensamento da filosofia Olgária de Matos onde afirma que “chegamos à situação tão ruim que não tem mais para onde piorar. Estamos no fundo do poço!”. Basta um pouquinho de senso histórico para perceber que a UESPI não agoniza de agora. Para não dizer desde seu nascimento. Pegaram um colégio e resolveram transformar em universidade. Tão simples como “dois e dois são cinco”.

Só que nos últimos dias, a “mamãe UESPI” que já foi estuprada por toda a classe política que esteve no poder até os dias atuais, está sendo violentada pela mídia. Com direito até a invasão da reitoria (prática medieval estimulada por rebeldes sem causa) por “estudantes conscientes” de seus direitos. O mais hilário de todos são as motivações: são contra adesão da UESPI ao Enem. Os argumentos são dos mais chocantes e “ilegítimos”. O principal deles é que vai aumentar a concorrência (mas os estudantes do PI não são o melhores do Brasil? Chega a ser um traço cultural. Você não precisa estudar. Basta nasce em Teresina e seus problemas acabaram). Sim, mas a conseqüência disso é um corpo discente mais qualificado. E quem ganha com isso? Fala-se também prejudicar o regionalismo (história, literatura, geografia). Fico pensando... o regionalismo piauiense está “ligeiramente” atrelado ao vestibular? Ou seja, a cultura local só me interessa se cair no vestibular. Coitada da filosofia e sociologia...estão condenadas ao desaparecimento. Talvez isso justifique conhecemos tão pouco da nossa cultura. Esse argumento em defesa do regionalismo é falacioso. A maioria dos alunos apenas decora o conteúdo regional dias antes do vestibular. São as chamadas “ revisões”, Café Aula, etc. O fato é que conhecem bem mais o Justin Bieber que o velho e guerreiro Cinéas Santos. Problema? Nenhum

O que se vê prevalecer, mais uma vez, são os interesses pessoais. Agora me pergunto, até quando o “futuro vai repetir o passado”?

A UESPI é bem maior que essa hipocrisia transvestida de altruísmo

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ser professor


Tenho visto coisas na minha vida. No geral, as ruins prevalecem. Mas uma vez por outra o mundo quebra sua lógica e me surpreende.

Tento ser professor. Embora seja diariamente bombardeado por acontecimentos desestimulantes. Calma que já explico onde quero chegar.

Meu café da manhã sempre tem um ingrediente no qual sou dependente: a leitura de notícias. Gosto de curiar vários portais... Num determinado dia me deparo com uma noticia que prendeu minha atenção. O titulo era mais ou menos o seguinte “aluno joga cadeira em professora”... Parei para pensar e resmunguei “Ser professor está cada dia mais difícil”. Na verdade, eu apenas fiz coro ao que sempre ouvimos sobre a educação: que não vale a pena, paga mal, alunos desinteressados, etc. Esse discurso é tão hegemônico que às vezes chego a pensar que a profissão professor é o purgatório. Só que a vida, às vezes, quebra sua lógica e resolve surpreender. No mesmo dia que vi a notícia onde o aluno agredia a professora, me deparei com uma imagem singela. Vi uma aluna de uns 5 anos fazer cafuné na professora. Aqueles dedinhos pequenos entre os loiros cabelos da professora que, tinha uma expressão de está em outro mundo. Ai, que inveja!!! Fui afetado alegremente por tal imagem.

Fatos positivos existem, basta sabermos direcionar o olhar. Um pouco mais de vocação e menos ressentimento é fundamental para o surgimento de uma atitude pró-ativa com a educação.

Utópico? Creio que não tenho mais idade para isso.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Paradoxos da nossa sociedade

Gostei dessa polêmica em torno da criação dos animais. Como sempre, Juremir, mandou muito bem. Como um bom polemista, ele mais uma vez logrou êxito.

Segue três textos dele sobre a polêmica. A sequencia dos textos parte do mais recente para o menos...


