quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Um dia sem eletricidade






Um dia sem eletricidade
Por Francisco

Eu gostei do apagão.

Foi maravilhoso olhar pela janela e perceber a completa ausência de aparelhos de televisão ligados num raio de muitos quilômetros.

Ninguém gritando gol, ninguém chorando o drama da novela que reconta a mesma história pela enésima vez. Ninguém olhando para seu eletrodoméstico favorito com a expectativa de quem aguarda o fato que mudará sua vida. Nenhum jornalístico televisivo anunciando em tom dramático notícias horrendas escolhidas a dedo para instilar o mais absoluto pavor nas mentes de todos. Ninguém fazendo da televisão uma companhia permanente, repetindo de tal forma o hábito a ponto de torná-lo um vício. Ninguém sacudindo a perna, esperando ansioso o intervalo comercial para fazer xixi.

Silêncio, que beleza. Potencializado pela introspecção, tão necessária mas tão rara, ocasionada pela escuridão.

Também havia pessoas conversando em tom de voz adequado e pais dialogando com seus filhos, algo que talvez não ocorresse desde… quando, mesmo?

A infância num lar onde a tv ocupava o centro das atenções foi dolorosa. Quantas vezes fui dormir tomado de terror pelas reportagens que acabara de ver no Fantástico. Fora os horrorosos filmes policiais, novelas e programas de auditório. Eu não tinha escolha.

Visitar uma amiga culta, certo dia, foi revelador. Pela primeira vez estava numa casa em cuja sala não havia aparelho de tv. Estranhei a princípio, mas notei que todos conversavam e todos se ouviam. Que diferença.

Deixei de assistir tv há mais de 15 anos e não me faz a menor falta. Quanta diversidade ao meu redor, quantas amizades, idéias a compartilhar, quanta natureza, cores, flores, carinho, boa música, gentileza, arte. Quanta alegria! Eu não via, embriagado que estava pela hipnose do eletrodoméstico.

Que esse tempo sem tv possa ter sido longo o bastante para permitir a outros a tomada de consciência de que existe, sim, vida fora da telinha, e muita.

Tenho para mim que o Criador, em sua infinita sutileza, causa periodicamente essas interrupções elétricas a fim de generosamente nos oferecer oportunidade de lembrar que não existimos para passar a vida diante da televisão. Vida não é o que aparece na tv nem o que acontece às pressas durante os comerciais. Viver é muito mais.

A vida sem televisão é incomparavelmente melhor.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

CAETANAS BOBAGENS


CAETANAS BOBAGENS
Marcos Bagno – Outubro de 2008

Caetano Veloso é um dos mais brilhantes letristas, compositores e cantores da nossa música popular. Mas ele não se satisfaz com isso. Também quer ser sociólogo, antropólogo, filósofo, historiador, ensaísta, cineasta, teólogo, crítico literário… Recentemente, decidiu falar de lingüística. Com a petulância dos mal-informados e a arrogância das celebridades, acredita que por ter lido Saussure em meados do século passado está autorizado a dissertar sobre e, principalmente, contra os lingüistas profissionais. Vá estudar, Caetano: a ciência da linguagem já passou por muitas revoluções epistemológicas desde 1916. Ou não se meta a falar do que não sabe, dizendo que sabe.

Não tenho como debater todas as bobagens que ele escreveu e que as caetanetes se apressaram, gotejantes, em elogiar. Me restrinjo à defesa que ele faz dos falsos gramáticos que invadiram a mídia brasileira na última década e meia. O problema que os lingüistas apontam no trabalho dessas pessoas é que elas apregoam um estereótipo tosco, rígido, estreito e, finalmente, mentiroso de “língua certa” que não corresponde aos usos reais e efetivos nem sequer das nossas elites urbanas mais letradas. Formas lingüísticas usadas há mais de um século e consagradas na obra dos nossos melhores escritores são sistematicamente combatidas por esses gramaticóides como “erros”, “desvios” e “impropriedades”. Opções que aparecem na própria escrita poética de Caetano são veementemente condenadas por eles. Ou não? “Deixa eu cantar pro meu corpo ficar Odara”, por exemplo…

Os lingüistas não são populistas nem demagogos. Essa é a acusação tacanha de quem só lê pela metade o que nós escrevemos, se é que lê. Defender as variedades lingüísticas das camadas desprestigiadas não significa dizer que esses cidadãos não devem ter acesso a um grau mais elevado de letramento (não sabe o que é letramento? vá estudar!). Todos os lingüistas que conheço (e conheço muitos) lutam pelo pleno acesso dos cidadãos às formas prestigiadas de falar e de escrever. Acontece que essas formas prestigiadas reais não são o modelo estúpido e jurássico de “português correto” que os falsos gramáticos tentam inculcar em suas manifestações na mídia. Há um abismo profundo entre a verdadeira norma culta brasileira, falada e escrita pelas nossas camadas privilegiadas, e a “norma oculta” que os gramaticóides defendem. É contra isso que os lingüistas se batem. Os brasileiros urbanos letrados falam e escrevem uma língua que não é reconhecida como legítima, porque no nosso imaginário lingüístico vigora um ideal de correção inspirado em usos literários lusitanos de meados do século XIX. Se você não fala como Eça de Queirós escreveu, está tudo errado! Até quando, meu pai Oxóssi?

