sábado, 27 de março de 2010

Estresse- 6 dicas que você precisa conhecer

Estresse- 6 dicas que você precisa conhecer

Considerado por muitos como sendo a doença da modernidade, o estresse causa sérios danos a nossa saúde física e mental. Mas ele pode ser combatido - e vencido - com o emprego de algumas regras básicas


Respire fundo, soltando o ar lentamente. Você sabia que neste momento sua frequência cardíaca diminui? Mas não se preocupe, ela aumentará de novo quando voltar a inspirar. Esse tipo de movimento é sinal de uma interação saudável entre o coração e a cabeça. Toda vez que exalamos o ar, nosso cérebro envia um sinal ao nervo vago para que, então, se reduza a velocidade que opera o músculo cardíaco. Com a inspiração, esse sinal fica fraco e o coração volta a bater mais rápido. Essas alterações na frequência cardíaca fazem com que seu coração dure mais tempo. Agora sabemos por que os exercícios de respiração são tão bons.

1 LEMBRE-SE DE RESPIRAR

A evolução nos deu uma variedade de mecanismos para lidar com os altos e baixos da vida, desde elementos químicos que dissolvem os hormônios do estresse até sistemas complexos de nervos cujo trabalho é nos acalmar. Nos dias atuais, o grande problema é que poucos fazem pausas frequentes na rotina - e não estamos falando daquelas pequenas viagens de fim de semana.

Podemos até ignorar a necessidade biológica de descansar, mas há muitas evidências de que uma hora ou outra o estresse nos obrigará a fazer uma pausa. Tanto que as categorias de seguro que mais crescem nos Estados Unidos são as de estresse, depressão e exaustão. E, para agravar a situação, R os norte-americanos tendem a se estressar dos mais diversos jeitos.

O grupo de advocacia Mental Health America realizou um estudo, em novembro, em que constatou que acentuamos o estresse crônico assistindo à televisão, deixando de fazer exercício físico e consumindo junk foods. Esses são fatores que acabam nos afastando de atividades que reduzem o hormônio do estresse, como encontros com amigos e familiares.

Celulares, internet e demais meios de acesso ao trabalho dificultam ainda mais o relaxamento. Em alguns casos, trabalhar em casa pode chegar a ser ainda mais estressante, uma vez que "apaga" a linha que separa o trabalho do lazer.

Hoje, temos concepções erradas de quem se estressa e o porquê. Há 20 anos, os psicólogos estavam certos de que o estresse de trabalho tinha relação direta com a carga horária e a falta de controle.

De acordo com Christina Maslach, cientista pioneira na pesquisa da síndrome de Burnout (doença de caráter psicológico na qual a pessoa fica esgotada emocionalmente), da Universidade da Califórnia, em Bekerley (EUA), estudos recentes apontam que casamento, negócios malsucedidos e falsidade aumentam o nível de estresse.

"Uma das maiores evidências desse mal é a informação vaga. Por exemplo, a pessoa que permanece calada quando precisa explicar por que tomou uma decisão desse ou daquele jeito", explica a pesquisadora. Outra maneira é ir contra os nossos princípios, como mentir para conseguir indenização do seguro ou vender produtos de que as pessoas não necessitam.

2 O ESTRESSE ALTERA A QUÍMICA DO SANGUE

Há anos psicólogos estudam os sintomas da síndrome de Burnout: perda de energia, de entusiasmo e de autoestima. Atualmente, com novos aparelhos que fotografam o cérebro e sofisticados testes sanguíneos, os cientistas podem medir alguns dos efeitos do estresse no corpo.

Você deve estar familiarizado com as ondas de adrenalina (elas causam arrepio e aumento de pulso), que nos ajudam a lutar ou espantar predadores e outros perigos imediatos. E é de conhecimento geral que o cortisol, outro hormônio que indica estresse, é produzido mais lentamente que a adrenalina e fica na corrente sanguínea por mais tempo.

Mas o que bem poucos sabem é que apresentar tanto uma pequena como uma grande quantidade de cortisol no sangue é prejudicial. Está emergindo uma imagem complexa da resposta que o corpo dá ao estresse que envolve caminhos interligados.

Por ser fácil de medir, há muitos estudos sobre o cortisol. No entanto, somente porque você se depara com um desequilíbrio em uma área, não significa diagnosticar o que ocorre.