Paradoxos da sociedade cachorreira

Escrevi sobre indiozinhos pedindo esmolas nas ruas de Porto Alegre.
Recebi uns oito comentários. Nada mais.
Grande indiferença.
Escrevi sobre cachorros. Minha caixa está entulhada de elogios, reclamações, críticas, insultos e apoios.
Eu me interesso pelos paradoxos sociais. Nem sempre faço julgamentos.
Mas gosto de dialogar com contradições.
Inclusive com as minhas.
As sociedades avançam e recuam ao mesmo tempo.
Estamos mais responsáveis em relação a certos animais, o que é bom, e menos responsáveis em relação a certos problemas sociais, o que é mau, como se o amor por certos animais crescesse de modo inversamente proporcional ao interesse pelos problemas humanos.
Certos animais, como os cachorros, podem ser tratados como crianças, enquanto certas crianças são tratadas como vira-latas. Denunciamos os maus tratos aos animais, o que é ótimo, e deslizamos para o super bom tratamento de alguns bichos, o que suscita interrogações.
Protegemos certos animais e comemos outros.
Peguemos situações extremas e extremamente corriqueiras: a mesma pessoa que denuncia o vizinho por ter abandonado um cachorro, o que é lamentável, o faz enquanto saboreia uma cordeirinho mamão ou um terneiro com batatas, o que é um costume socialmente aceito.
Mas já não por todos.
Quem tem a superioridade moral nesse caso?
Quem abandona o cachorro? Claro que não.
Quem come terneirinho com batatas jogando pedacinhos para seu cachorrinho calçando sapatinhos bordados?
O mundo é cheio de contradições.
Admiro os veganos. Conhecimento de wikipédia: “Para o vegano, animais não existem para os humanos, assim como o negro não existe para o branco nem a mulher para o homem. Cada animal é dono de sua própria vida, tendo assim o direito de não ser tratado como propriedade (enfeite, entretenimento, comida, cobaia, mercadoria, etc). Dessa forma veganos propõem uma analogia entre especismo, racismo, sexismo e outras formas de preconceito e discriminação”.
Os veganos querem abolir o cativeiro dos animais.
Não os comem.
Nem os carregam em carrinhos de criança.
Não os querem como propriedade.
Onde vai parar, do ponto de vista de um vegano, a superioridade moral de quem tem seu cachorrinho de estimação? Ou seja, em cativeiro (propriedade), ainda que dourado? As coisas são sempre mais complicadas.
Se eu não adorasse picanha e não fosse um homem banal, tentaria ser vegano. Há lógica e coerência aí. E ética.
Uma coerência quase ingênua, utópica, de quem sonha eliminar a contradição do mundo dos homens.
Fico estarrecido quando alguém me chama de radical por causa da minha posição em relação ao trato de certos seres humanos com seus cachorros.
Estou criticando o radicalismo.
É intelectualmente pobre, simplório, patético, alguém dizer que não gosto de cachorros por criticar o que me parece um excesso, a antropomorfização dos animais.
Tenho um amigo que diz volta e meia: quanto mais reacionário, mais cachorreiro.
Quanto mais anti-humanista, mais cachorreiro.
Não acredito que seja uma lei.
Conheço cachorreiros não reacionários.
E reacionários não cachorreiros.
Mas quando alguém marca hora no salão de cachorros para fazer as unhas e os pelos do seu animalzinho, aproveitando para bater um papo com amigos em que se fala mal das cotas para negros, do bolsa-família, das ajudas sociais e reclama-se a diminuição ao mais baixo possível da idade penal para colocar por 30 anos crianças na cadeia, dizendo que não são gente, isso soa como um choque, uma porrada na cara.
Ou como mais um paradoxo.
Que um cachorro tenha hora marcada numa estética enquanto milhões de pessoas esperam nas filas do SUS, soa como uma bofetada na face de muita gente, ainda que os donos dos cachorros não sejam os responsáveis por isso.
Concordo com o leitor que me diz ser mais grave a situação e que devo considerar toda forma de consumismo fútil, inclusive as que eu pratico, como algo chocante e inaceitável. É verdade. O consumismo é a nossa chaga.
Quando alguém me diz que os cachorros são elos com o divino ou seres mais racionais que os homens, só posso sorrir com bonomia, compreender e ir em frente.
Quando alguém me diz que o universo pet gera empregos e aquece a economia, eu só posso sorrir de novo diante desse pragmatismo que não perde tempo pensando em princípios.
Quando alguém me diz que o cachorro pode ser a única alegria e companhia de uma pessoa, eu louvo e aplaudo.
Mas me pergunto: que mundo é este em que uma pessoa só tem como alegria e companhia uma cachorro?
Que mundo é este em que os velhos são, cada vez mais, postos em asilos (clínicas geriátricas) enquanto os cachorros ganham quarto e tratamento privilegiado em casa?
Será o resultado de um mundo de desagregação da família ampla, de enfraquecimentos dos laços sociais, de isolamento, de solidão, de ceticismo, de egoísmo, de desresponsabilização com o complexo e de atomização?
Quando alguém me diz que só um cachorro dá amor incondicional, eu respondo: o belo do amor humano é quando ele impõe condições. O resto é submissão.
Por que protegemos alguns animais e não outros?
Fatos sociais. Realidades de uma cultura.
Que me critiquem por defender a humanidade, é algo que, mais uma vez, me faz sorrir com bonomia.
Que digam que estou promovendo o abandono de animais ou legitimando maus tratos, é algo que só me faz pensar uma coisa: quem diz isso, não me leu. Ou tem sérios problemas de interpretação de textos. Ou uma mente maniqueísta.
Quando me dizem que devo tratar meus medos e traumas, poderia ser deslegante e responder: vá tratar suas carências.
Mas não o faço, pois os medos, traumas e carências são sempre legítimos e incontestáveis.
Quando me dizem que sou ignorante, penso na "douta ignorância" que ilumina e convido cada um a pensar na sua.
Até Socrátes se achava ignorante.
Já lati demais.

