segunda-feira, 22 de junho de 2009

O vírus fascista

O vírus fascista


NUNCA ACREDITEI na "política". Sempre suspeitei de grande parte dos colegas na faculdade que tinham "consciência política". Muitos deles eram maus alunos que aproveitavam a "missão" de salvar o mundo para matarem as aulas. No cotidiano invisível das relações humanas, manipulavam os colegas para seus fins políticos. Evidentemente que alguns eram pessoas de boa fé.

Falas como "o pensar para o coletivo" sempre me pareceram modos sofisticados de servir a uma certa farsa. O "pensar para o coletivo" adora burocracias e autos-de-fé. Essas palavras são ditas contra quem é mais livre do que a "consciência política" gosta. O espírito coletivo detesta a liberdade. E a liberdade não é necessariamente bela.

Esse sentimento se revelou uma consciência filosófica diante do fascismo. Hoje sei que, como me disse certa feita o filósofo alemão Peter Sloterdijk numa conversa regada a vinho, charutos, cachimbos e um delicioso frango que sua esposa faz, "não se enganem, ninguém venceu o fascismo". E por quê?

O fascismo está inscrito na relação entre o Estado moderno e as tentativas de "construção política da vida correta e do bem-estar social". Por isso sua íntima e bem-sucedida relação com a propaganda para "conscientização das massas". Um exemplo de fascismo é o constrangimento do idioma pelo "politicamente correto".

O fascismo não é uma marca restrita de Mussolini, Fidel Castro, Stalin ou Hitler. Essa é sua versão totalitária. O fascismo é um traço da sociedade moderna na "sua forma de construir um mundo melhor" por meio da máquina do Estado e das políticas públicas que moldam os comportamentos.

Explico-me: quando o coletivo age moralmente, ele é sempre fascista. Não importa se seus representantes são eleitos ou impostos diretamente pela força. O poder, às vezes desastroso, criado pela ciência e pela técnica é vastamente investigado pela história. A crescente burocracia do Estado moderno merece a mesma "desconfiança" porque ela parece querer controlar os mínimos detalhes da vida, distribuindo o "Bem". Não sabemos o que é "o Bem", por isso devemos conviver com práticas diversas "dele". Entre a ciência, os tribunais, os sistemas de comunicação e de controle burocrático, a liberdade desaparece quando o Estado se faz "agente moral".

A soma disso nos leva ao controle dos comportamentos. Há sempre uma relação explosiva entre a intenção de eficácia social e o risco fascista. Quando a política vira moral, estamos diante desse risco. O Estado hoje entra na sua vida na velocidade da luz. O próximo passo é entrar na sua alma, na sua cama, no seu amor, na criação dos seus filhos, na sua fé e na sua boca. O governo não deve fazer cartilhas "éticas".

Aléxis de Tocqueville no seu magistral livro "Democracia na América", antídoto contra a fé cega na democracia, nos chama a atenção para os "detalhes da liberdade". Defendemos mais a liberdade quando impedimos que o governo entre no cotidiano das pessoas (família, escola, igrejas, sentimentos, virtudes e vícios) do que quando definimos "A Liberdade" em grandes idéias ou políticas públicas.

Quanto mais "cega" é a política para os detalhes da vida, menos perniciosa ela é. A tendência à "tirania dos detalhes" é típica do Estado democrático porque ele se acha um representante legítimo das pessoas (a maioria o elegeu), por isso pensa que deve "definir" o cotidiano delas. Seu modo de legitimação produz sua forma de tirania invisível.

A mania pela saúde, pelo bem comum, pela igualdade, pelo novo, pela construção social de hábitos saudáveis de vida, o ódio à religião (competidora do Estado moderno pela educação das almas) são paixões ancestrais do fascismo. Típico do espírito fascista é seu amor puritano pela "humanidade correta" ao mesmo tempo em que detesta a diversidade promíscua dos seres humanos. Por isso sua vocação para idéia de "higiene científica e política da vida": supressão de hábitos "irracionais", criação de comportamentos "que agregam valor político, científico e social".

