terça-feira, 28 de abril de 2009

domingo, 12 de abril de 2009

Reconhecimento as avessas


Estranho o caso desse delegado...até pouco tempo ficava puto e indignado com o que está acontecendo com esse cidadão, mas agora saquei que na verdade, ao invés de destruí-lo, estão é transformando num ídolo nacional. "Vão ter que me engolir" deveria ser seu lema.
No caso Daniel Dantas, o não dito está conseguindo superar o dito, e, consequentemente beneficiar o delegado. Creio que ele todos os dias, já que se diz católico praticante, agradece em suas orações a revista Veja e a CPI do grampo.

Entenda mais um pouquinho o caso:

Como Protógenes esnucou a CPI

Atualizado em 12 de abril de 2009 às 21:22 | Publicado em 12 de abril de 2009 às 19:05

por Luiz Carlos Azenha

Não sei o que o futuro reserva ao delegado Protógenes Queiroz. Talvez ele continue delegado da Polícia Federal. Talvez seja expulso da corporação e se eleja deputado federal.

O fato é que ele já ajudou a colocar o guizo no rabo do gato. Por querer ou sem querer já revelou mais sobre os bastidores do poder no Brasil do que a grande maioria dos jornalistas.

A gente julga o impacto do que o delegado tem feito pelo que dizem dele. A revista Veja, por exemplo:

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Sexta-feira, Abril 10, 2009

CPI dos Grampos

Protógenes se cala e a PF volta a investigar Daniel Dantas

Um silêncio ensurdecedor

O delegado Protógenes Queiroz surpreendeu mais uma vez: depois de acusar até o presidente Lula de ter sido cooptado pelo crime organizado, ele prometeu que daria "nome aos bois". Na hora de falar, calou-se


Expedito Filho

legenda para a foto de Protógenes:

TALENTOSO RIPLEY

Recebido na CPI por uma claque que se autointitulava frente contra a corrupção, Protógenes frustrou seus admiradores ao não apontar um único nome da organização criminosa que, segundo ele, dominou até o subsolo do Brasil

É constrangedor para um suspeito quando, em vez de se defender, ele precisa se calar para não produzir provas que o incriminem. Foi isso que ocorreu na semana passada com o delegado Protógenes Queiroz, chefe da Operação Satiagraha, que apurou crimes e levou à condenação do ex-banqueiro Daniel Dantas a dez anos de cadeia.

Afastado da investigação por causa de um festival de abusos, ilegalidades e trapalhadas, o delegado se recusou a responder a quase uma centena de perguntas no depoimento de seis horas que prestou à CPI dos Grampos. A sucessão de negativas frustrou até mesmo sua claque política, uma autoproclamada frente contra a corrupção integrada por ínclitos como o senador Wellington Salgado (réu por crime contra o patrimônio, apropriação indébita e sonegação) e os deputados federais Paulinho da Força (indiciado pela PF por corrupção) e Paulo Lima (réu por sonegação e falsidade ideológica).

Essa turma, talvez por uma inclinação suicida, esperava que o delegado cumprisse a promessa de dar "nome aos bois e expor os meandros da corrupção no Brasil" em seu depoimento à CPI. "Foi uma decepção geral. O delegado perdeu a oportunidade de se defender das graves acusações que existem contra ele", diz o deputado federal Marcelo Itagiba, presidente da CPI.

O comportamento bipolar do delegado se revelou dias antes do depoimento. Em conversa reservada com os deputados Raul Jungmann (PPS-PE), Gustavo Fruet (PSDB-PR) e Vanderlei Macris (PSDB-SP), Protógenes disse estar disposto a contar detalhes sobre um alegado tráfico de influência patrocinado pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, durante as negociações para a compra da Brasil Telecom pela Oi (ex-Telemar).