"Aprendemos que o estresse póstraumático, a sindrome de Burnout, a fadiga crônica e a fibromialgia estão relacionados", explica Bruce Mac- Ewen, neurologista da Universidade Rockefeller (EUA), especialista em biologia do estresse.


3 NÃO HÁ COMO SE PREVENIR DO ESTRESSE

Algumas horas antes de você despertar, o hipotálamo (uma pequenina região da base cerebral) envia um sinal que alerta as glândulas suprarrenais, localizadas perto dos rins. Elas então liberam o cortisol, que age como um despertador.

O nível de cortisol continua subindo depois que você fica consciente, o que pode fazer você ficar mal-humorado e xingar por ter de acordar cedo. Esse elevado nível de cortisol é ainda o responsável pela maioria dos ataques cardíacos e dos derrames ocorridos entre 6 e 8 horas da manhã.

Como o cortisol é um hormônio de efeito prolongado, temos preguiça e ficamos debaixo das cobertas por "mais uns cinco minutinhos". No entanto, o nosso cérebro tem mecanismos que nos impedem de ficar com esse mau humor o dia todo.

Quando o nível de cortisol aumenta, outras par tes do cérebro são acionadas para que as glândulas suprarrenais diminuam a produção de cortisol. O cérebro tem seu próprio jeito de desligar a produção de resposta ao estresse.

Em geral, o nível de cortisol, medido por meio de um teste de saliva, atinge seu pico algumas horas depois de a pessoa acordar. A quantidade, então, diminui durante o dia, sobrando alguns resquícios aqui e ali. Esse padrão, porém, muda em pessoas deprimidas. O nível de cortisol sobe pela manhã e permanece alto durante o dia, como se o hipotálamo delas tivesse esquecido de desligar o alarme.

Curiosamente, pessoas que dormem pouco também têm um nível alto do hormônio. E o mesmo ocorre com vítimas da síndrome de Burnout, cujos níveis de cortisol também se mantêm constantemente elevados.

Em suas pesquisas, os cientistas descobriram ainda que o aumento de nível superficial de cortisol pela manhã seguido de uma queda e um nível baixo do hormônio durante o dia também causam o estresse. Esse nível baixo de cortisol, por sinal, é bastante comum entre sobreviventes do holocausto, vítimas de estupro e soldados com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

"Costumávamos culpar os altos níveis de cortisol", afirma Rachel Yehuda, neuroquímica e especialista em TEPT da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York (EUA). "Agora também podemos culpar os níveis baixos de cortisol."

4 ESTRESSE ANTECIPA O ENVELHECIMENTO

Os cientistas sempre suspeitaram que o estresse prolongado prejudicava o sistema imunológico, mas não tinham certeza de como isso ocorria. Então, dois anos atrás, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA), examinaram glóbulos brancos de um grupo de mães cujos filhos sofreram de desordens como autismo e paralisia cerebral. Os cientistas constataram o envelhecimento acelerado daquelas crianças com a deficiência.

Existem diferenças em jovens com mães estressadas. As mudanças foram detectadas em estruturas microscópicas chamadas telômeros, que são frequentemente comparadas ao pedaço de plástico que se encontra no final do cadarço e que protege os cromossomos de serem triturados. Geralmente, as células mais jovens ficam com os telômeros mais compridos. No estudo, porém, os pesquisadores comprovaram que os telômeros das crianças com mães estressadas eram muito menores que os das demais. Com isso, elas ficavam, do ponto de vista genético, de 9 a 17 anos mais velhas que sua idade cronológica.

5 ESTRESSE NÃO PROPORCIONA AS MESMAS OPORTUNIDADES DE EMPREGO

Em 1995, em um experimento clássico, cientistas da Universidade de Trier (Alemanha) submeteram 20 voluntários homens a situações que elevassem o seu nível de estresse - eles tinham, por exemplo, de participar de uma entrevista de trabalho simulada e resolver problemas de aritmética na presença de estranhos, que os corrigiam sempre que cometiam erros.

Como esperado, os níveis de cortisol aumentaram, a princípio. Mas, a partir do segundo dia, a maioria dos níveis do hormônio do estresse dos homens não teve um aumento significativo. A experiência os ensinou que a situação não era de todo ruim. Jens Pruessner, da Universidade McGill, em Montreal (Canadá), acredita que o hipocampo, uma estrutura do tamanho de um dedo localizada no DEEP (fundo/ córtex/centro) do cérebro, é parcialmente responsável por isso.