O imperativo "seja saudável" pode adoecer uma pessoa. Na democracia o fascismo pode ser invisível como um vírus. Quer um exemplo da contaminação? Votemos uma lei: mesmo em casa não se pode fumar. Afinal, como ficam os pulmões dos vizinhos? Que tal uma campanha nas escolas para as crianças denunciarem seus pais fumantes?

Luiz Felipe Pondé, na Folha de S.Paulo.

sábado, 20 de junho de 2009

Jürgen Habermas, 80 anos


"A lava do pensamento em fluxo", esse é o nome de uma exibição na Biblioteca Nacional em Frankfurt sobre a obra do filósofo alemão Jürgen Habermas, que completou 80 anos ontem. De fato, poucos pensadores contemporâneos podem ser comparados a um vulcão. Habermas é um deles não só pela extensa obra, mas também por uma postura aguerrida nos debates políticos e acadêmicos dos últimos 50 anos.

Desde o final da Segunda Guerra, em uma Alemanha dividida e ainda sob um longo processo de "desnazificação", Habermas emerge como uma figura pública, um "intelectual orgânico", que se encarrega de combater os adversários e obstáculos do que ele considera ser o caminho à maior democratização e emancipação social. Nesse sentido, ele é o antípoda de um certo pensamento decisionista que encontra seu melhor representante em Carl Schmitt.

Ao longo da segunda metade do século XX, Habermas também debateu com praticamente todos os intelectuais de peso. Na Alemanha, tomou parte na "Historikerstreit" (querela dos historiadores), sobre a interpretação histórica do nazismo. Nas discussões no campo da filosofia e da sociologia, tanto no resto da Europa, quanto nos Estados Unidos, sua lista de interlocutores inclui nomes como Derrida, Luhmann, Gadamer, Rawls, Taylor e por aí vai.

Ontem o jornal Süddeutsche publicou um excelente artigo de Charles Taylor, que faz um apanhado do que é mais ou menos o pensamento de Habermas. Além disso, o Frankfurter Allgemeiner Zeitung publicou também um artigo interessante de caráter mais biográfico, e o próprio Instituto de Pesquisa Social (a tal "Escola de Frankfurt") editou uma publicação para celebrar o aniversário.

É muito difícil resumir as várias facetas da teoria habermasiana em tão pouco espaço, como atesta Taylor. Mas, baseado um pouco no artigo publicado no Süddeutsche, vou tentar fazer um breve esboço aqui.

Em primeiro lugar, Habermas diferencia-se de uma tradição iniciada por Platão e Aristóteles e que busca responder questões de ordem moral a partir de uma visão da natureza humana. Isso torna-se problemático à medida que nos damos conta de que explicações baseadas em uma noção de natureza humana adotam sempre uma perspectiva metafísica. Em outras palavras, quando nos questionamos se uma lei é justa ou não, apelar à ideia de que os homens são, por exemplo, bons e suas ações boas (e, portanto, as leis feitas por eles são justas) não passa de uma generalização muito subjetiva. Como é possível então fornecer uma explicação ou um critério de validade mais objetivo?

Habermas tenta responder essa pergunta a partir de uma ideia de racionalidade baseada em processos dialógicos. A ideia de procedimento é emprestada de Kant. Pense, por exemplo, no tipo de ética implícita nos "Dez Mandamentos". Há duas tábuas com um conteúdo pré-determinado, dado, o qual devemos obedecer. Kant, ao contrário, formula um "procedimento" que não pretende fornecer, de antemão, nenhum conteúdo: "age somente segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que se torne lei universal". Ou seja, ao agir devemos nos guiar por uma "lei" que possa ser também escolhida por todos.