Disse também que um dos filhos do presidente Lula, Fábio Luís, o Lulinha, foi cooptado pela "organização criminosa" de Dantas. Sob os holofotes da CPI, porém, o delegado negou que o filho do presidente e a ministra Dilma Rousseff tenham sido alvo de investigação. Ele não respondeu às perguntas sobre a tal cooptação de Lulinha nem sobre o interesse de Lula na operação. Também se calou a respeito das suspeitas que lançou sobre a ministra, registradas em relatórios encontrados em seu computador pessoal. "Ele nos disse que detalharia tudo isso na CPI. Não dá para entender", lamentou o deputado Fruet.

legenda para a foto de Dantas:

DANTAS CONTRA A PAREDE

A Polícia Federal está refazendo a investigação contra Daniel Dantas: expectativa de punição do ex-banqueiro

É fácil entender por que o delegado preferiu o silêncio diante das suspeitas que o cercam. Por que ele armazenava investigações clandestinas sobre Dilma Rousseff, o ex-ministro José Dirceu, o presidente do Supremo Tribunal Federal, entre outras autoridades? Por que ele guardava gravações ilegais de jornalistas? Sem respostas, amparado por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal, o delegado preferiu se calar porque os arquivos, encontrados em seus computadores, são provas materiais de seus crimes. E elas não param de surgir.

Em um arquivo protegido por senha, mas já desbloqueado pela PF, há um relatório de arapongas da Abin com os números telefônicos de Bernardo Figueiredo, então assessor de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Outro arquivo prova que Protógenes investigou o advogado Eduardo Ferrão, ex-sócio do ministro da Defesa, Nelson Jobim. O delegado, que já foi indiciado pela PF por quebra de sigilo funcional e violação da lei de interceptações, em breve também terá de responder judicialmente pelas ilegalidades arquivadas em seus computadores.

Enquanto Protógenes se calava diante da CPI, em São Paulo e no Rio de Janeiro a Polícia Federal realizava diligências para reparar as trapalhadas do delegado na Operação Satiagraha. Os agentes vasculharam oito endereços do banco Opportunity, no Rio de Janeiro e em São Paulo, em busca de provas de crimes contra o sistema financeiro. Eles recolheram livros contábeis e contratos de empresas controladas por Dantas que fariam operações cruzadas de empréstimos.

A existência ou a simulação dessa prática é proibida por lei, para evitar que o mecanismo seja utilizado para ocultar a origem de dinheiro ilícito. Transcorridos mais de dois anos desde que a Satiagraha teve início, Daniel Dantas nem sequer foi denunciado à Justiça pelos crimes financeiros que motivaram a desastrada operação de Protógenes. Sua condenação a dez anos de prisão ocorreu pela tentativa de corromper um dos delegados que o investigavam. Espera-se que a PF consiga dar à Satiagraha um mínimo de lógica e que ela produza provas reais contra malfeitores, e não apenas divagações lisérgicas de Protógenes e seus mentores. Será muito ruim para o Brasil se o preço do destrambelhamento e das ambições políticas do delegado Protógenes for a impunidade de criminosos como Daniel Dantas.

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Eu, Azenha, observo:

Visando dar cobertura à sua atuação em defesa dos interesses do banqueiro Daniel Dantas, a revista "Veja" agora diz que ele é "ex-banqueiro" e se refere a Dantas como "criminoso". Tudo bem, desde que os reais interesses de Dantas sejam preservados: a anulação da Satiagraha, comprometida pelo "festival de abusos, trapalhadas e ilegalidades" de Protógenes, que a revista define como "bipolar" e "lisérgico", ou seja, sob efeito de LSD.

"Espera-se que a PF consiga dar à Satiagraha um mínimo de lógica", pede a revista. Ora, se ela é fruto de um bipolar lisérgico, como é que poderia ter lógica? Se não tem lógica, como é que se sustenta nos tribunais?

O delegado Amaro Vieira Neto, que investiga Protógenes por vazamento de informações e interceptação ilegal, já produziu um relatório que incrimina o colega e será um poderoso "argumento" nas mãos dos advogados de Dantas.

