segunda-feira, 21 de abril de 2008

DEPOIMENTO DE UM DROGADO




Oi, galera

faltou apenas ele falar do forró, hein? rsrsr

Um abraço e se liguem no belo texto.

Depoimento Emocionado de Luis Fernando Veríssimo Sobre Sua Experiência com as Drogas


Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de "experimenta, depois quando você quiser é só parar..." e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", da terra, que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do Chitãozinho e Xororó e em seguida um do "Leandro e Leonardo". Achei legal, uma coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "amigo" e acabei comprando pela primeira vez. Lembro que cheguei na loja e pedi: - Me dá um Cd do Zezé de Camargo e Luciano. Era o principio de tudo! Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um Cd de Axé. Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... Banda Eva, Cheiro de Amor, Netinho, etc. Com o tempo, meu amigo foi me oferecendo coisas piores: É o Tchan, Companhia do Pagode, Asa de Águia e muito mais...

Após o uso continuo eu já não queria saber de coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer os quadris como eu nunca havia mexido antes, então, meu amigo me deu o que eu queria, um Cd do Harmonia do Samba. Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, razão do meu existir. Eu
pensava só nesta parte do corpo, respirava por ela, vivia por ela! Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais. Comecei a freqüentar o submundo e correr atras das paradas. Foi a partir dai que começou a minha decadência. Fui ao show e ao encontro dos grupos Karametade e Só Pra Contrari ar, e até comprei a Caras que tinha o Rodriguinho na capa. Quando dei por mim já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro, meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo. Não deu outra: entrei para um grupo de pagode. Enquanto vários outros viciados cantavam uma musica que não dizia nada, eu e mais outros 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorriamos e fazíamos sinais combinados. Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e pedi a Coletânea "As melhores do Molejão". Foi terrível!!

Eu já não pensava mais!! Meu senso critico havia sido dissolvido pelas rimas miseráveis e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada. Mas a fase negra ainda estava por vir.
Cheguei ao fundo do poço ao limiar da condição humana, quando comecei a escutar popozudas, bondes, tigrões, motinhas e tapinhas. Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido. Quando saia a noite para as festas pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas que queriam me mostrar o caminho das pedras... Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga limpa.
Hoje estou internado em uma clinica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim.


Meu tratamento esta sendo muito duro: doses cavalares de Rock, MPB, Progressivo e Blues. Mas o médico falou que eu talvez tenha de recorrer ao Jazz, e até mesmo a Mozarth e Bach. Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde,por isso tapam a visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não reagir, vai acabar drogado: alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável, distante; vai perder as referencias e definhar mentalmente. Em vez de encher a cabeça com
porcaria, pratique esportes e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte:

* Não ligue a TV no domingo a tarde;
* Não escute nada que venha de Goiânia ou do interior de São Paulo;
* Não entre em carros com adesivos "Fui.....";
* Se te oferecerem um Cd procure saber se o indivíduo foi ao programa da
Hebe ou ao Sabadão do Gugu;
* Mulheres gritando histericamente é outro indicio;
* Não compre um Cd que tenha mais de 6 pessoas na capa;
* Não vá a shows em que os suspeitos façam passos ensaiados;
* Não compre nenhum Cd em que a capa tenha nuvens ao fundo;
* Não compre nenhum Cd que tenha vendido mais de um milhão de cópias no
Brasil, e
* Não escute nada que o autor não consiga uma concordância verbal mínima.

Mas principalmente, duvide de tudo e de todos.

A vida é bela!!!! Eu sei que você consegue!!! Diga não as drogas!!