Habermas modifica esse imperativo a partir dos estudos no campo da linguagem e o reformula em termos de um procedimento discursivo. A fim de saber quais normas são aceitáveis, precisamos seguir um procedimento segundo o qual serão válidas apenas aquelas normas cujas justificativas (isto é, as "razões" pelas quais devemos obedecer) puderem ser aceitas por todos os concernidos, ou seja, todos os afetados pelas normas.

A essa mudança de paradigma no campo da filosofia corresponde também uma mudança no campo da cultura política. Como afirma Taylor, isso ocorre através de uma "Renascença do Diálogo". Ainda segundo ele: "O feminismo, o multiculturalismo, o movimento gay e, não menos importante, os conflitos sobre identidade e reconhecimento mostram como concepções tradicionais de sociedade e política estão baseadas na exclusão tácita de minorias". Partindo desse diagnóstico, a teoria de Habermas busca oferecer uma maior abertura e inclusão de diferentes concepções de vida boa, visões de mundo etc. Em resumo, como as normas estão abertas àquele procedimento de justificação a partir da deliberação, é possível em tese levar em conta as diferenças. Algo que seria impossível caso estivéssemos presos ainda a uma concepção específica e unívoca de natureza humana.

Apesar de ambicioso, o projeto habermasiano é hoje um grande plano executado por uma imensa "força-tarefa" envolvendo grupos de pesquisa em todo o mundo, abrangendo áreas que vão da sociologia à política, passando pelo direito. Talvez não vejamos mais surgirem figuras com a mesma dimensão e importância de Habermas por aí. Segundo a professora Nancy Fraser, aqui da New School, a obra de Habermas é uma espécie de "one-man show". Daqui por diante teremos sim diversos grupos e coletividades de intelectuais dando continuidade a não uma, mas várias teorias críticas.


Fonte: http://blogln.ning.com/profiles/blogs/juergen-habermas-80-anos

Escuta Essa! – "A crise é do Senado"; a mosca é do Obama




Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/multi/2009/06/20/04023566CCB14346.jhtm?escuta-essa--a-crise-e-do-senado-a-mosca-e-do-obama-04023566CCB14346

domingo, 14 de junho de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Se te Queres


Álvaro de Campos

Se te Queres

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?

Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

Lisbon Revisited


Álvaro de Campos
Lisbon Revisited
(l923)


NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

E-books, uma transformação possível


Livros escolares impressos?

Matthew Garrahan e Andrew Edgecliffe-Johnson, Financial Times
10/06/2009

Na sua cruzada para reduzir bilhões de dólares do crescente déficit orçamentário da Califórnia, Arnold Schwarzenegger vem liderando a investida rumo à geração do Twitter com uma promessa de substituir os caros e “superados” livros de texto escolares por aparelhos digitais.

O Estado está prestes a se tornar o primeiro nos EUA a abandonar os livros escolares impressos. Schwarzenegger, o governador do Estado, disse que a iniciativa poderá economizar até US$ 350 milhões ao ano.

“Os livros escolares estão superados no que me diz respeito”, disse. “Não existe motivo para nossas escolas obrigarem os nossos estudantes a arrastar esses livros escolares antiquados, pesados e caros. A Califórnia é a terra natal do Vale do Silício, líder mundial em tecnologia e inovação, portanto podemos fazer melhor do que isso.”

A Califórnia liderou recentemente o resto do país na instituição de novos e rigorosos padrões para emissões de gases veiculares para conter a mudança climática e suas regulamentações acabaram sendo adotadas por Washington.

A iniciativa digital foi elogiada pelos conselhos diretores escolares carentes de dinheiro do Estado. “Ela economiza para as nossas escolas somas consideráveis de recursos reservados para livros escolares e, no nosso mundo em constante mutação, confere às editoras a oportunidade de atualizar os textos rapidamente com os mais recentes acontecimentos mundiais”, disse Jim Vidak, superintendente escolar no Condado de Tulare.