A revista se refere a Protógenes como "talentoso Ripley", justamente a alcunha que a revista CartaCapital deu ao blogueiro Reinaldo Azevedo, de Veja, um dos mosqueteiros que atuam em defesa de Gilmar Mendes e acusando Protógenes. E usa "ínclitos" para se referir a uma suposta bancada de defesa de Protógenes no Congresso. "Ínclito" é como Paulo Henrique Amorim se refere a Protógenes.

Notem que a revista inclui na suposta bancada de defesa de Dantas apenas os deputados aos quais pode imputar alguma acusação. Não menciona Chico Alencar, do PSOL, nem o senador Pedro Simon, do PMDB, por exemplo. E se refere a uma "claque" de Protógenes, como se fosse uma torcida organizada por interesses escusos.

A partir disso é possível concluir:

1) Que a "Veja" teme a claque de Protógenes, ainda que ela caiba em uma Kombi;

2) Que a internet está fazendo efeito para romper a defesa do banqueiro assumida pela mídia corporativa;

3) Que Protógenes agrega, agora, um apoio parlamentar superior ao que agregava há algumas semanas.

O texto da revista volta a fazer uma série de acusações contra o delegado sem apresentar as provas. O fato de que ele tem o número do telefone de alguém na memória do computador não significa absolutamente nada. Pela lógica de Veja, a apreensão dos discos duros dos computadores da revista revelaria uma imensa conspiração da Abril para buscar informações e chantagear o Brasil.

Essa é uma prova que eu faço questão de ouvir: o áudio de um grampo ilegal que tenha sido feito pelo delegado Protógenes ou um dos agentes da Polícia Federal ou da Agência Brasileira de Informações (ABIN) e que tenha sido incluído na Satiagraha. O resto é cortina de fumaça.

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Mas o texto da Veja é mais revelador pelo que não noticiou.

Para uma revista que se mostra tão interessada pelo conteúdo do computador de Protógenes, a ponto de divulgar até mesmo um texto de caráter pessoal que seria de autoria do delegado, é curioso que Veja nada tenha mencionado do relatório atribuído ao delegado sobre as relações de Daniel Dantas com a mídia.

De acordo com o relatório, baseado em escutas telefônicas legais:

1) Naji Nahas pagou 50 mil reais em dinheiro, num envelope, ao jornalista Roberto D'Ávila, namorado da juíza Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, aquela que havia impedido o acesso da Polícia Federal ao conteúdo de um disco rígido do banco Opportunity -- o mesmo que depois daria origem à Operação Satiagraha. Leia aqui.

2) Naji Nahas, em conversa com uma pessoa de nome Sergio, diz que o colunista Diogo Mainardi, de Veja, "está a serviço do Daniel". Na mesma conversa, Sergio diz que Lauro Jardim, de Veja, "é aliado". Leia aqui.

3) Daniel Dantas tem uma conversa com uma jornalista não identificada, à qual diz que "o Diogo afirmou na segunda-feira que não vai continuar". O banqueiro também sugere à jornalista fazer "um arremate elegante e sair do assunto". Tudo indica que ele se referia à ex-repórter da Folha de S. Paulo, Janaina Leite, que esteve envolvida em uma polêmica com Luís Nassif pela internet. Em sua série sobre a revista Veja, Nassif sustenta que a jornalista, quando ainda trabalhava no jornal, prestou serviços aos interesses de Daniel Dantas. Ela nega. Leia aqui sobre o papel que, segundo Nassif, Janaína desempenhou.

Os grampos legais da operação Satiagraha pegaram conversas de Dantas com jornalistas. Em algumas existe referência a MNI, de mulher não identificada. Em um terceiro, Janaína Leite é identificada. Num dos grampos legais ela aparentemente avisa Dantas que já se livrou da polêmica com Nassif.

Todos esses grampos, legais, a gente gostaria de ouvir no Jornal Nacional -- acompanhados pelas devidas explicações de Naji Nahas e de todos os outros citados, para que não pairem dúvidas.

