quarta-feira, 10 de junho de 2009

E-books, uma transformação possível


Livros escolares impressos?

Matthew Garrahan e Andrew Edgecliffe-Johnson, Financial Times
10/06/2009

Na sua cruzada para reduzir bilhões de dólares do crescente déficit orçamentário da Califórnia, Arnold Schwarzenegger vem liderando a investida rumo à geração do Twitter com uma promessa de substituir os caros e “superados” livros de texto escolares por aparelhos digitais.

O Estado está prestes a se tornar o primeiro nos EUA a abandonar os livros escolares impressos. Schwarzenegger, o governador do Estado, disse que a iniciativa poderá economizar até US$ 350 milhões ao ano.

“Os livros escolares estão superados no que me diz respeito”, disse. “Não existe motivo para nossas escolas obrigarem os nossos estudantes a arrastar esses livros escolares antiquados, pesados e caros. A Califórnia é a terra natal do Vale do Silício, líder mundial em tecnologia e inovação, portanto podemos fazer melhor do que isso.”

A Califórnia liderou recentemente o resto do país na instituição de novos e rigorosos padrões para emissões de gases veiculares para conter a mudança climática e suas regulamentações acabaram sendo adotadas por Washington.

A iniciativa digital foi elogiada pelos conselhos diretores escolares carentes de dinheiro do Estado. “Ela economiza para as nossas escolas somas consideráveis de recursos reservados para livros escolares e, no nosso mundo em constante mutação, confere às editoras a oportunidade de atualizar os textos rapidamente com os mais recentes acontecimentos mundiais”, disse Jim Vidak, superintendente escolar no Condado de Tulare.

A Califórnia convidou programadores de conteúdo a fornecerem inicialmente livros escolares digitais em matemática e ciências, que o Estado examinará em tempo para o próximo ano escolar.

Schwarzenegger manifestou confiança de que os estudantes possam se beneficiar dos recursos de aprendizagem digitais, dizendo que eles estão acostumados a usar informação em tempo real no Facebook ou no Twitter. “A Califórnia é a terra natal dos colossos de software e dos pioneiros em pesquisa de biociência”, disse. “Mas os nossos estudantes ainda estudam a partir de materiais de instrução em formatos criados pela prensa tipográfica de Guttenberg. É despropositado - e oneroso - querer os livros tradicionais de capa dura quando a informação está disponível em formato eletrônico”.

Num momento em que a Califórnia enfrenta um déficit orçamentário recorde de US$ 24 bilhões, porém, o Estado poderá ter de enfrentar altos custos iniciais - especialmente considerando que Schwarzenegger se comprometeu a disponibilizar livros escolares digitais para cada um dos dois milhões de estudantes do Estado.

“O principal sentido prático é que até os estudantes terem acesso pleno e igual a computadores, esta iniciativa será muito difícil de ser implantada”, escreveram analistas do Citigroup, em nota de análise.

O Estado é um dos maiores compradores de livros escolares no mundo, assim que a transição para ensino digital poderá ter grandes implicações para editoras, como a Pearson, proprietária do “FT”. “A Pearson é agnóstica quanto à forma em que seu conteúdo é acessado, mas o importante para nós é que o material seja de alta qualidade e eficaz”, disse a companhia.

“As crianças querem lidar com uma ferramenta que seja interativa”, disse Jake Neuberg, executivo-chefe da Revolution Prep, uma empresa com sede na Califórnia que fornece elaboração de provas e ferramentas de ensino digital para estudantes. “As ferramentas de ensino não mudaram durante centenas de anos”.

Uma placa USB de 4 gb sai por uma merreca. Nela provavelmente cabe toda a Enciclopédia Barsa. As escolas estão sendo informatizadas. O custo de preparar um livro em PDF é irrisório. Qual a lógica de livros didáticos impressos?

Por aqui mesmo, vários comentaristas têm criticado essa obsolescência. O papel de uma editora de livros tornou-se mais irrelevante que de uma gravadora. O autor supostamente detem os direitos autorais. Bastará às Secretarias de Educação e ao MEC promoverem a seleção dos autores - ou adquirir o conteúdo - montar uma biblioteca digital e permitir a cada escola baixar não um ou dois livros, mas todos que quiserem.

A maior dificuldade para a implantação desse modelo no Brasil é o fato das verbas de educação terem se transformado no terreno ideal para esquemas políticos com a mídia e com financiamento de campanha.

Mas certamente essa proposta de digitalização teria o apoio da Abril, da Folha, do Globo, pois combate aquilo que a imprensa considera a maior vulnerabilidade do(s) governo(s): aumento de gastos correntes.

Veja o que a Califórnia está planejando.


Fonte: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/06/10/livros-escolares-impressos/

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