A Califórnia convidou programadores de conteúdo a fornecerem inicialmente livros escolares digitais em matemática e ciências, que o Estado examinará em tempo para o próximo ano escolar.

Schwarzenegger manifestou confiança de que os estudantes possam se beneficiar dos recursos de aprendizagem digitais, dizendo que eles estão acostumados a usar informação em tempo real no Facebook ou no Twitter. “A Califórnia é a terra natal dos colossos de software e dos pioneiros em pesquisa de biociência”, disse. “Mas os nossos estudantes ainda estudam a partir de materiais de instrução em formatos criados pela prensa tipográfica de Guttenberg. É despropositado - e oneroso - querer os livros tradicionais de capa dura quando a informação está disponível em formato eletrônico”.

Num momento em que a Califórnia enfrenta um déficit orçamentário recorde de US$ 24 bilhões, porém, o Estado poderá ter de enfrentar altos custos iniciais - especialmente considerando que Schwarzenegger se comprometeu a disponibilizar livros escolares digitais para cada um dos dois milhões de estudantes do Estado.

“O principal sentido prático é que até os estudantes terem acesso pleno e igual a computadores, esta iniciativa será muito difícil de ser implantada”, escreveram analistas do Citigroup, em nota de análise.

O Estado é um dos maiores compradores de livros escolares no mundo, assim que a transição para ensino digital poderá ter grandes implicações para editoras, como a Pearson, proprietária do “FT”. “A Pearson é agnóstica quanto à forma em que seu conteúdo é acessado, mas o importante para nós é que o material seja de alta qualidade e eficaz”, disse a companhia.

“As crianças querem lidar com uma ferramenta que seja interativa”, disse Jake Neuberg, executivo-chefe da Revolution Prep, uma empresa com sede na Califórnia que fornece elaboração de provas e ferramentas de ensino digital para estudantes. “As ferramentas de ensino não mudaram durante centenas de anos”.

Uma placa USB de 4 gb sai por uma merreca. Nela provavelmente cabe toda a Enciclopédia Barsa. As escolas estão sendo informatizadas. O custo de preparar um livro em PDF é irrisório. Qual a lógica de livros didáticos impressos?

Por aqui mesmo, vários comentaristas têm criticado essa obsolescência. O papel de uma editora de livros tornou-se mais irrelevante que de uma gravadora. O autor supostamente detem os direitos autorais. Bastará às Secretarias de Educação e ao MEC promoverem a seleção dos autores - ou adquirir o conteúdo - montar uma biblioteca digital e permitir a cada escola baixar não um ou dois livros, mas todos que quiserem.

A maior dificuldade para a implantação desse modelo no Brasil é o fato das verbas de educação terem se transformado no terreno ideal para esquemas políticos com a mídia e com financiamento de campanha.

Mas certamente essa proposta de digitalização teria o apoio da Abril, da Folha, do Globo, pois combate aquilo que a imprensa considera a maior vulnerabilidade do(s) governo(s): aumento de gastos correntes.

Veja o que a Califórnia está planejando.


Fonte: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/06/10/livros-escolares-impressos/

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Piratas ou não?



Na hora que pensei em postar algo, lembrei-me de um trecho do livro, Universo Holográfico, do Marcos Torrigo, onde afirmava que a revolução possível de hoje seria por meio da internet. O único meio, segundo ele, que potencializa, possibilita e aponta para alguma revolução possível.. Assim está fazendo o Partido pirata...