Veja também não se refere às investigações da Polícia Federal que não descobriram, até agora, nenhum indício físico da existência de grampo de conversa telefônica entre o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres. É o tal "grampo sem áudio", que serviu de base para o afastamento do delegado Paulo Lacerda da ABIN.

Ou seja: foi uma reportagem de Veja, sem provas, que deu origem à CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas; outra, sem provas, que provocou o afastamento de Paulo Lacerda; e uma terceira, até agora sem provas, que prorrogou o funcionamento da CPI.

Há indicios materias mais fortes de que jornalistas de Veja e da Folha de S. Paulo favoreceram os interesses do banqueiro Daniel Dantas do que indícios materiais de que o delegado Protógenes ou o ex-diretor da ABIN, Paulo Lacerda, tenham cometido ilegalidades.

Finalmente, a revista Veja simplesmente fez que não ouviu o depoimento completo do delegado Protógenes Queiroz, em que ele sugeriu que a CPI analise os documentos que a Kroll produziu supostamente a serviço de Daniel Dantas.

Eu diria que Protógenes esnucou a CPI: o material existe e não está protegido por segredo de Justiça. Se a CPI se dedica a investigar escutas clandestinas, por que deixaria de analisar esse material para determinar se, de fato, a Kroll fez ou não grampos ilegais?

Desconfio que a CPI vai dar um jeito de acabar sem ouvir novamente Daniel Dantas, nem Paulo Lacerda. E sem ir atrás do que podem ser provas relacionadas ao objeto da existência da CPI: grampos ilegais. A Kroll grampeou ilegalmente? Fez isso a pedido do banqueiro? Se a CPI não for atrás dos documentos da Kroll, ficará provado que ela existiu com o objetivo apenas de promover os interesses de Daniel Dantas.

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Essa novela ainda tem muito a oferecer. Eu quero saber, por exemplo:

1) Qual é o conteúdo dos arquivos apreendidos na casa de Daniel Dantas e que foram enviados à polícia dos Estados Unidos?

2) Qual era o nexo entre Daniel Dantas e Naji Nahas? Eles de fato atuavam em conjunto? Qual o objetivo?

3) Dantas saiu da telefonia e transferiu os negócios para o setor agropecuário e de mineração. Que tipo de influência ele está exercendo nos bastidores do Congresso e do estado brasileiro com o objetivo de fazer avançar os seus interesses? Ele faz algum lobby para moldar a legislação que abrirá as reservas indígenas à mineração?

4) Quais são, se existem, os interesses comerciais comuns de Dantas com empresários da comunicação no Brasil? É uma relação de patrocinador-patrocinado? Ou de sociedade em negócios?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Porque não te calas?!?!


Será que nasci ontem?

Quem fala o que quer escuta o que não quer, segundo dito popular....

Vejam na íntegra a carta enviada para o Prefeito Silvio Mendes por Marcelo Evelin. Gostei quando ele falou que é uma pessoa publica e não vê nada demais em ser tratado abertamente esse questão. Na verdade, algumas pessoas ainda não se acostumaram com a internet, tentam usar o mesmo "cala boca" comum nos grandes meios de comunicação. É velha idéia do vírus, se vc foge a normalidade e ataca o sistema, imediatamente é capturado e deletado. Não tem antivírus melhor que as acessórias de impressa dos governos. Vc deve ser totalmente subordinado, caso contrário, poderá perder as bonança da vida publica.

Gostaria de fazer uma confissão, o trabalho feito no teatro nos últimos anos, é de tirar do chapéu. Isso é irrefutável.

Entendam tbm que não estou querendo defender aqui a idéia de ninguém é insubstituível, agora é esperar pra vê. Mas torço para que a população do Piauí não perca as poucas oportunidades de acesso à cultura por conta de questões de egos inflados. Como a cultura é vista, mente atrasadas, como algo sem importância. Todo cuidado é pouco.