O fato leva a crer que o hipocampo, que ajuda a formar novas memórias e salvar as antigas, é sensível à quantidade de cortisol existente no cérebro. Então, quando o nível começa a subir, o hipocampo envia sinais que ajudam a desligar a produção de cortisol.

Utilizando dispositivos diferentes de captar imagens do cérebro, Pruessner mostrou que as pessoas que têm pouca autoestima tendem a ter um hipocampo menor que a média. As diferenças tornam-se claras só quando se comparam grupos de pessoas.

O professor explicou que não se consegue fazer imagens do cérebro de uma pessoa e determinar se ela possui muita ou pouca autoestima. Mas, comparando aos demais resultados, eles encontram um hipocampo menor e mais simples, que tem dificuldade em fazer o resto do cérebro parar de emitir sinais em resposta ao estresse.

Ainda é um mistério como o corpo controla a liberação de cortisol para uma resposta típica ao estresse ou para casos específicos, como os de pessoas que sofrem de Burnout.

"Estamos estudando isso", afirma Samuel Melamed, da Universidade de Tel- Aviv, em Israel. "Mas, se não há relaxamento e o nível de cortisol permanece alto durante muito tempo, o corpo tem como reajustar."


6 HÁ MAIS DE UM JEITO DE DESESTRESSAR

Quando o estresse sobrecarrega o sistema, nossas escolhas parecem mais limitadas do que realmente são. Os cientistas que fazem estudos sobre comportamento deram um nome para esse tipo de fenômeno: impotência aprendida. Eles estudam em ratos de laboratório, pois o sistema nervoso desses animais tem o mesmo comportamento que o nosso.

Quando o estresse sobrecarrega o sistema, nossas escolhas parecem mais limitadas do que realmente são.
Os cientistas que fazem estudos sobre comportamento deram um nome para esse tipo de fenômeno: impotência aprendida

O experimento foi o seguinte: o camundongo era colocado em um ambiente com uma rota de escape e um dispositivo que dava choque elétrico após o soar de uma campainha. Os animais logo aprendem como fugir pela rota de escape e a não tomar o choque. Porém, quando essa rota é bloqueada e os animais não conseguem fugir ao ouvir a campainha, eles passam a desistir de tentar escapar.

Após um tempo, mesmo que a rota de fuga esteja desbloqueada, os ratos passam a ficar parados e a tremer sempre que ouvem a campainha. Obviamente, os humanos têm capacidade intelectual maior que a dos ratos, mas os princípios são os mesmos.

Quando muitas das regras mudam, quando nosso antigo trabalho não funciona mais, nossa habilidade racional fica reduzida. Sabendo as tendências do modo de agir e reagir do cérebro em casos de impotência aprendida, os especialistas podem receitar hábitos saudáveis que prejudiquem menos a pessoa.

E se existe algo que você jamais deve fazer é ignorar os riscos. Uma pesquisa com animais mostrou que a passagem para se reverter os efeitos psicológicos do estresse crônico é estreita. Já existem estudos que analisam pessoas e até agora foi constatado que, uma vez alto, o nível de cortisol parece continuar nesse estado por anos.

Resta a nós não permitir que essa situação aconteça.

REVISTA PLANETA: http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/437/artigo126059-1.htm