Postado por Juremir Machado da Silva - 09/02/2011 16:18 - Atualizado em 09/02/2011 16:25

Mais polêmica sobre cachorros (1)

A polêmica sobre cachorros continua. Não tenho tempo de responder a todos os que me escreveram. Minha resposta coletiva saiu hoje no Correio do Povo. É a que segue:
*
Meus sustos

Na semana passada, escrevi aqui sobre certos exageros na relação dos seres humanos com seus animais de estimação. Alguns leitores ficaram assustados com a minha opinião. Eu também tenho os meus sustos. Eu me assusto quando ouço alguém dizer que quanto mais conhece os homens, mais prefere os animais. Eu me assusto tentando imaginar com que seres humanos essas pessoas convivem. Eu me assusto quando alguém me diz que o afeto mais sincero nos é dado pelos animais. Mais uma vez, eu me assusto pensando nos amigos, amores e parentes de quem diz isso. Eu me assusto quando vejo crianças pedindo esmola e cachorros com hora marcada para fazer as unhas e pelos. Eu me assusto quando sei que pessoas gastam mais de mil reais por mês com seus cachorrinhos enquanto milhões de brasileiros não ganham isso para sustentar a família.
Eu me assusto quanto vejo alguém beijar cachorro na boca, carregá-lo em carrinho de criança ou chamá-lo de meu filhinho. Eu me assusto quando vejo carnívoros contumazes pregarem moral em defesa dos animais. Eu me assunto ao pensar que a mesma sociedade que protege os cães lambe os beiços comento um cordeirinho mamão assado. Por que essa discriminação com bois, porcos, ovelhas, peixes e galinhas? Eu me assusto pensando que nós, carnívoros, somos cúmplices de assassinatos em massa a cada dia. Eu me assusto com quem maltrata animais e com quem confunde criticar exageros dos seres humanos com não gostar de animais. Eu me assusto quando ouço especialistas explicarem que não há perigo com certos cães desde que eles sejam bem adestrados e conduzidos com guia curta, focinheira, enforcador e por quem tenha força suficiente para detê-los. Uau! Para quê? Por quê? Eu sou muito assustado. Eu me assusto com nossas contradições.
Eu me assusto quando uma criança é morta por um cão feroz, o que acontece com muita frequência, e só ouço palavras para justificar o animal. Eu me assusto com quem diz que só confia no seu cão ou no seu gato. Eu me assusto com que afirma só conversar com seu bichinho de estimação. Eu me assusto ao pensar que isso pode ser o sintoma de uma sociedade cada vez mais egoísta e umbilical, na qual se prefere destinar os melhores afetos e recursos para animais do que para crianças desconhecidas e necessitadas. Eu me assusto com quem diz “eu amo o meu cachorro” em lugar de “eu gosto muito do meu cachorro”. Eu me assusto pensando que não sou exemplo, não faço a minha parte, mas me choco com essa sublimação de afetos represados. Eu me assusto muito.
Eu me assusto inventando ironias para tentar entender essa obsessão. Cães e gatos não correm o risco de fumar crack ou de virar emo. Eu me assusto pensando que algumas pessoas não se assustam com isso e que se pode chamar a humanidade de perigosa, mas não um pit-bull. Eu me assusto pensando que essa paixão por bichos é um sintoma de solidão. Eu me assusto pensando que certas pessoas amam seus bichos porque podem adestrá-los e submetê-los ainda que lhes gabem a autonomia. Como o personagem de Robert Musil, eu me assusto quando um cavalo é chamado de genial. E um buldogue de meu amor.