Um abraço,

Junior-PI

Veja na íntegra a carta:

Prezado Dr. Silvio Mendes,

Tomo a liberdade de lhe escrever - desta vez em um email informal, e não por uma carta protocolada ao Prefeito de Teresina, pelo qual tenho apreço e respeito pela sua atuação política competente e honesta -, especificamente sobre a entrevista publicada no Portal cidadeverde.com, em 27 de março de 2009. Meu intuito não é o de reagir, me justificar ou rebatê-los, mas apenas o de esclarecer pontos importantes, o que, espero, seja compreendido como um desejo de persistir na proposta de um diálogo.

O senhor chamou de deselegância o que, para mim, nomeio como transparência. Em primeiro lugar, entendo que o envio de uma carta de demissão de um cargo oficial ao Prefeito não configura correspondência pessoal. Publicá-la, cinco horas depois de protocolada pelo seu gabinete, no site do Núcleo de Criação, que é o nosso território de atuação e compartilhamento, teve o intuito de expressar a minha responsabilidade de cidadão para com um cargo que é público.

Talvez pudéssemos estender o adjetivo ‘deselegante’ ao fato de eu, quando ainda diretor do TMJP2, ficar sabendo, através da imprensa, do nome e do teor dos projetos que lá seriam implantados. Ou, quem sabe, para a situação de não receber resposta oficial a um pedido de demissão de uma função exercida com dedicação e zelo, comprovados pela projeção nacional e internacional conquistada para a nossa cidade como polo cultural atuante. Permita-me lembrá-lo que, em breve, estaremos recebendo um prestigioso Prêmio APCA, em São Paulo, que evidencia o reconhecimento nacional para as políticas públicas aqui implantadas com subvenção e apoio da sua Prefeitura, e realizado por mim junto ao TMJP2.

Uma outra questão é a que diz respeito à minha alegada não subordinação “à programação e o planejamento da Fundação Cultural”. A subordinação a que o senhor se refere seria a de aceitar sem nenhuma reação a não remuneração de uma equipe de 19 pessoas desde dezembro? Ou seria a de aceitar que, depois de haver concordado com uma redução de 2/3 da minha remuneração, que seria sem carteira assinada e sem plano de saúde, e depois de ser empossado publicamente pelo Presidente e pela Superintendente da Fundação, em 8 de Janeiro de 2009, não deveria estranhar ter sido informado por uma funcionária da Fundação de que não mais receberia os meus salários referentes aos meses de janeiro e fevereiro, por determinação da FMC?

Subordinar-se seria aceitar passivamente as declarações públicas do novo secretário de que “vai devolver o Teatro ao Dirceu” e que “agora aquele vai ser um Teatro de verdade”? Seria simplesmente concordar com ele quando diz que “o Núcleo do Dirceu não existe mais, vocês agora são empregados da Prefeitura”?

Para ocupar adequadamente um lugar na hierarquia pública da municipalidade são a essas situações a que devo me subordinar? E por que não é entendido como subordinação o fato de havermos ficado quase três meses à espera de uma decisão sobre o futuro do Centro de Criação do Dirceu?


A casa que fui convidado a dirigir – e não somente pelo Professor José Reis, mas também pelo senhor – tornou-se um espaço dinâmico para o abrigo da arte contemporânea
em Teresina. A programação e os projetos implantados por mim nesses três últimos anos, em uma comunidade carente e estigmatizada, tiveram o caráter de democratizar o acesso aos bens imateriais produzidos pela arte. Prezaram a acessibilidade a uma informação de qualidade como possibilidade de desenvolvimento e reversão da condição de excluídos a que está sujeita a comunidade do Dirceu.

Sou um artista reconhecido pelos quase 30 anos de uma carreira que fala por si mesma. Não voltei ao Piaui por precisar de um emprego público. Estou aqui para colaborar com o processo de expansão cultural de minha cidade, por reconhecer que o seu isolamento produz precariedade, e por acreditar (a longo prazo) no papel que a arte pode ter na reversão daquilo que hoje produz essa situação.