Livros digitais da Unesp

Livros digitais da Unesp

11/3/2010 - Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A Universidade Estadual Paulista (Unesp) encontrou uma solução inovadora para oferecer acesso universal ao conhecimento produzido em sua pós-graduação: o Programa de Publicações Digitais, que lança nesta quinta-feira (11/3) sua primeira coleção, com 44 títulos inéditos.
O programa, decorrente de uma parceria entre a Fundação Editora Unesp (FEU) e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PROPG) da universidade, publica em formato digital livros exclusivamente produzidos para esse fim, com foco nas áreas de ciências humanas, ciências sociais e aplicadas e linguística, letras e artes.
De acordo com o assessor da PROPG, Cláudio José de França e Silva, os títulos iniciais foram selecionados pelos Conselhos de Programas de Pós-Graduação da universidade.
“No mesmo momento em que estamos lançando esses títulos, publicamos a chamada para a edição 2010 do programa, que editará mais 58 livros. O objetivo do programa, lançado em 2009, é editar 600 livros digitais em dez anos”, disse França e Silva à Agência FAPESP.
Segundo ele, cada programa de pós-graduação da Unesp pode indicar até dois livros para publicação no âmbito do Programa de Publicações Digitais. “É uma maneira inovadora para dar vazão à grande produção acadêmica da Unesp nessas áreas do conhecimento. Todos os livros editados são derivados de pesquisas realizadas em nossos programas de pós-graduação, incluindo muitas teses e dissertações, além de trabalhos de docentes e egressos da universidade na última década”, explicou.
O objetivo principal é universalizar o conhecimento produzido pelos pesquisadores da Unesp em grande escala. “Boa parte da pesquisa fica restrita ao público acadêmico. Por outro lado, a publicação em papel de um volume tão grande de obras levaria anos e teria grandes custos. Com o programa, encontramos uma maneira viável para que esse conhecimento possa atingir um público amplo”, disse.
Como as obras passaram pelo crivo dos conselhos, o conjunto de 44 títulos é um reflexo dos próprios programas de pós-graduação da Unesp. “A seleção das obras leva de três a quatro meses para ser feita. No total, contando com todo o processo de edição e revisão, levamos cerca de um ano entre o início da seleção e a publicação dos livros”, disse França e Silva.
Segundo o assessor, existem outras iniciativas, em outras instituições, de disponibilização de conteúdos de livros na internet. Mas, pela primeira vez, uma universidade realiza um programa que publica obras projetadas, em sua origem, para o lançamento em formato digital.
“Esse é o caráter pioneiro do programa. A proposta é que esses livros permaneçam disponíveis em formato exclusivamente digital, sem qualquer custo para o leitor, democratizando a produção acadêmica da universidade”, afirmou.
As diretrizes do programa vetam a produção de obras derivadas a partir dos livros digitais lançados, a fim de garantir a integridade das obras. Também não é permitida a comercialização.
“Os livros têm um conceito muito bem claro, com um padrão de capas e de editoração definidos. Com isso, bastaria imprimi-los, da maneira que estão apresentados na internet, para termos essas obras em papel. Mas a ideia é que sejam mantidos como livros digitais apenas”, afirmou.
Para baixar os livros, segundo França e Silva, o leitor deve apenas preencher um cadastro sumário no site da Editora da Unesp e gerar uma senha que dá acesso às obras.
“O projeto é de grande importância para os autores. Suas obras, com a chancela da Unesp, serão acessadas por um público universal, que nunca seria atingido se a publicação fosse em papel. Iremos, ainda, ter o controle da quantidade e localidade dos downloads, o que nos permitirá aperfeiçoar as estratégias de publicação no futuro”, afirmou.
Para França e Silva, o público não deverá oferecer resistência ao novo formato. “Quando se começou a digitalizar os periódicos houve uma resistência inicial, mas hoje a maior parte das publicações é feita nesse formato. No entanto, não acreditamos que o livro de papel esteja desaparecendo. Trata-se apenas de uma nova forma de divulgar a ciência”, disse.
Segundo ele, os livros digitais serão cada vez mais importantes, em particular para as áreas de humanidades e artes – por isso o programa tem foco nessas áreas.
“Em geral, os pesquisadores das áreas de exatas e biológicas querem encaminhar suas pesquisas para periódicos o mais rápido possível. Mas nas áreas de humanas o livro tem um peso todo especial”, disse.
Mais informações: www.culturaacademica.com.br

O poder da BURRICE

O poder da BURRICE

"Duas coisas são infinitas: o universo e a burrice humana. Mas a respeito do universo ainda tenho dúvidas", disse Albert Einstein.
Componente inalienável da natureza humana, a burrice é, provavelmente, a força mais perigosa do cosmos