Luis Fernando Veríssimo

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Estrelas ou Jardins


Estrelas ou Jardins


Fui eu quem levantou a questão do sofrimento dos doentes terminais e, com ela, a difícil questão da eutanásia.
Julgo-me, portanto, na obrigação de pensar essas questões sob o ângulo da ética.
Diariamente nos defrontamos com dilemas éticos porque eles fazem parte do cotidiano da vida.
Ética são os pensamentos que pensamos quando nos encontramos diante de uma situação problemática que nos pergunta:
"Que devo fazer para que a minha ação produza o maior bem possível ou o menor mal possível?"
Essa pergunta pode ser respondida de duas formas diferentes, dependendo da direção do nosso olhar.
Há um olhar que contempla as estrelas e descansa na sua eternidade, perfeição e imutabilidade.
Habitando ao lado das estrelas estão os valores éticos que foram criados mesmo antes que elas e gozam da sua imutabilidade.
Como se fossem "móveis" e "obras de arte" da mansão divina.
Quando surge um problema na terra os olhos procuram a resposta nos céus, morada da verdade eterna de Deus.
Há, entretanto, um outro olhar que não olha para as estrelas por preferir os jardins. Deus começou a sua obra criando as estrelas, mas terminou-a plantando um jardim...
A se acreditar nos poemas sagrados Deus ama acima de tudo, mais que as estrelas, o jardim.
Está escrito: "... e Deus passeava pelo jardim ao vento fresco da tarde..."
Deus ama mais os jardins porque ama mais a vida que as pedras.
Árvores, arbustos, flores são seres vivos.
Nelas não há nada que seja permanente.
Tudo muda sem parar.
Uma folha que estava verde seca e cai.
Uma planta que se planta hoje será arrancada amanhã.
Um galho onde um pássaro fez um ninho apodrece e tem de ser cortado.
O jardim, como a música, tem sua beleza nas constantes e imprevisíveis transformações.
Os astrônomos olham para os céus e podem determinar com precisão a verdade do astro que estão examinando.
Os jardineiros olham para o jardim e não podem determinar nada com precisão.
Porque a vida não é uma estrela.
O jardineiro não olha para as estrelas para decidir sobre o que fazer com o seu jardim.
Ele observa a paisagem, examina cada uma das plantas, o que foi verdade ontem pode não ser verdade hoje, vê as transformações, imagina possibilidades não pensadas, cria novos cenários...
A ética da Igreja Católica é a ética dos olhos que examinam as estrelas em busca da perfeição final eterna.
Não é por acidente que ela não tenha escolhido como símbolo para si mesma um jardim.
Ela escolheu como seu símbolo uma pedra: Petrus...
A ética que nasce da contemplação das estrelas resolve de maneira definitiva e absoluta os dilemas da vida. Nós, que vivemos no tempo ao lado dos jardins (efêmeros), ao nos defrontarmos com um dilema ético temos de nos perguntar:
"O que dizem as estrelas? Que valores estão eternamente gravados nos céus?"
Porque a tarefa dos homem é trazer para a terra a perfeição imutável dos céus.
A palavra eterna dos céus diz o que nós, seres do tempo, temos de fazer.
E assim se resolvem os problemas que a experiência vem colocando através da história:
o homossexualismo, o divórcio, a pesquisa com as células-tronco ( tantas vidas seriam salvas!), o aborto de fetos sem cérebro, a eutanásia.
Porque, examinados os astros, as respostas vieram prontas...
Rubem Alves

quarta-feira, 2 de abril de 2008

"Não sejas demasiado justo"


"Não sejas demasiado justo"

RUBEM ALVES


Essa encruzilhada simples entre o certo e o errado, entre o lado da vida e o da morte, só acontece nos textos de lógica

ERA UM DEBATE sobre o aborto na TV. A questão não era "ser a favor"ou "contra o aborto". O que se buscava eram diretrizes éticas para se pensar sobre o assunto.
Será que existe um princípio ético absoluto que proíba todos os tipos de aborto? Ou será que o aborto não pode ser pensado "em geral", tendo de ser pensado "caso a caso"? Por exemplo: um feto sem cérebro. É certo que ele morrerá ao nascer. Esse não seria um caso para se permitir o aborto, para poupar a mulher do sofrimento de gerar uma coisa morta por nove meses?
Um dos debatedores era um teólogo católico. Como se sabe, a ética católica é a ética dos absolutos. Ela não discrimina abortos. Todos os abortos são iguais. Todos os abortos são assassinatos.
Terminando o debate, o teólogo concluiu com esta afirmação: "Nós ficamos com a vida!"
O mais contundente nessa afirmação está não naquilo que ela diz claramente, mas naquilo que ela diz sem dizer: "Nós ficamos com a vida. Os outros, que não concordam conosco, ficam com a morte..."
Mas eu não concordo com a posição teológica da igreja -sou favorável, por razões de amor, ao aborto de um feto sem cérebro- e sustento que o princípio ético supremo é a reverência pela vida.
Lembrei-me do filme a "Escolha de Sofia". Sofia, mãe com seus dois filhos, numa estação ferroviária da Alemanha nazista. Um trem aguardava aqueles que nele seriam embarcados para a morte nas câmaras de gás. O guarda que fazia a separação olha para Sofia e lhe diz: "Apenas um filho irá com você. O outro embarcará nesse trem..." E apontou para o trem da morte.
Já me imaginei vivendo essa situação: meus dois filhos -como os amo-, eu os seguro pela mão, seus olhos nos meus. A alternativa à minha frente é: ou morre um ou morrem os dois. Tenho de tomar a decisão. Se eu me recusasse a decidir pela morte de um, alegando que eu fico com a vida, os dois seriam embarcados no trem da morte... Qual deles escolherei para morrer? Acho que a ética do teólogo católico não ajudaria Sofia.
Você é médico, diretor de uma UTI que, naquele momento, está lotada, todos os leitos tomados, todos os recursos esgotados. Chega um acidentado grave que deve ser socorrido imediatamente para não morrer. Para aceitá-lo, um paciente deverá ser desligado das máquinas que o mantém vivo. Qual seria a sua decisão? Qual princípio ético o ajudaria na sua decisão? Qualquer que fosse a sua decisão, por causa dela uma pessoa morreria.
Lembro-me do incêndio do edifício Joelma. Na janela de um andar alto, via-se uma pessoa presa entre as chamas que se aproximavam e o vazio à sua frente. Em poucos minutos as chamas a transformariam numa fogueira. Para ela, o que significa dizer "eu fico com a vida"? Ela ficou com a vida: lançou-se para a morte.
Ah! Como seria simples se as situações da vida pudessem ser assim colocadas com tanta simplicidade: de um lado a vida e do outro a morte. Se assim fosse, seria fácil optar pela vida. Mas essa encruzilhada simples entre o certo e o errado só acontece nos textos de lógica. O escritor sagrado tinha consciência das armadilhas da justiça em excesso e escreveu: "Não sejas demasiado justo porque te destruirás a ti mesmo..."