É uma metáfora errônea chamar uma suposta ou real violação do copyright de pirataria. Pois os bens copiados não possuem uma existência física material, ou seja, são bens intangíveis e não sofre do mal da escassez. Por isso, um livro pode ser copiado varias vezes sem afetar em nada sua existência. Por exemplo, é um absurdo comparar o furto de um celular com uma copia de um e-book, pois são fatos completamente distintos. Não existem sites para baixar celulares. O custo de uma copia digital de um livro é praticamente zero. No momento que faço o download de um E-book não estou privando o dono do uso. A pirataria, traduzindo ao pé da letra, é vc privar a pessoa de algo. É você tirar, tomar, privar, roubar . Assim que faziam os piratas. Eles roubavam as embarcações deixando os verdadeiros donos sem seus produtos. Copiar sem autorização não é a mesma coisa que roubar, não é uma ação comparável àquelas praticadas pelos piratas e seus navios. Na verdade, existe uma tentativa de criminalizar todo mundo. Por que o termo pirataria carrega uma conotação pejorativa e criminosa. Então, essa é a idéia da indústria cultural, fazer com que as pessoas pensem que copiar é a mesma coisa que roubo. Não irei nem entrar na questão de produção do conhecimento... Ninguém cria algo do nada, embora durante muito tempo vende-se essa idéia para se criar a exclusividade e assim faturar muita grana. Todos sabem ou deveríamos saber que a cultura é remix e por isso deve ser compartilhado o máximo.

“Como reação ao uso do termo “pirataria”, como denuncia ao bloqueio do compartilhamento de bens culturais e como crítica as tentativas de privatização do conhecimento, recentemente surgiu na Europa o Pirate Party (Partido Pirata). Imediatamente, a iniciativa se espalhou pelo mundo. Já possui coletivos que defendem a liberdade de cópia em todos os Continentes.” S. Amadeu

“Piratas são eles, nós não estamos a procura do ouro”.

Mais informações sobre partido pirata clique aqui



PARTIDO PIRATA SUECO JÁ É QUARTA FORÇA POLÍTICA

O Partido Pirata sueco tem quase garantido assento no Parlamento Europeu, ao posicionar-se actualmente como a terceira força política da Suécia, com 8% das intenções de voto. Esta formação defende o fim das restrições no uso da Internet, o que inclui a livre partilha de ficheiros, mesmo que estes estejam sujeitos ao pagamento de direitos de autor. Depois do julgamento ao PirateBay, site de partilha de ficheiros que não está ligado ao partido, as inscrições dispararam. Contam agora com cerca de 46 mil militantes, só na Suécia.
Se as actuais sondagens se mantiverem, é muito provável que o Partido Pirata obtenha mais do que um assento no Parlamento Europeu. Em declarações ao diário “The Times”, o cabeça-de-lista dos “piratas” às europeias, Christian Engstrom, assegurou que o plano de “conquista” do partido vai por esta ordem: “Suécia, Europa, Mundo”.

O Partido Pirata foi fundado em 2006 e engrossou recentemente as suas fileiras após a sentença contra os criadores do site sueco de partilha de ficheiros Pirate Bay, que tem cerca de 25 milhões de utilizadores a nível mundial, em que foram condenados ao pagamento de uma multa de mais de 2,7 milhões de euros a gigantes mundiais como a Warner Bros, Sony Music, EMI e Columbia Pictures. Após a sentença dispararam as filiações partidárias, que se cifram actualmente em mais de 46 mil membros, número bastante significativo para um país com 9 milhões de habitantes. Os novos filiados são sobretudo jovens, um factor que causa a inveja dos partidos mais “tradicionais”, incluindo o do primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt.

No ano de “estreia” eleitoral, 2006, o Partido Pirata obteve 0,63 por cento dos votos nas eleições legislativas da Suécia. Mas esta situação poderá mudar na iminente votação europeia, caso as sondagens se mantenham como estão. O programa eleitoral do partido centra-se quase exclusivamente nas comunicações electrónicas, prometendo igualmente lutar pela confidencialidade e liberdade na Internet.

“Os nossos políticos são analfabetos digitais”, declarou o líder da formação, Rick Falkvinge, que assegurou que “o sistema e os políticos declararam guerra a toda uma geração”. Para “não sermos intimidados para qualquer potência estrangeira, votar nas eleições para a UE é mais importante que nunca”, concluiu.
Fonte: Público

http://www.blocomotiva.net/index.php?option=com_content&task=view&id=1225&Itemid=1



quarta-feira, 3 de junho de 2009

IMPRENSA PIAUIENSE

Abrindo uma excessão para um amigo que fiquei devendo esse texto.