O que significa burrice? O conceito não tem uma definição teórica indiscutível. Não é o oposto de inteligência: há pessoas inteligentes que, vez por outra, fazem o papel de burras.
Uma definição convincente foi dada pelo historiador e economista italiano Carlo Cipolla: “Uma pessoa burra é aquela que causa algum dano a outra pessoa ou a um grupo de pessoas sem obter nenhuma vantagem para si mesmo – ou até mesmo se prejudicando.”
A burrice tem a peculiar vocação de se traduzir em ações, e por isso mesmo se torna perigosa. Segundo Cipolla, que identificou cinco “leis fundamentais da burrice” (veja quadro à pág. ??), até mesmo os mais inteligentes tendem a desvalorizar os riscos inerentes à burrice. E ela é mais perigosa que a crueldade: esta, tendo uma lógica compreensível, pode pelo menos ser prevista e enfrentada. Para começar, pensemos naqueles que, em tempos de Aids, mantêm relações sexuais sem proteção ou nos que não usam um antivírus no próprio computador, expondo a si mesmos e aos outros ao contágio de vírus reais ou virtuais.
A burrice sempre ofereceu cenas e personagens cômicos, como no conto de Andersen A roupa nova do imperador, no qual dois alfaiates mal-intencionados convencem o rei a vestir uma roupa maravilhosa, invisível para as pessoas burras. Era uma armadilha: ninguém queria admitir a própria burrice nem contradizer o soberano afirmando não ver a roupa (que de fato não existia). Só um menino teve a coragem de dizer que o rei estava nu, revelando a trapaça. Mas, atenção: rir da burrice pode deixá-la “simpática” e, portanto, desvalorizada. Se na ficção o estúpido é facilmente reconhecido, na vida real as coisas são diferentes.

A burrice tem três características fundamentais:
1) Ela é inconsciente e recidiva: o burro não sabe que é burro e tende a repetir várias vezes o mesmo erro. Tais características contribuem para dar mais força e eficácia à ação devastadora da burrice. A pessoa estúpida não reconhece os próprios limites, fica fossilizada em suas convicções particulares e não sabe mudar. Por isso, como diz o psicólogo italiano Luigi Anolli, “no âmbito clínico, a burrice é a pior doença, por ser incurável”. O estúpido é levado a repetir os mesmos comportamentos porque não é capaz de entender o estrago que faz e, portanto, não consegue se corrigir.
2) A burrice é contagiosa. As multidões são muito mais estúpidas que as pessoas que as compõem. Isso explica por que populações inteiras (como aconteceu na Alemanha nazista ou na Itália fascista) podem ser facilmente condicionadas a perseguir objetivos insanos, um fenômeno bastante conhecido na psicologia. “O contágio emotivo próprio do grupo diminui a capacidade crítica”, explica Anolli. “Percebe-se a polarização da tomada de decisão: escolhe-se a solução mais simples, que na maioria das vezes é a menos inteligente.”
3) Além da coletividade, há um outro fator que amplifica a burrice: estar numa posição de comando. “O poder emburrece”, afirmava o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Por quê? Quando estão no poder, as pessoas muitas vezes são induzidas a pensar que, justamente por ocuparem aquele posto, são melhores, mais capazes, mais inteligentes e mais sábias que o resto da humanidade. Além disso, estão cercadas de aduladores, seguidores e aproveitadores que reforçam o tempo todo essa ilusão. Dessa forma, quem está no governo chega a cometer as mais graves faltas com a aprovação geral.
Todos temos um fator de burrice maior do que imaginamos. Ele leva cientistas a só considerar um estudo sério quando coincide com seu ponto de vista. Mas o otimismo, mesmo sem base sólida, prolonga a vida, como demonstraram freiras norte-americanas.


Campeões da confusão

O cinema está repleto de heróis estúpidos que armam confusões sem fim, para si e para os outros, resultando em divertidas comédias. Veja, a seguir, algumas das mais famosas.
• Laurel e Hardy em Mestres do Baile (1943)
• Peter Sellers em A Pantera Cor-de-Rosa (1963) e Um Convidado bem Trapalhão (1968)
• Steve Martin em O Panaca (1978)
• Jim Carrey em Debi e Lóide (1995)
• Tom Arnold em Os Babacas (1996)
• Mike Myers em Austin Powers (2002)
• Steve Carell em Agente 86 (2008)