E é justamente a respeito da natureza desse emprego que se faz necessário também conversar. Sua declaração de que eu “tinha uma remuneração que não era apenas do teatro” e de que “existia uma fundação chamada Punaré que ele recebia uma remuneração paralela”, publicada pela jornalista Yala Sena na mesma entrevista já citada, me surpreendeu. Dito da maneira que foi, sugere a existência de um ato ilegal e ilegítimo de minha parte, como se, talvez, eu estivesse desviando dinheiro público para beneficio próprio.

Suponho que, como Prefeito, o senhor tenha conhecimento dos atos da sua equipe de administração na sua primeira gestão. Todavia, permita-me lembrá-lo que, em dezembro de 2005, quando assumi a direção do Teatro, passei a receber um contra cheque da PMT depositado na minha conta bancária, e um cheque da FMC, que deveria ser retirado no setor financeiro da casa. Esse cheque constituía a minha “gratificação”, termo que sempre repudiei por sua conotação paternalista, mas que sei estar oficialmente institucionalizado no nosso país. Essas eram minhas fontes de renda junto à Prefeitura que o senhor administrava e continua a administrar agora, em uma segunda gestão. “Remunerações paralelas” existiam, sim, mas vindas de outras fontes, na forma de convites de instituições que contrataram meu trabalho como coreógrafo, bailarino e professor. A única instituição local a fazê-lo foi o Grupo Claudino. O direito a receber como artista convidado de outras instituições me foi legalmente assegurado quando firmei o acordo com a PMT.

O curioso, contudo, é que o Instituto Punaré, uma OnG sem fins lucrativos, foi criado em 19 de abril de 2007, justamente por orientação do então Presidente da Fundação e com a anuência do atual Secretário de Finanças, como solução para viabilizar profissionalmente a continuidade do trabalho do Núcleo de Criação do Dirceu junto ao TMJP2. Esse núcleo de artistas, além de desenvolver uma expressiva produção em arte contemporânea, também gerenciava um site de compartilhamento de informação na Internet, oferecia treinamento e orientação artística para grupos residentes e atendia a quase 500 cidadãos da comunidade do Dirceu. O convénio assinado com a FMC, de R$ 8.000,00 (oito mil reais) mensais para projetos permanentes beneficiando 18 artistas e 1 assessora de imprensa para o Teatro, e mais um limite de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) mensais para projetos esporádicos, sob aprovação da FMC, que quase nunca era solicitado integralmente.


Como presidente de uma Ong sem fins lucrativos, me é vetado o direito de receber qualquer pagamento vindo dessa fonte, e esse impedimento foi sempre respeitado. Diferentemente do que se deu durante a sua primeira gestão, o que foi agora reconhecido como anti ético pelos administradores que lhe acompanham nessa segunda gestão como Prefeito, embora sem comprovação de ilegalidade, foi o fato de minha pessoa ocupar os cargos de diretor de um órgão público e presidente de uma instituição privada, sem fins lucrativos, conveniada a prefeitura. Já me desculpei perante o atual Secretário de Cultura por tal situação e o faço aqui para com a cidade de Teresina. Sem familiaridade com as questões técnicas e jurídicas de uma administração municipal, gostaria que ficasse claro que apenas acolhi as orientações de meus superiores hierárquicos. Como o senhor sabe, esse convênio entre o Instituto Punaré e o TMJP2, foi firmado no seu primeiro mandato, por orientação e com o consentimento dos membros de sua equipe de administradores da cidade. A pergunta é: por que uma equipe administrativa competente e conhecedora dos trâmites oficiais de uma Prefeitura escolheu essa como a forma jurídica adequada para o funcionamento da minha gestão como diretor do TMJP2?.