Notas sobre a mídia chapa-branca

Por Sid Garcia em 18/12/2007

O jornalismo piauiense vive uma contradição. Enquanto os jornais e portais de notícias enriquecem às custas, principalmente, das gorjetas doadas pelo governo do Estado, os jornalistas empobrecem suas capacidades de produção de texto (e suas raras criatividades) e fornecem à população notícias fúteis, falsas, compradas, deturpadas, medrosas, sensacionalistas e, o pior: sem ser de interesse público.

Não é difícil de ver, diariamente, os portais esbanjando quantos acessos possuem, que é o primeiro lugar em visitas, que é o melhor em conteúdo, que é a opção inteligente, que tem de tudo, que é a informação verdadeira e todo um blablablá de slogans hipócritas e distantes da realidade. A verdade é que os meios de comunicação do Piauí criaram, nos piauienses, a cultura do sensacionalismo. Programas de TV como Ronda, que, com cerca de uma década de existência, zomba da informação, trazendo para a população o costume de ver a notícia como algo ridículo, humilhante etc. E os portais, como 180graus e Meio Norte (da mesma emissora do circo do Ronda) continuaram a dar às pessoas o mesmo lixo midiático, já que viram que a notícia sem qualidade, como falar da morte de alguém na rua e expor fotos degradantes, era um modo de receber muitas visitas.

A coluna "Gazetilha", por exemplo, do antes reles desconhecido de uma escola mais desconhecida ainda, professor Roberto Alencar, que, no início, esperava-se ser uma coluna séria, até por ser de um professor (alguém de quem se esperam atitudes sérias), mas o que se vê é a barbárie, a revelação da vergonha. Todos os dias somos metralhados com imagens de brigas entre casais, de fotos de bandidos mortos e suas tripas que se espalharam pelo chão e diversas "notícias" que não são de interesse público, mas apenas uma curiosidade popular de ver o polêmico.

Polêmica gratuita

Algo de que, se não todos, 99% dos meios são acusados: de julgarem os suspeitos do crime antes da Justiça. Talvez isso seja um mal do jornalismo no Brasil, mas o Piauí deveria mostrar o exemplo e fazer diferente. Mas não. Estampam todos os dias fotos de suspeitos e abrem a temporada de caça às bruxas contra, muitas vezes, pessoas pobres que não têm nem como se defenderem (muitas vezes, nem acesso à internet possuem). E quando se descobre a inocência de algumas dessas pessoas, a imprensa faz mea culpa e muda rapidamente de assunto.

Mas os piauienses não são idiotas, não são sem cultura, eles apenas foram ensinados a gostarem da falta de qualidade, graças aos diretores dessas empresas. E o pior é que quem possuía alguma qualidade está regredindo, pois estupidamente imagina que descer o nível da informação é um meio de obter mais visitantes (como se isso fosse o mais importante num bom jornalismo).

Um exemplo é o outrora respeitado e temido Arimatéia Azevedo, dono do portal AZ, que antes censurava as notícias forçadas, como de mulheres peladas e bobagens em geral, e agora busca justamente nas informações chulas um modo de alavancar o seu portal. Será mesmo essa a saída: prender os piauienses numa espiral de incultura?

Pergunta fácil: quem sabe, uma coluna de política que faz uma análise aprofundada do tema no Piauí? Análise verdadeira, e não apenas política de fofoca (fulano disse isso; sicrano rebate acusações). Desconheço. Vejam, por exemplo, o programa de boa audiência Jornal do Piauí, apresentado por Amadeu Campos na TV Cidade Verde. Ele leva os políticos apenas para atirarem contra outros e instiga à polêmica gratuita, da briga entre os políticos de partidos rivais. Apenas isso! Vê-se um monte de pseudo-intelectuais apenas procurando uma polêmica entre as brigas políticas para conseguir um pouco de espaço.

