
Hedonista, muito prazer
Livro chama atenção para as coisas boas da vida.
E também para as ruins que podem ser muito boas
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Mariliz Pereira Jorge
Se você não bebe, não fuma, não come comida gordurosa, não gasta mais do que ganha, faz exercícios regularmente e sexo idem, mas sempre seguro, pelo menos ache um tempinho para ler Manual do Hedonista, do americano Michael Flocker, que a editora Rocco acaba de lançar no Brasil. O livro não é exatamente uma obra de fôlego. Ao contrário, é ligeiríssimo em sua despretensiosa missão de ajudar pessoas muito ocupadas, muito apressadas e muito preocupadas – ou seja, a metade certinha da humanidade – a pelo menos dar umas boas risadas só em cogitar na possibilidade de relaxar e até cometer alguns excessos. "As pessoas passam a vida querendo ver a conta do banco crescer e esquecem que a vida está acontecendo agora, não daqui a dez anos ou quando se aposentarem. Vivem conectadas com o mundo, mas não consigo mesmas. Simplesmente esquecem de viver", disse Flocker a VEJA. Se for completamente impossível desacelerar e perder tempo com bobagens divertidas como o Manual do Hedonista, pelo menos passe os olhos pelas listas em que o autor resume sua filosofia, como as que ilustram estas páginas.
Para a filosofia propriamente dita, hedonismo é coisa séria. Suas raízes foram lançadas pelo filósofo grego Epicuro. Ele pregava que o objetivo de todos os atos é alcançar o prazer e, com ele, a alma tranqüila que permitiria viver numa espécie de estado superior. "É a busca dos prazeres simples e refinados para viver com sabedoria", define Marco Zingano, professor de filosofia antiga da Universidade de São Paulo. Apesar da moderação e até frugalidade da idéia original, o que se disseminou, nada surpreendentemente, foi uma espécie de degeneração do conceito – pensem em Roma e todos os seus abusos. Também nada surpreendentemente, o cristianismo se transformou numa espécie de bandeira anti-hedonista, sobretudo em suas variantes mais puritanas – pensem no protestantismo fundamentalista que está na raiz da formação americana. Flocker faz até brincadeira com as diferenças entre Estados Unidos e Brasil. "Primeiro, eu me perguntei se os brasileiros precisam mesmo de um livro que ensine como aproveitar a vida", diz. "Mas depois me dei conta de que Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, são como qualquer outra cidade grande do mundo e devem estar cheias de doidos correndo para cima e para baixo, que precisam desacelerar." Autor de outra pérola do gênero ligeiro, O Metrossexual – Guia de Estilo, Flocker diz que tenta seguir os próprios conselhos: jornada de trabalho de no máximo quarenta horas por semana e viagens turísticas no mínimo quatro vezes por ano, sempre com o celular desligado. "Ninguém é tão necessário que não possa ficar incomunicável", diz. Mas, como nada é perfeito, desde que lançou o livro não pára de trabalhar na sua divulgação, "sem tempo para fazer coisas muito mais divertidas".
| HORA DE DESCONECTAR Segundo o livro, bastam cinco identificações
• Manda mensagens eletrônicas para pessoas que estão sentadas na mesma sala • Suas férias seguem um roteiro • A idéia de uma semana inteira sem acesso à internet é apavorante • Sente-se entediado em casa se a televisão estiver desligada • Precisa assistir ao noticiário todo dia para ter certeza de que o mundo não vai acabar • Pára para assistir a seriados que já viu inúmeras vezes • É incapaz de sentar e ficar pensando em silêncio • Suas conversas giram em torno da vida dos outros, não da sua • Compra um sapato porque combina com seu iPod |
| DE PERDER O JUÍZO Dez motivos para parar tudo e mergulhar
• Apaixone-se perdidamente. Segurança emocional é coisa supervalorizada • Visite os trópicos com alguém especial. Dure ou não, você nunca vai esquecer • Acampe no deserto. Fuja da civilização e tudo ficará mais claro • Faça um passeio de balão • Passe uma semana longe de todos e faça tudo o que tiver vontade • Dê-se uma festa de aniversário espetacular. Não precisa ser grande, só espetacular • Monte o álbum de fotografias da sua vida. Vai ver que sua vida rende uma história • Mande pintar seu retrato. Todo mundo merece ser imortalizado para a posteridade • Deixe o passado para trás. Ele existe para ser lembrado, não para ficar preso a ele |
| DESACELERE Dez passos infalíveis para libertar o hedonista
• Balance-se numa rede, olhando as estrelas • Flutue sobre as ondas do mar • Faça uma caminhada sem rumo • Leia um livro em total silêncio • Cochile sob o sol • Tome um banho de banheira à luz de velas • Durma até não poder mais • Estenda as preliminares • Veja um filme sueco |
| E DAÍ? Dez coisas que você não devia fazer.
• Dormir até depois do meio-dia • Comprar a crédito • Fazer sexo com um ex • Jogar • Comer o que engorda • Ligar para o trabalho e dizer que está doente • Ficar acordado até tarde • Fofocar • Tramar uma vingança |
DESAPEGUE-SE
Dez exemplos de coisas que parecem importantíssimas,
mas passam sem deixar vestígio
• Juventude
• Paixão
• Barriga tanquinho
• Emprego
• Problemas
• Importância profissional
• Relacionamentos
• Dívida
• Hemorróidas
• A vida
• Você não lembra o telefone de ninguém porque todos os números estão programados no celular
• Tire férias sozinho. Você vai se conhecer melhor
• Sente-se num banco de jardim para ver a vida passar
• Beber até constranger os amigos