Escrevi o texto que segue no Correio do Povo. Recebi muitos comentários (que poderão ser lidos na sequência)
*
Cães e gostos

Em Santa Catarina, um pit-bull quase arrancou as mãos da irmã de um amigo meu. Vou provocar latidos, rosnados e ataques. Eu odeio pit-bull. É um bicho horrendo, com uma cara pavorosa, agressiva e assustadora. Não consigo entender o que pode levar alguém a ter um animal tão hediondo. Volta e meia, um pit-bull mata uma criança. Os defensores da raça saem a campo para dizer que a culpa foi dos seres humanos, pois o bichinho seria por natureza “dócil, leal e equilibrado”. Duvido. Sou traumatizado com cachorros. Na infância, fui mordido várias vezes. Eu tinha de ir todas as manhãs a uma casa onde morava um buldogue. Eu tinha horror daquele monstro, que saltava em cima de mim todos os dias. O dono sempre me dizia indiferente ao meu pânico: “É só não mostrar medo que ele é doce, amigo e brincalhão”. Uma ova. Eu morria de medo, ele pressentia e me atacava sem piedade.
Já vi gente juntando cocô de pit-bull na rua, pegando aquilo tudo com a mão dentro de um saco plástico. Eu prefiro passar uma temporada no presídio central a sofrer uma tortura como essa. Segundo um dono de pitt-bul que conheci, a culpa pela má imagens dessas feras é da mídia. Para mim a humanidade está perdendo definitivamente os pinos. Vejo gente beijando cachorro na boca, carregando cachorro em carrinho de criança, vestindo cachorro com roupinha de nenê e chamando cachorro de meu bem. Eu, hein! Nada tenho, em geral, contra os cachorros. Cachorra eu até entendo. Tive um cachorro, quando adolescente, o Lobo. Era um lindo vira-lata baio. Só gosto de vira-latas. É questão de identificação. Já tem gente defendendo até que o homem deve ser visto como o melhor amigo do cão. Por que não?
O politicamente correto antiespecismo permite que se fale mal do vizinho – sendo que cada um quase sempre tem mil razões para falar mal do vizinho, menos eu –, mas não do cachorro dele. Dizem que é uma questão de ética. Sou contra maltratar animais. Nem por isso acho bonito andar por aí com um monstrengo sempre prestes a tentar engolir alguém. Vou confessar, pronto: quando vejo uma mulher chamar um cachorro de meu filhinho, numa boa, eu me retiro. Se eu dia eu voltar a morar numa casa, terei um cachorro. No pátio. A sua obrigação será nunca assustar alguém e jamais pôr uma pata dentro de casa. Sei que tem cachorro limpinho, até mais cheiroso do que muita gente, mas não me acostumo. Sou de Palomas. Lá, quando cachorro entrava na casa, a gente gritava: “Sai pra lá cachorro”.
Sou grosso. Represento a “era Dunga” do jornalismo. Misturo Beethoven com José Mendes e Gildo de Freitas. Cachorro comigo é do lado de fora. A frescura canina está passando de todos os limites imagináveis. Tem gente que não pode viajar nas férias por não ter com quem deixar o cachorro. Em Paris, já pisei em muito cocô de cachorro. Meu trauma só aumentou. Essa obsessão por cachorros é pura transferência de energia afetiva represada. Carência. Crianças dão mais trabalho e, depois de certa idade, perde-se o controle sobre elas, que podem acabar no crack. Estou exagerando? Claro. Eu sempre exagero.

Postado por Juremir Machado da Silva - 05/02/2011 15:15

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Vergonha

Não fui atrás da veracidade do texto. Se foi o Veríssimo mesmo que escreveu.Nesse caso, pouco importa qm é o "pai da criança". É uma boa critica.

Sempre afirmo que o BBB é um bando de "NINGUÉM" fazendo "NADA". O resultado dessa mistura deixo por conta da imaginação de vcs.


BIG BROTHER BRASIL


(Luiz Fernando Veríssimo)

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço...A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil,... encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.


Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE...

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.

Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo.


Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.


Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis?


São esses nossos exemplos de heróis?


Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros: profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..


Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.


Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.


Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria Rede Globo.


O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.


E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!


Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.


Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?


(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)


Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.


Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ler a Bíblia, orar, meditar, passear com os filhos, ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.


Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.

Um abismo chama outro abismo.