Infelizmente, quando o assunto é língua, até mesmo as pessoas mais inteligentes se deixam engambelar por aquilo que os estudiosos de língua inglesa chamam de “folk linguistics”, um conjunto de mitos, superstições e inverdades sobre a língua e a linguagem que se entranharam na cultura ocidental e que resistem a toda contestação racional, baseada na pesquisa científica e nos dados da realidade.



Fonte: http://www.fabiocampana.com.br/2009/11/caetano-lula-e-analfabeto-pt-ele-e-pos-graduado/

domingo, 8 de novembro de 2009

A fábrica de alunos da Uniban


Por Andre Araujo

Esse tipo de universidade existe por todo o Brasil. Tres sujeitos ricos mas de escassa educação se reunem em uma praia e discutem: pessoal, temos que investir esse dinheiro, vamos abrir uma igreja, uma universidade ou uma concessionária Volks?

É desse tipo de gente que saem essas universidades.

A Uniban fazia uns anuncios na radio Bandeirantes aonde falava o vice-reitor. Como dizia sabiamente George Bernard Shaw, a linguagem é o melhor documento de identidade. O portugues do sujeito era de quiosque de praia, E era vice-reitor.

São universidades caça-niqueis, não tem qualquer espirito universitario, qualquer compromisso real com a educação, tendo capital se compram predios em leilões mal cheirosos, moveis de 3ª, professor acha com facilidade, pagou e dão aula, depois é só investir em marketing. Não tem e nunca terão espirito de universidade porque não são lideradas por educadores de verdade e sim por comerciantes para quem tanto faz escola como posto de gasolina.

Esse foi o maior erro do MEC e do CFE au autorizar esse tipo de falsa universidade. O requisito principal deveria ser o dos organizadores do empreendimento, que curriculo tem, isso é mais importante do que o dos professores e hoje não é filtro para autorizar a instituição. Não é só essa do ABC, no Rio tambem há universidades criadas por comerciantes de qualquer coisa e uma delas é das maiores do Rio.

Então esperar espirito universitario dentro de um negocio de bicheiros, sucateiros ou donos de empresas de transporte de carga, seria demais.

E não se culpe a globalização. Universidade na Europa e nos EUA é coisa séria, a esmagadora maioria não tem fins lucrativos, são fundacionais e são rigorosamente avaliadas pelo publico discente, ninguem investe em coisa ruim quando escolhe universidade para os filhos, nos EUA é rara a universidade que tenha menos de 70 anos de fundação, as grandes tem dois seculos, na Europa idem.

Por causa dessa liberalidade excessiva, confundida com democratização do ensino, temos hoje no Brasil mais de 1.200 faculdades de direito, contra 182 nos EUA e temos no Brasil mais faculdades de medicina do que toda a Europa. Estamos enganando jovens e seus pais, formando falsos preparados para nada, uma legião de desempregados diplomados, na recente inscrição para emprego de garis no Rio se inscreveram 2.000 com curso superior.

Quando aqui se discute a decisão sobre essa jovem expulsa da Uniban esta se discutindo coisa errada.

Não foi uma universidade que a expulsou indevidamente, foi um local onde era uma fabrica que faz de conta que é universidade e acha que com isso mantem a aparencia de ambiente familiar, como nos antigos “”reservados”” de bares de subuirbio, devem achar que é bom para o marketing, o ABC é de fato uma região bem conservadora.
Comentário

No começo dos anos 90, através do meu programa “Dinheiro Vivo”, na TV Gazeta, investi contra o presidente de uma associação de escolas particulares de São Paulo. Ele deu uma entrevista condenando uma decisão que obrigava a escola a aceitar alunos com deficiência física – ou coisa parecida. O sujeito era de uma truculência incontida. Quebramos o pau durante alguns dias.







Vendo as fotos do presidente da Uniban, me pareceu o mesmo típico físico. Não deve ser o mesmo. Mas alguém poderia lembrar quem foi o presidente dessa associação no início dos 90?
Por Francisco Bicudo




Caro Nassif, acho que você se refere ao famigerado José Aurelio de Camargo, que era presidente do Sindicato das Escolas Particulares de São Paulo (Sieeesp) na época, e que ao “justificar” a recusa de matrícula de uma aluna portadora do HIV (o nome da pequena era Sheila), afirmou que “crianças com Aids não precisam estudar, pois já nascem com atestado de óbito assinado”. Nojento, abjeto, deplorável e fascista.

Fonte: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/