Mais uma vez lhe agradeço a oportunidade de haver atuado por três anos junto à comunidade do Dirceu. Tenho a percepção de dever cumprido, com muito orgulho pelo que foi lá realizado. Com o direito de expressão que assiste qualquer cidadão livre em uma sociedade, publicarei também esse longo email no site do Núcleo do Dirceu, bem como a sua resposta, pela qual fico, desde já, aguardando. Suponho que o senhor, dada a natureza do cargo que ocupa, concorde que as questões que estamos aqui tratando necessitam ser públicas para que a transparência que deve nortear todas as negociações e subordinações esteja aqui presente como o termômetro do nosso diálogo.

Elegantemente, despeço-me, enviando-lhe as minhas cordiais saudações.

Marcelo Evelin

O GOVERNO LULA DIANTE DA ENCRUZILHADA


Segue esse excelente texto do Azenha...bem lucido!

O GOVERNO LULA DIANTE DA ENCRUZILHADA

Atualizado em 09 de abril de 2009 às 15:23 | Publicado em 09 de abril de 2009 às 15:06 no site do Azenha. link

por Luiz Carlos Azenha

O presidente Lula é o grande conciliador. O governo que ele lidera é um sindicato que inclui da elite mais conservadora e retrógrada do Brasil aos movimentos sociais. O Congresso é aquilo tudo que vocês estão acostumados a ver. A Justiça está sob o "comando" de Gilmar Mendes, que emprega outros juizes do STF na escola da qual é proprietário, num caso crasso de impropriedade ética. Esse é o Brasil real. Um país dominado por alguns grandes grupos econômicos, que expressam seu poder através da mídia corporativa em consórcio com parlamentares "de aluguel".

Quando Lula assumiu, em 2003, o ex-ministro José Dirceu era quase um primeiro-ministro. Ele é realista. Para formar a coalizão necessária à sustentação política no Congresso, pediu aos aliados que passassem no caixa. É sempre assim. Logo depois de assumir o poder o grupo que o faz começa a pensar no longo prazo. E o dinheiro, a gente há de convir, tem de sair de algum lugar.

O presidente Lula demonstrou uma tremenda capacidade política. Resistiu a três CPIs simultâneas e conquistou a reeleição. Faz um governo melhor do que a mídia brasileira admite mas pior do que propagam os lulistas em busca de um pai, que sonham com o varguismo do século 21. As políticas sociais do presidente alavancaram o mercado interno, incorporaram milhões de brasileiros ao consumo e a política externa projetou essa nova independência do Brasil, ainda que incompleta, em relação a interesses econômicos estrangeiros.

Em minha modesta opinião, logo depois de ser reeleito o presidente Lula cometeu um erro crucial. Ele tinha capital político para aprofundar a democracia brasileira, não apenas incorporando milhões de cidadãos ao mercado de consumo, mas também à efetiva vida política. Como? Promovendo, por exemplo, a disseminação da internet em banda larga. Deixando de criminalizar as rádios comunitárias. Promovendo as tevês públicas. Estimulando a reforma no sistema de concessões.

Poderia ter sustentado, igualmente, uma política pró-ativa de estímulo à participação popular nas decisões de governo. A interlocução do Planalto com os movimentos sociais, que já foi um avanço, poderia ter se materializado em iniciativas políticas para engajar os eleitores em mais do que o comparecimento às urnas a cada dois anos.

Mas, a essa altura, o governo Lula já era refém daquela composição feita lá atrás e estava escaldado com o jornalismo de escândalo promovido pela oposição midiática em nome do PSDB e do DEM. O presidente nada fez com a "popularidade". Guardou-a no banco. Venceu o lulismo de resultados.  O Ministério da Agricultura ficou com o agronegócio. O das Comunicações com a Globo. O da Defesa com um tucano. Aliás, a saída de Valdir Pires do ministério foi simbólica da contínua capitulação do governo Lula à oposição. A guerrilha midiática deu resultados bastante satisfatórios.