O PODER – SEJA ELE político, econômico ou burocrático – aumenta o potencial nocivo de uma pessoa burra. Um exemplo extremo é dado no filme Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick. Nele, um grupo de estúpidos de grau máximo pensa em detonar uma carga explosiva nuclear que levará ao fim do mundo, por uma simples frivolidade.
Por seu lado, o rei Luís 16, no dia 14 de julho de 1789 (a data da Queda da Bastilha, evento que deu início à Revolução Francesa), escreveu em seu diário: “Hoje, nada de novo.” O mesmo obtuso e burro senso de invencibilidade fez o general George Custer supervalorizar suas forças e atacar os índios em Montana (EUA), em 1876. Resultado: centenas de soldados do Exército norte-americano foram massacrados pelos índios sioux e cheyennes no riacho Little Big Horn. Ou, ainda, levou Napoleão a atacar a Rússia em pleno inverno de 1812: o Exército francês foi dizimado pelo frio e pela exaustão. Sem contar as previsíveis tragédias das guerras do Vietnã e do Iraque de hoje.
Em cada um de nós há um fator de burrice que é sempre maior do que imaginamos. Isso não é, necessariamente, um problema. Ao contrário, a estupidez tem uma função evolutiva: serve para nos fazer agir precipitadamente, sem pensar muito, o que em certos casos se revela mais útil do que não fazer nada. A burrice nos permite errar, e na experiência do erro há sempre um progresso do conhecimento. Assim, o ponto-chave para anular a burrice está em reconhecer os próprios erros e se corrigir. Como dizia o escritor francês Paul Valéry: “Há um estúpido dentro de mim. Devo tirar partido de seus erros.”
Como? Um estudo da Universidade de Exeter (Grã-Bretanha), publicado no Journal of Cognitive Neuroscience, identificou uma área do cérebro – no córtex temporal – que é ativada quando está para se repetir um erro já cometido: um sinal de alarme nos impede de recair na mesma situação. Se na base da burrice existisse uma anomalia localizada, talvez um dia pudéssemos corrigi-la com uma cirurgia. Desde que não caíssemos nas mãos de um cirurgião idiota.

TODOS NÓS ESTAMOS prontos a admitir que somos um pouco loucos, mas burros, jamais. Fuçando na literatura científica, é possível descobrir que somos um pouco burros, cada qual de um jeito diferente; mas o cérebro funciona de forma a nos esconder essa realidade. E mais: podemos descobrir que, apesar de tudo, é melhor assim.
As estatísticas indicam que 50% dos motoristas não sabem dirigir: um tem dificuldade para estacionar, outro circula a 20 km/h, um terceiro ocupa duas faixas como se a rua fosse dele. Mas quem não sabe dirigir não tem consciência disso, ou desistiria, preferindo o transporte público e aumentando, assim, as próprias (e as alheias) possibilidades de sobrevivência. O mesmo exemplo pode ser aplicado às pistas de esqui, ao universo de trabalho, ao campo de futebol e assim por diante.
Quem é suficientemente inteligente para reconhecer que não sabe guiar direito? Se formos a um hospital e entrevistarmos os recémretirados das ferragens de um carro, descobremos que ninguém admite integrar a categoria dos incapazes. Pesquisas mostram que 80% das pessoas internadas por acidente de carro acreditam pertencer à elite dos motoristas com habilidades superiores à média. E a responsabilidade do acidente? A maioria atribui seus erros à falta de sorte ou a algum idiota que cruzou seu caminho.
Ações suicidas
Em 1876, o general George Custer, no comando da 7ª Cavalaria americana, decidiu atacar – apesar do pequeno contingente disponível – um grande acampamento sioux em Little Big Horn. Os soldados foram todos massacrados. Um exemplo da burrice no poder.


