quarta-feira, 30 de março de 2011

É tão tranqüilo ser menor


Adoro o Twitter. Nele somos todos humanos, demasiados humanos. Não há lugar melhor para desabafos. É um verdadeiro confessionário! Outro dia uma prestimosa amiga tascou em tom de questionamento que estava “Triste como alguns "militantes" de partidos políticos se aproveitam de mobilização estudantil” em referencia as manifestações na UESPI. Respondo, por que isso ocorre, de forma direta e simples: é pelo mesmo motivo que as pessoas assistem o BBB. Calma! Explico melhor.

Segundo o Francês Jean Braudrilhar, as pessoas assistem o BBB, além da espetacularização, pelos seguintes motivos: porque são idiotas, porque nada têm para fazer, porque adoram espiar os outros pelo buraco da fechadura e porque se identificam. As respostas obedecem à mesma complexidade do programa. Por espetáculo como esse, podemos ser transformados em idiotas sem culpa e com direito a aparição na mídia. Percebeu a semelhança com os tais militantes de partidos políticos?

Você pode alegar que recorri a um filosofo pós-moderno, e que quase todos são relativistas, niilistas, indiferentes... Então me apoiarei em Kant, que é tido como um dos mais radicais pensadores da modernidade. Para alguns, a modernidade tal como pensamos hoje, não seria possível sem o seu pensamento. É um dos pilares da modernidade! Como seu pensamento é bem amplo, me atenho especificamente aos conceitos de maioridade e minoridade. Através deles é possível explicar porque “militantes de partidos políticos se aproveitam de mobilização de toda natureza, não só a estudantil.

Para Kant, alcançar a autonomia implica em abandonar a minoridade em direção à maioridade. Mas isso só é possível quando o individuo decide se servir do próprio entendimento sem está submetido a o entendimento de outro. A idéia é simples: a maiorias imensas das pessoas repetem o que os outros vivem. Vivem em função de conselhos alheios à sua experiência. Isso é viver na minoridade.

Agora viver na maioridade, pressupõe a coragem para pensar e deliberar sobre a vida a partir do próprio entendimento. É claro que por conta do nosso medo e de nossa covardia, tiranos se apresentem como tutores da nossa vida. Até porque, “é tão tranqüilo ser menor” diria Kant. Afirmo sem rodeios que o homem passa por um processo idiotização progressiva. Antes éramos mais obrigados a pensar. É só ir numa banca de revista e seus problemas acabaram. Basta observar a infestação de livros que começa com o a palavra “como”: Como ficar rico, como ter saúde, como fazer amigos, como ser feliz...

É uma proliferação de formulas tirânicas: na política, na religião, no comportamento, etc. Você não precisa pensar, lutar, protestar... tem um cara que me diz: o que vestir, comer, andar e até como fazer sexo... Isso evita que você pense e decida sobre sua vida. O Statu quo é “Para que eu irei me matar de pensar se tem alguém que pode fazer isso pra mim?” Perceba que ser menor é bem mais cômodo.

É difícil decidir sobre a própria vida.

Nessa questão, é impressionante a atualidade do pensamento Kantiano.

Perceba que os militantes que a incomoda, é apena mais um tirano, dentre vários...

Para quem não quer pensar, está tudo pronto e acabado!

Mas a pergunta é: o que se ganha em ser maioridade?!?!

Agora se resolver ser autônomo, com certeza irá incomodar muitos tiranos.

terça-feira, 29 de março de 2011

UESPI transviada

UESPI transviada

O interesse move as pessoas. Assim como Sartre pregava que a existência precede a essência, o interesse precede o ato. Não vejo problema algum em agir de acordo com interesses. Contanto que o coletivo nunca seja colocado de lado.

Historicamente no Brasil a educação nunca foi prioridade. Isso é fato. No Piauí, não é diferente. Até acho que a educação tende a melhorar, pois comungo do mesmo pensamento da filosofia Olgária de Matos onde afirma que “chegamos à situação tão ruim que não tem mais para onde piorar. Estamos no fundo do poço!”. Basta um pouquinho de senso histórico para perceber que a UESPI não agoniza de agora. Para não dizer desde seu nascimento. Pegaram um colégio e resolveram transformar em universidade. Tão simples como “dois e dois são cinco”.

Só que nos últimos dias, a “mamãe UESPI” que já foi estuprada por toda a classe política que esteve no poder até os dias atuais, está sendo violentada pela mídia. Com direito até a invasão da reitoria (prática medieval estimulada por rebeldes sem causa) por “estudantes conscientes” de seus direitos. O mais hilário de todos são as motivações: são contra adesão da UESPI ao Enem. Os argumentos são dos mais chocantes e “ilegítimos”. O principal deles é que vai aumentar a concorrência (mas os estudantes do PI não são o melhores do Brasil? Chega a ser um traço cultural. Você não precisa estudar. Basta nasce em Teresina e seus problemas acabaram). Sim, mas a conseqüência disso é um corpo discente mais qualificado. E quem ganha com isso? Fala-se também prejudicar o regionalismo (história, literatura, geografia). Fico pensando... o regionalismo piauiense está “ligeiramente” atrelado ao vestibular? Ou seja, a cultura local só me interessa se cair no vestibular. Coitada da filosofia e sociologia...estão condenadas ao desaparecimento. Talvez isso justifique conhecemos tão pouco da nossa cultura. Esse argumento em defesa do regionalismo é falacioso. A maioria dos alunos apenas decora o conteúdo regional dias antes do vestibular. São as chamadas “ revisões”, Café Aula, etc. O fato é que conhecem bem mais o Justin Bieber que o velho e guerreiro Cinéas Santos. Problema? Nenhum

O que se vê prevalecer, mais uma vez, são os interesses pessoais. Agora me pergunto, até quando o “futuro vai repetir o passado”?

A UESPI é bem maior que essa hipocrisia transvestida de altruísmo

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ser professor


Tenho visto coisas na minha vida. No geral, as ruins prevalecem. Mas uma vez por outra o mundo quebra sua lógica e me surpreende.

Tento ser professor. Embora seja diariamente bombardeado por acontecimentos desestimulantes. Calma que já explico onde quero chegar.

Meu café da manhã sempre tem um ingrediente no qual sou dependente: a leitura de notícias. Gosto de curiar vários portais... Num determinado dia me deparo com uma noticia que prendeu minha atenção. O titulo era mais ou menos o seguinte “aluno joga cadeira em professora”... Parei para pensar e resmunguei “Ser professor está cada dia mais difícil”. Na verdade, eu apenas fiz coro ao que sempre ouvimos sobre a educação: que não vale a pena, paga mal, alunos desinteressados, etc. Esse discurso é tão hegemônico que às vezes chego a pensar que a profissão professor é o purgatório. Só que a vida, às vezes, quebra sua lógica e resolve surpreender. No mesmo dia que vi a notícia onde o aluno agredia a professora, me deparei com uma imagem singela. Vi uma aluna de uns 5 anos fazer cafuné na professora. Aqueles dedinhos pequenos entre os loiros cabelos da professora que, tinha uma expressão de está em outro mundo. Ai, que inveja!!! Fui afetado alegremente por tal imagem.

Fatos positivos existem, basta sabermos direcionar o olhar. Um pouco mais de vocação e menos ressentimento é fundamental para o surgimento de uma atitude pró-ativa com a educação.

Utópico? Creio que não tenho mais idade para isso.