Testemunhei pessoalmente um episódio que considero significativo. Um comício antes do segundo turno das eleições municipais em São Paulo, com a presença do presidente Lula. Fui como repórter. Chegando lá, além dos dirigentes partidários, onde é que estava a tão famosa militância do PT? Na televisão parecia um show: confete brilhante e colorido, bela iluminação e cenário e um discurso apaixonado do presidente da República. Mas no público o entusiasmo foi próximo de zero. Uma cena simbólica da "profissionalização do PT". Justa, aliás. Trata-se, agora, de um grande partido. Que governa a República, vários estados e centenas de prefeituras.

O PT tornou-se um partido acima de tudo voltado para a sua própria manutenção no poder. Um partido preocupado em levantar dinheiro para a próxima campanha, com todas as implicações dessa prioridade. Um partido que abdicou de promover os grandes debates nacionais no Parlamento. Lembrem-se, o exemplo veio de cima. Não era prudente chacoalhar o barco da governabilidade. Nem mesmo se isso fosse absolutamente necessário para promover uma "nova governabilidade".

O presidente Lula personalizou o espaço público e não fez uso nem mesmo do pouco que restou aos governantes diante do avassalador poder dos grandes grupos econômicos: o púlpito. Aquele que garante cobertura midiática 24 horas por dia. Aliás, de que adiantaria ter o púlpito se o Planalto aceitou o papel de refém da mídia corporativa?

O que me leva à contradição central do governo Lula e do PT, hoje. Para se manter no poder, ambos dependem de uma coalizão eleitoral conservadora, num momento em que preservar a economia depende de medidas que ameaçam os interesses conservadores dessa coalizão.

O papel do estado brasileiro, hoje, é o de decidir quem perde mais com a crise. Serão os bancos? Serão os trabalhadores? Serão os grandes empresários nacionais? Será o capital internacional investido no Brasil? Isso permanece indefinido. Esse é um debate que a oposição não quer fazer. E, como percebeu João Pedro Stedile, do MST, também parece não interessar ao governo. Leia a entrevista dele na Agência Brasil.

Como notou Ciro Gomes em uma recente entrevista, quantos debates foram promovidos no parlamento brasileiro sobre a crise? Ah, estavam muito ocupados promovendo uma CPI de Escutas Clandestinas para apurar grampos legais de uma operação da Polícia Federal! Mas não adianta culpar apenas demos e tucanos. Onde é que foi parar o PT? Abdicou de governar ou foi abdicado? O PT se resume à turma do José Dirceu? Tem ordem expressas para se compor com o PTB e o PP? Com o Sarney? Com o Collor? O fato é que o presidente da República e o PT perderam o bonde da crise. Estava tudo bem, a crise era coisa da mídia corporativa, diziam os lulistas.

Debate sobre a crise? Ah, isso é "fazer o jogo do inimigo". Qualquer coisa que o presidente da República fizer está certo. Ele tem, afinal, o monopólio da sabedoria política. Debate sobre a crise eu li na Carta Maior. Li na CartaCapital. Li no Nassif. Li no Paulo Henrique Amorim. Li no Vermelho. Aliás, o melhor evento sobre a crise que assisti foi promovido pelo Vermelho, com a presença do presidente do IPEA, Márcio Pochman.

Pochman fez três afirmações bastante oportunas no debate: 1) o Brasil tem um histórico de se sair bem nas crises econômicas; 2) é preciso considerar que a crise também oferece oportunidades transformadoras; 3) os sindicatos precisam adequar suas ferramentas de organização, mobilização e reinvidicação à nova realidade do trabalho -- em outras palavras, não dá para usar um discurso dos anos 60 no século 21.

Espera-se que a troca do presidente do Banco do Brasil tenha sido apenas o primeiro passo na assimilação, pelo governo Lula, de que a crise será muito mais grave do que imaginávamos em 2008. Não dá para aplicar a mesma lógica pré-crise às decisões políticas e econômicas que o Brasil tem pela frente. Mudou o paradigma. O presidente Lula precisa de toda ousadia e coragem política que acumulou nos últimos sete anos. Ele pode tentar o caminho à esquerda ou à direita. Ficar parado tentando agradar a todos é que não pode.