E TEM MAIS. Imaginese agora como um verdadeiro fracassado em um determinado setor – por exemplo, na pintura, na natação, em estatística. E tente imaginar ser suficientemente inteligente para admiti- lo. Não se iluda: também aqui seu lado burro será revelado. “Seu cérebro encontrará um obstáculo, atenuando a importância daquele setor”, explica Cordelia Fine, pesquisadora no Centro de Filosofia Aplicada e Ética Pública da Universidade de Melbourne (Austrália).
“Aquela carência não o incomodará mais”, prossegue ela, “pois seu cérebro tenderá a considerar o desenho, a natação e a estatística como atividades supérfluas”. Assim, é melhor nos contentarmos em admitir que nossas fraquezas são comuns o bastante para fazer parte da falibilidade humana, enquanto nossos pontos fortes são raros e especiais.
Há uma explicação para esse comportamento? “A falência é a principal inimiga do nosso ego e da nossa auto-estima. É por isso que o cérebro, um grande vaidoso, faz o máximo para bloquear o caminho a essa hóspede indesejada”, acrescenta a pesquisadora.
Isso não é uma grande novidade, visto que no frontão do templo de Delfos, na Grécia, estava escrito: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.” Mas o autoconhecimento não é tão fácil: a idéia de quem somos varia de acordo com as necessidades. Em 1989, Rasyid Sanitioso e Ziva Kunda, na época psicólogos na Universidade de Princeton (EUA), mostraram a alguns jovens pesquisadores falsos estudos que documentavam um maior sucesso das pessoas extrovertidas. A outros deram pesquisas que premiavam os introvertidos. Pois bem: os estudantes se identificavam com qualquer dos traços de personalidade apresentados como passaporte para o sucesso...
VÁRIAS ESCOLHAS absurdas são feitas de maneira burra, sem uma avaliação dos prós e contras, dados e estatísticas reais. Casar-se, por exemplo, é uma decisão que implica um vínculo para toda a vida. Quem, cruzando as portas da igreja ou do cartório, tem a perfeita consciência de que, segundo as estatísticas, o casamento tem 50% de chance de dar errado? No momento do “sim”, só sabem disso os pais dos noivos, os avós, os amigos, parentes e até mesmo o padre e o juiz. Os interessados diretos demonstram uma obstinação cega, perfeitamente convencidos de que sua união será uma exceção a todas as regras. Até porque, se não estivessem seguros, a continuidade da raça humana dependeria da péssima eficácia dos contraceptivos e o Homo sapiens poderia já estar extinto.
E a capacidade de admitir nossos erros de avaliação? Quase inexistente: estamos atados a nossas convicções como se elas fossem coletes salva-vidas. O que pedimos ao mundo não são novos desafios a nossas ideologias políticas e sociais. Preferimos amigos, livros e jornais que compartilham e confirmam nossos iluminados valores. Mas, cercando-nos de pessoas oportunistas, reduzimos a chance de que nossas opiniões sejam questionadas.
Também nos vários setores da pesquisa, a burrice se apresenta pontualmente: os envolvidos tendem a considerar um estudo sério e convincente quando os resultados coincidem com seu ponto de vista; ou julgamno ultrapassado e cheio de defeitos quando vão de encontro a suas expectativas. Esse fator explica por que muitas vezes é inútil tentar demover um obstinado de manter idéias claramente erradas.
Todas as vezes que nosso cérebro pensa no futuro, tende a produzir previsões otimistas. Por exemplo: estamos sempre certos de que nosso time do coração vai ganhar o jogo, embora haja outra possibilidade. As previsões “autocelebrativas” também acontecem nas bancas de apostas, nos cassinos e nas loterias, nas quais as pessoas desperdiçam dinheiro porque a capacidade de julgamento fica dominada pelo desejo de vencer. Qual é a razão desse estúpido otimismo do cérebro? Ele nos protege contra as verdades desconfortáveis.

HÁ PESSOAS QUE chegam incrivelmente perto da verdade sobre si mesmas e a respeito do mundo. Elas têm uma percepção equilibrada, são imparciais quando se trata de atribuir responsabilidades de sucessos e fracassos e fazem previsões realistas para o futuro. Testemunhas vivas do quanto é arriscado conhecer a si mesmas, elas são, para muitos psicólogos, pessoas clinicamente depressivas. Martin Seligman, docente de psicologia na Universidade da Pensilvânia (EUA), demonstrou que o chamado “estilo explicativo” pessimista é comum entre os deprimidos: quando fracassam, assumem toda a culpa, consideram-se burros, péssimos em tudo e se convencem de que essa situação vai durar para sempre.
E quais são os resultados de tanta (às vezes excessiva) honestidade intelectual? Deborah Danner, pesquisadora da Universidade de Kentucky (EUA), examinou os efeitos da longevidade em 180 noviças norte-americanas, otimistas e pessimistas. Quanto mais otimistas se mostravam as religiosas, mais tempo viviam. As mais joviais viveram em média uma década além das pessimistas. É claro que ser realistas e ao mesmo tempo serenos e otimistas seria o ideal; mas não há dúvida de que às vezes um pouco de burrice faz bem.

Equipe Planeta