Interesses dos governantes

O jornalismo político do Piauí é covarde e preso. Todas as notícias políticas trazem, por trás, um interesse econômico ou vingativo. No primeiro caso, quando se quer ganhar um troco do governo e, por isso, elogia-se ou critica-se. No segundo caso, é a vingança justamente por não ter ganho um dinheirinho ou pelo político ter feito algo no passado que prejudicou o meio – como o caso das confusões geradas entre180graus e governo do Estado, da qual o portal de notícias criticou duramente o governo por não lhe destinar nenhuma verba, apenas para os concorrentes.

Falando em governo, deveriam ser de conhecimento popular os critérios usados para a escolha do valor das publicidades para cada veículo. O portal Acesse Piauí, da secretária de Comunicação Social, Cristiane Sekeff, a mesma que regulamenta o pagamento para os meios de comunicação, recebe 18 mil reais por mês de propaganda. Isso é moral? Deve-se confiar na imparcialidade da equipe de Sekeff na hora de criticar o governo do Estado?

O jornal O Dia, que bate no peito afirmando ser o jornal em atividade mais antigo do Piauí, é o mais comprado de todos. Não se vê, como destaque, nenhuma matéria com o risco de manchar o mínimo possível a imagem do governo. Jornalistas dos meios citados, acordem: os meios de comunicação servem para ligar a população aos problemas e soluções sociais, e não para separá-los. Se vocês só trazem os interesses dos governantes (grande parte apenas copiada das assessorias de imprensa públicas) e raramente dos populares, qual a razão de existirem? Dêem uma razão social, que não seja de interesse próprio dos donos dos meios, de ainda existirem!

O churrasco da imprensa

Em 1996, o Correio Braziliense fez uma grande revolução e resolveu se desprender do governo, contratou equipe boa, demitiram os estagiários e revolucionaram o jornal com notícias de real interesse público. Adivinhem o que aconteceu? Cresceram consideravelmente suas vendas. Os meios de comunicação do Piauí têm que parar de contratar vários estagiários que nada sabem e deixarem de mão jornalistas formados e mais experientes para fazerem seus portais, jornais etc. Atualmente, contrata-se, no Piauí, apenas um formado para "assinar" o meio e 10 estagiários inexperientes, que fazem jornalismo como acham que é melhor.

Os jornalistas se regozijaram ao irem para o churrasco à imprensa dado pelo empresário João Claudino, onde tinham direito até a sorteio de prêmios. Pergunta-se: existe algo mais vil que dar gracejos para a imprensa? Até "jornalistas" sérios, como Arimáteia Azevedo, em sua coluna diária, elogiavam o feito de João Claudino. Como se pode confiar numa imprensa que adora um presentinho de um senhor que possui filho político?

Defesa de quem está errado

A compra da imprensa no Piauí é descarada e elogiada. A festinha dos Claudino é tida como algo bonito, respeitável, mas não passa de um modo de dar doce na boca dos jornalistas, que rapidamente correm para seus portais e jornais e enchem o ego do empresário com gracejos e babações. Sim, a maioria dos jornalistas do Piauí é feita de babões, gente sem personalidade, que pensa com o bolso, cuja única capacidade de mudar de opinião é quando se muda a fonte do dinheiro recebido. Nada contra o lucro, quando ganho pelo trabalho, mas que o ganho não seja a única justificativa do trabalho, e sim o resultado que o trabalho, principalmente na comunicação, gera para a sociedade.

Por último, a crítica à ignorância: a qualidade do texto da imprensa do Piauí é capenga, paupérrima. Os jornais – a maioria sem revisores nas redações – têm liberdade para jogarem textos com palavras erradas, com erros de concordância, cheios de gírias e expressões populares sem seus devidos significados. Ninguém ousa, testa, arrisca um modo novo de escrever. Afinal, não interesse o modo de escrever, interessa a polêmica que a notícia vai gerar, não é mesmo?

