segunda-feira, 23 de junho de 2008

Hedonista, muito prazer


Hedonista, muito prazer

Livro chama atenção para as coisas boas da vida.
E também para as ruins que podem ser muito boas


Mariliz Pereira Jorge

Se você não bebe, não fuma, não come comida gordurosa, não gasta mais do que ganha, faz exercícios regularmente e sexo idem, mas sempre seguro, pelo menos ache um tempinho para ler Manual do Hedonista, do americano Michael Flocker, que a editora Rocco acaba de lançar no Brasil. O livro não é exatamente uma obra de fôlego. Ao contrário, é ligeiríssimo em sua despretensiosa missão de ajudar pessoas muito ocupadas, muito apressadas e muito preocupadas – ou seja, a metade certinha da humanidade – a pelo menos dar umas boas risadas só em cogitar na possibilidade de relaxar e até cometer alguns excessos. "As pessoas passam a vida querendo ver a conta do banco crescer e esquecem que a vida está acontecendo agora, não daqui a dez anos ou quando se aposentarem. Vivem conectadas com o mundo, mas não consigo mesmas. Simplesmente esquecem de viver", disse Flocker a VEJA. Se for completamente impossível desacelerar e perder tempo com bobagens divertidas como o Manual do Hedonista, pelo menos passe os olhos pelas listas em que o autor resume sua filosofia, como as que ilustram estas páginas.

Para a filosofia propriamente dita, hedonismo é coisa séria. Suas raízes foram lançadas pelo filósofo grego Epicuro. Ele pregava que o objetivo de todos os atos é alcançar o prazer e, com ele, a alma tranqüila que permitiria viver numa espécie de estado superior. "É a busca dos prazeres simples e refinados para viver com sabedoria", define Marco Zingano, professor de filosofia antiga da Universidade de São Paulo. Apesar da moderação e até frugalidade da idéia original, o que se disseminou, nada surpreendentemente, foi uma espécie de degeneração do conceito – pensem em Roma e todos os seus abusos. Também nada surpreendentemente, o cristianismo se transformou numa espécie de bandeira anti-hedonista, sobretudo em suas variantes mais puritanas – pensem no protestantismo fundamentalista que está na raiz da formação americana. Flocker faz até brincadeira com as diferenças entre Estados Unidos e Brasil. "Primeiro, eu me perguntei se os brasileiros precisam mesmo de um livro que ensine como aproveitar a vida", diz. "Mas depois me dei conta de que Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, são como qualquer outra cidade grande do mundo e devem estar cheias de doidos correndo para cima e para baixo, que precisam desacelerar." Autor de outra pérola do gênero ligeiro, O Metrossexual – Guia de Estilo, Flocker diz que tenta seguir os próprios conselhos: jornada de trabalho de no máximo quarenta horas por semana e viagens turísticas no mínimo quatro vezes por ano, sempre com o celular desligado. "Ninguém é tão necessário que não possa ficar incomunicável", diz. Mas, como nada é perfeito, desde que lançou o livro não pára de trabalhar na sua divulgação, "sem tempo para fazer coisas muito mais divertidas".

HORA DE DESCONECTAR

Segundo o livro, bastam cinco identificações
com os sintomas abaixo para caracterizar a
necessidade de uma "intervenção hedonista"

• Você não lembra o telefone de ninguém porque todos os números estão programados no celular

• Manda mensagens eletrônicas para pessoas que estão sentadas na mesma sala

• Suas férias seguem um roteiro

• A idéia de uma semana inteira sem acesso à internet é apavorante

• Sente-se entediado em casa se a televisão estiver desligada

• Precisa assistir ao noticiário todo dia para ter certeza de que o mundo não vai acabar

• Pára para assistir a seriados que já viu inúmeras vezes

• É incapaz de sentar e ficar pensando em silêncio

• Suas conversas giram em torno da vida dos outros, não da sua

• Compra um sapato porque combina com seu iPod

DE PERDER O JUÍZO

Dez motivos para parar tudo e mergulhar
de cabeça no que a vida tem de melhor

• Tire férias sozinho. Você vai se conhecer melhor

• Apaixone-se perdidamente. Segurança emocional é coisa supervalorizada

• Visite os trópicos com alguém especial. Dure ou não, você nunca vai esquecer

• Acampe no deserto. Fuja da civilização e tudo ficará mais claro

• Faça um passeio de balão

• Passe uma semana longe de todos e faça tudo o que tiver vontade

• Dê-se uma festa de aniversário espetacular. Não precisa ser grande, só espetacular

• Monte o álbum de fotografias da sua vida. Vai ver que sua vida rende uma história

• Mande pintar seu retrato. Todo mundo merece ser imortalizado para a posteridade

• Deixe o passado para trás. Ele existe para ser lembrado, não para ficar preso a ele

DESACELERE

Dez passos infalíveis para libertar o hedonista
que existe dentro de você

• Sente-se num banco de jardim para ver a vida passar

• Balance-se numa rede, olhando as estrelas

• Flutue sobre as ondas do mar

• Faça uma caminhada sem rumo

• Leia um livro em total silêncio

• Cochile sob o sol

• Tome um banho de banheira à luz de velas

• Durma até não poder mais

• Estenda as preliminares

• Veja um filme sueco

E DAÍ?

Dez coisas que você não devia fazer.
Mas, quando faz, se diverte

• Beber até constranger os amigos

• Dormir até depois do meio-dia

• Comprar a crédito

• Fazer sexo com um ex

• Jogar

• Comer o que engorda

• Ligar para o trabalho e dizer que está doente

• Ficar acordado até tarde

• Fofocar

• Tramar uma vingança

DESAPEGUE-SE

Dez exemplos de coisas que parecem importantíssimas,
mas passam sem deixar vestígio

• Juventude

• Paixão

• Barriga tanquinho

• Emprego

• Problemas

• Importância profissional

• Relacionamentos

• Dívida

• Hemorróidas

• A vida