E os portais de notícias menores, sem visibilidade, não estão fora de todas as críticas feitas neste manifesto. Os pequenos querem apenas um espaço, querem entrar no bolo do governo, querem parecer diferentes, mas são mero reflexo do que aprenderam com os grandes. Querem ganhar dinheiro fácil e rápido e nunca, jamais, pensar nos problemas da sociedade. E sabem o que farão quando lerem este artigo: ignoram completamente ou contra-atacam. Mera defesa de quem está errado. Por que não tentam, digamos... ser bons jornalistas para a população?


Fonte: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=464FDS005

A Crise no Quarto: os fantasmas da perfeição

A Crise no Quarto: os fantasmas da perfeição


Vivemos em tempos de crise. A humanidade é uma espécie, como todas, adaptada a um meio ambiente quase sempre hostil: sofrimentos, violência, morte. Habitamos, entretanto, um tipo de meio ambiente distinto das demais espécies: o espaço interior, a alma, a mente, o espírito. Vivemos expectativas, fracassos, inquietações, e a consciência da dor. Os últimos séculos estabeleceram formas novas desses velhos dramas: sonhos políticos, técnicos, científicos, psicológicos e morais, todos marcados pela tentativa de interromper um destino infeliz aparentemente inexorável. Por isso, a crise atual tem marcas específicas: uma delas é sua relação direta com os processos utópicos modernos.
Quando falamos em utopias pensamos imediatamente nos grandes modelos políticos criados a partir da obra de Jean Jacques Rousseau (século 18): revolução social, política e econômica. Todavia, a ideia de utopia é mais antiga e remonta aos renascentistas e à filosofia humanista: o homem é dono de sua vida e pode fazer com ela o que quiser. O sonho da vida perfeita, desde então, virou um fantasma: para chegar à felicidade, basta descobrir as fórmulas. Será? Pode o homem tornar-se perfeito? Tem ele a capacidade de construir um projeto perfeito de futuro? Sua natureza detém os recursos necessários para realizar este projeto? Pode o homem tornar-se pleno? Neste cenário, a modernidade tornou-se o grande produto dos processos utópicos: economia científica, políticas da liberdade e da justiça social, autonomia dos sujeitos.
Normalmente identificamos a “morte das utopias” como a queda do muro de Berlim em 1989: a morte da justiça social plena. Em 2008, outra imagem surgirá no cenário mundial como exemplo de “morte das utopias”: a crise da sociedade baseada no consumo e no mercado como fim de uma história que teria encontrado seu modelo último de aperfeiçoamento no capitalismo pleno.
Mas as utopias só não construíram fantasmas coletivos. Outros fantasmas, com nomes próprios, vieram à noite visitar os sonhos e pesadelos dos indivíduos em suas pequenas vidas comuns. E o que faz o indivíduo sozinho, à noite, no seu quarto, diante desses fantasmas? Para além dos grandes processos políticos e sociais, o que significou, em nosso cotidiano, vivermos sob a tutela de um projeto de perfeição? Como cada um de nós, na solidão da vida e de suas pequenas decisões que formam a malha quase invisível em que respiramos, viveu esta obsessão pela vida perfeita?
Utopias da personalidade, da sexualidade, do amor, da liberdade, do conhecimento, varreram nossas vidas. Talvez a cura passe pelo enfrentamento da imperfeição e do conflito como universo último da vida. Seríamos, afinal, uma pequena alma que sabe mais do que deve, mas nunca tudo o que precisa? Enfim, teríamos diante de nós o risco de sermos um ser sem sentido último e sem certezas? Seria esta uma forma mais livre de viver? A imperfeição como horizonte?

Luiz Felipe Pondé